SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-presidente da Itália Giorgio Napolitano, símbolo de estabilidade para o país, morreu nesta sexta-feira (22), aos 98 anos.
Definido pelo jornal local Corriere della Sera como “um anglo-saxão num país de sangue quente” devido a seu pragmatismo e espírito reformista, ele havia sido eleito pela primeira vez em 2006 e ficou no cargo até o início de 2015.
Na Itália, país com um sistema parlamentarista, o presidente geralmente cumpre um papel simbólico. Mas a turbulência que marcou o período em que Napolitano foi chefe de Estado fez com que ele assumisse uma postura ativa no cargo mediação que lhe rendeu críticas de opositores, mas que foram relevantes em momentos-chave da política nacional.
Durante seu primeiro mandato de sete anos, o político lidou com as renúncias dos primeiros-ministros Romano Prodi, em 2008, e Silvio Berlusconi, em 2011 ano em que a Itália, então terceira maior economia da zona do euro, atravessava a grave crise da dívida.
Nesse período, Napolitano usou seu cargo para evitar um aprofundamento da recessão ao nomear o ex-tecnocrata da Comissão Europeia Mario Monti para liderar o governo após a renúncia de Berlusconi. Dois anos depois, ele superou outro impasse ao instalar uma grande coalizão sob o político de centro-esquerda Enrico Letta depois de uma eleição parlamentar inconclusiva.
O convite a Letta era a quarta tentativa do então presidente para dar fim a um impasse que durava dois meses. A crise havia começado após nenhum grande partido obter maioria no pleito para formar um governo próprio.
Por conta do último imbróglio, ele decidiu concorrer novamente ao cargo e foi reeleito, tornando-se o primeiro líder a ocupar duas vezes a Presidência na Itália. Durante seu discurso de posse, porém, foi especialmente duro com a classe política de acordo com ele indiferente às exigências do país.
Napolitano anunciou que permaneceria na cadeira apenas até o país se estabilizar e renunciou em janeiro de 2015, dando como justificativa sua idade. Na época, aos 89, disse que, com a saída, poderia se dedicar mais à família, algo que queria havia anos.
Políticos de diferentes orientações ideológicas lamentaram a morte nesta sexta. Giorgia Meloni, líder do partido ultradireitista Irmãos de Itália e primeira-ministra desde outubro de 2022, manifestou as “mais profundas condolências” à família do ex-presidente. Para Ignazio La Russa, correligionário de Meloni e presidente do Senado, sua morte “é um luto para toda a Itália”.
Já o atual presidente da República, Sergio Mattarella, lembrou do compromisso de Napolitano com a União Europeia. O ex-presidente foi deputado no Parlamento Europeu, onde travou “importantes batalhas por desenvolvimento social, paz e progresso na Itália e na Europa”, segundo Mattarella.
Em uma mensagem de condolências à mulher de Napolitano, o papa Francisco afirmou que o ex-presidente “manifestou grandes dons intelectuais e uma paixão sincera pela vida política italiana”. “Lembro com gratidão das reuniões pessoais que tive com ele, durante as quais apreciei sua humanidade e visão ao tomar escolhas importantes com retidão, especialmente em momentos delicados para a vida do país”, afirmou o líder católico.
Napolitano estabeleceu uma relação próxima com papa Bento 16, antecessor de Francisco, e foi uma das poucas pessoas avisadas antecipadamente de sua inesperada renúncia, em fevereiro de 2013.
Nascido em Nápoles durante a ditadura de Benito Mussolini, em 29 de junho de 1925, o ex-presidente combateu o regime fascista em seus anos como universitário e entrou para o Partido Comunista Italiano em 1945. Ele seria eleito pela primeira vez oito anos depois, como deputado.
O começo de sua trajetória política foi marcado pelas tentativas de encaixar o comunismo na social-democracia europeia. Anos depois, quando a sigla comunista foi dissolvida, em 1991, Napolitano foi para o Partido Democrático de Esquerda e deslanchou como a figura reformista pela qual seria reconhecido. Ele ocuparia ainda as cadeiras de presidente da Câmara de Deputados e de ministro do Interior.
O ex-presidente deixa a mulher, Clio Maria Bittoni, e dois filhos, Giovanni e Giulio.
Redação / Folhapress