Morre Domenico De Masi, sociólogo que pensou o ‘ócio criativo’, aos 85 anos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O sociólogo italiano Domenico De Masi morreu aos 85 anos, em Roma, confirmou a imprensa italiana. De Masi é autor do conceito de “ócio criativo”, com um livro de mesmo nome que foi best-seller.

Segundo sua teoria, o tempo livre não é algo negativo, mas imprescindível para estimular a criatividade individual e aprimorar a adaptação na sociedade globalizada e pós-industrial, marcada pelo rápido crescimento tecnológico e do setor de serviços.

A prática do “ócio criativo” seria possível através da união entre outros três conceitos definidos por De Masi.

O trabalho, caracterizado pelo cumprimento de tarefas necessárias, o estudo através das ferramentas proporcionadas pela digitalização e, por fim, o “jogo”, lazer necessário para evitar a mecanização do trabalho.

De Masi nasceu em Rotello, pequena cidade da região de Molise, no sul da Itália. Começou a escrever aos 19 anos sobre sociologia do trabalho e, aos 22, começou a lecionar na Universidade de Nápoles. Mais tarde, tornou-se docente da renomada Universidade de Roma La Sapienza.

O sociólogo era amigo pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e chegou a visitá-lo na cadeia, em Curitiba. Quando o atual presidente brasileiro foi libertado, De Masi disse que sua fama no exterior continuava intacta e que Lula ainda era uma das maiores lideranças mundiais.

Sua admiração pelo Brasil lhe rendeu o título de cidadão honorário do Rio de Janeiro, em 2010, e chegou a frequentar o arquiteto Oscar Niemeyer a o ex-ministro da Educação de Lula, Cristovam Buarque.

Em seu livro “O Futuro Chegou”, de 2014, De Masi se dedicou a analisar o modelo de sociedade do Brasil. Segundo ele, após ser obrigado a copiar os sistemas Europeu e dos Estados Unidos durante séculos, o país latino-americano tinha a chance de desenvolver seu próprio modelo de sociedade diante da crise americana e do velho continente.

À Folha, o sociólogo italiano chegou a dizer que o Brasil tem um pé atrás com a idealização da eficiência e da produtividade propagadas pelos países ricos, o que ele considerava algo positivo. Tal resistência brasileira se deveria à influência indígena, que ele elogiava.

“Os americanos espalharam pelo mundo a cultura do ‘manager’. A Itália se americanizou, por exemplo. Até na cultura. Hoje, lá, só há rock e cinema americano. Vocês têm Bossa Nova, têm novela”, disse ele.

Para De Masi, pensar é muito mais importante do que trabalhar. No mundo ideal, tudo que não envolva criatividade será feito por máquinas, libertando o homem.

Redação / Folhapress

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