SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Morreu nesta terça-feira (24), aos 87 anos, de falência múltipla de órgãos, Roberto Figueiredo do Amaral, lembrado como uma das personalidades mais influentes da história da construção civil no Brasil. Por três décadas, de 1969 a 1998, Amaral trabalhou na Andrade Gutierrez. O período em que esteve no comando da empreiteira em São Paulo, a partir de 1985, marcou o apogeu da empresa no estado.
Sua gestão foi responsável pela construção da hidrelétrica Três Irmãos, por trechos da rodovia Carvalho Pinto e pela reurbanização do Vale do Anhangabaú. No auge, nos anos de 1990, comandou cerca de 10.500 funcionários, e São Paulo chegou a concentrar cerca de 70% de todo o faturamento da construtora, incluindo o resultado no mundo.
“Hoje, perdemos o amigo Roberto Amaral, um líder que engrandeceu a cultura empresarial brasileira. Deixa um vazio”, escreveu à Folha o ex-presidente Michel Temer, que se tornou próximo a Amaral.
“Roberto Amaral foi uma das pessoas mais generosas e inteligentes que conheci na minha vida. Irônico, leal, amigo dos amigos, vai fazer falta. Meus sentimentos a toda a família”, afirmou o também amigo José Luis Oliveira Lima, advogado criminalista mais conhecido como Juca.
Amaral nasceu em Botucatu (SP), em 18 de fevereiro de 1937. A família se mudou para Guaratinguetá quando ele ainda era criança. O pai, que era delegado, morreu quando ele tinha nove anos. Cursou o internato do Colégio São Bento, na capital paulista. Chegou a iniciar, mas não concluiu, o curso de direito.
Tinha 32 anos quando entrou na Andrade Gutierrez como assistente da diretoria em São Paulo, na época uma praça irrelevante para empreiteira, que era forte em Minas Gerais. Ao assumir como diretor-geral no estado, também se tornou membro da alta administração da companhia, conquistando ascendência nacional.
De personalidade marcante e envolvente, quem o conheceu conta que tinha incomparável capacidade de tecer relações entre o mundo empresarial e a cena política, tornando-se próximo das personalidades mais influentes da República, não importava o partido. Conta-se que, para demonstrar que não tinha preferências políticas, tirava do bolso e mostrava uma lista com nomes, do PSDB ao PT, que já tinham viajado nos jatinhos da empreiteira.
Paulo César Farias, tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor, chamava-o de mestre. Orestes Quércia, que foi governador de São Paulo, visitava seu haras e a casa em Ilhabela, no litoral paulista. Foi amigo do ex-prefeito Jânio Quadros, lhe dando ajuda financeira até o fim da vida. Pagou os tratamentos médicos e o aluguel do flat em que Jânio vivia.
O livro “Notícias do Planalto”, do jornalista Mario Sergio Conti, traz histórias que detalham a sua habilidade nos bastidores do poder. Um dos trechos conta como se aproximou da então ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello, para contornar o risco de intervenção federal no Banestado, em 1990, e impedir que a candidatura de Luiz Antônio Fleury Filho fosse abalada.
Em 1995, o executivo teve sangue-frio para lidar com o sequestro da filha de 18 anos, que ficou cinco dias em cativeiro e foi libertada após o pagamento do resgate.
Ao deixar a construtora, em 1998, chegou a morar fora. Esteve na Suiça, em Bali e na Espanha. Também tornou-se consultor, reconhecido pela capacidade de frequentar círculos mais exclusivos. Em entrevista à revista piauí, em 2007, para o seu perfil, o banqueiro Daniel Dantas contou à jornalista Consuelo Dieguez que buscou o assessoramento de Amaral justamente pela sua capacidade de fazer pontes entre empresas e governos.
“Eu precisava de alguém que me explicasse como funciona o Brasil do poder, e o Roberto era o homem ideal”, declarou.
Por causa dessa aproximação, em 2009, aos 72 anos, Amaral foi um dos 13 indiciados no inquérito da Polícia Federal dentro da Operação Satiagraha, que investigou as atividades do grupo Opportunity. Não deu em nada, mas rendeu uma boa história.
Uma equipe da Polícia Federal chegou a bater no seu apartamento para fazer busca e apreensão e foi recebida com sua usual amabilidade. Era um apreciador de obras de arte. Tinha Portinari, Caribé, Volpi, Bonadei. Ao perceber que um dos agentes parecia interessado por suas gravuras de Picasso, passou a discorrer sobre as obras e fez uma espécie de tour cultural em plena batida, com a devida atenção dos ouvintes.
O velório está marcado para a manhã desta quinta-feira (26), no Horto da Paz, em São Paulo. Amaral deixa a esposa, Rose, cinco filhos, Homero, Gabriela, Beto, Rodrigo e Juliana, e sete netos Ana, Raul, Cesar, João Pedro, Marco Antonio, Bernardo e Lis.
ALEXA SALOMÃO / Folhapress