Morreu nesta quinta-feira (29), aos 87 anos, o ex-ministro da Agricultura, Alysson Paolinelli. À frente da Agricultura em um período em que o país era importador de alimentos, Paolinelli buscou o desenvolvimento nacional com base em três pontos básicos para a mudança desse cenário: ciência, tecnologia e capacitação humana. Ele foi ministro de 1974 a 1979, no governo de Ernesto Geisel.
O ex-ministro via a necessidade do desenvolvimento de uma agricultura voltada para a área tropical, evolução que deu certo e o país passou a ser referência mundial nesse tipo de agricultura.
Na avaliação dele, o país precisava de uma agricultura voltada para os trópicos na década de 1970 para sair da dependência externa de alimentos.
No seu período de governo, implantou programas como a Embrater, Polocentro e Prodecer para, com ciência e tecnologia, levar a difusão do conhecimento aos produtores, como sempre afirmava.
Nos últimos anos, ainda participava ativamente das discussões sobre política agrícola e sempre defendeu a necessidade do desenvolvimento de um programa para os biomas tropicais, visando a sustentabilidade e a inclusão do produtor.
“É preciso, porém, colocar a ciência antes de qualquer tipo de produção. Ela definirá o que pode ser mexido nos diversos biomas, mas sempre com as regras dela”, afirmou à Folha de S.Paulo.
Apesar dos avanços da agricultura tropical, Paolinelli sempre dizia que ainda havia muito por fazer, principalmente para os produtores que ainda não participavam dessa revolução agrícola.
Ciente das dificuldades dessa evolução, afirmou à Folha, quando indicado ao Prêmio Nobel, em 2021, que “temos problemas e temos de reconhecê-los. Ainda há produtores em um sistema extrativista e de subsistência, cuja renda não atinge dois terços de um salário mínimo”.
A expectativa em torno de um Nobel, associada ao nome de Paolinelli, agora acaba.
Além de ministro, ele teve importante participação na política agrícola brasileira. Professor, secretário de Agricultura de Minas Gerais por três vezes, e deputado federal no período da Constituinte, abriu caminho para a saída do Brasil de uma dependência alimentar para a posição de um dos principais exportadores de alimentos.
Imbatível nas exportações de café há décadas, o país acrescentou também nessa lista de liderança mundial soja, açúcar, suco de laranja, carne bovina, carne de frango e, em alguns anos, como ocorreu em 2012 e em 2022, chegou a liderar as exportações mundiais de milho.
Essa revolução agrícola veio com base na ciência, na tecnologia e na inovação, afirmou Paolinelli à Folha de S.Paulo. Ele criou 26 representações da Embrapa em sua passagem pelo Ministério da Agricultura nas diversas regiões do país.
Defendia que, com pesquisas objetivas, é necessária a definição dos limites do uso dos biomas, sem degradar os recursos naturais. Além disso, utilizar as formas de manejo que mantenham esses recursos preservados.
Avaliando o que ocorreu com a agricultura brasileira nas últimas décadas, o ex-ministro afirmava que ainda há muito por fazer. A agricultura tropical trouxe vantagens comparativas para o país, mas se faz necessário um avanço para a bioeconomia.
O ex-ministro era presidente executivo da Abramilho (Associação Brasileira dos Produtores de Milho). Neste setor, teve uma grande atuação para que o país atingisse recordes de produção do cereal atualmente.
MAURO ZAFALON / Folhapress