WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O atentado do Hamas contra Israel, em 7 de outubro de 2023, reconfigurou as regras da região. O ataque, diz o analista iraquiano Kawa Hassan, fez com que Tel Aviv decidisse cruzar o que eram até então suas linhas vermelhas. Membro do centro de pesquisa americano Stimson Center e especialista em Oriente Médio, Hassan diz que um ataque direto contra a liderança do Hezbollah no Líbano era impensável até o ano passado.
Na sexta (27), porém, Israel matou Hassan Nasrallah, que chefiava a milícia libanesa desde 1992. “Todos na região estão em choque”, diz o especialista. “Ninguém esperava que Israel decidisse ir tão longe.”
A surpresa está relacionada ao fato de que Nasrallah era uma das figuras centrais do chamado “eixo de resistência”, que antagoniza com Israel e Estados Unidos. Hassan sugere, nesse sentido, que Nasrallah era menos importante apenas do que o líder supremo do Irã, Ali Khamenei. Sua influência ia além das fronteiras libanesas, espalhando-se em especial na Síria.
Israel não agiu apenas contra ele. Em 31 de julho, matou também Ismail Haniyeh, líder do Hamas. Outros grandes inimigos de Israel morreram nestes meses, incluindo iranianos que agiam no Líbano.
Ao cruzar as linhas vermelhas, Tel Aviv deixou o Irã “exposto e humilhado”, diz o analista. É improvável que Teerã decida se vingar agora. “Sabem que Israel está no ápice de sua euforia e que irá atrás deles”, afirma. Por outro lado, caso não reaja, a liderança iraniana vai perder sua credibilidade.
A pergunta, agora, é se Israel irá atacar também Khamenei. Não existe um alvo maior. Há alguns meses, a resposta seria um “não”. “Agora, já não dá para descartar nenhum cenário”, afirma Hassan.
Com o Hamas e o Hezbollah desarticulados, o Irã conta apenas com a milícia iemenita houthi na região. Não se trata, porém, de um substituto com o mesmo peso do Hezbollah.
“O Hezbollah é resultado de um contexto particular que não pode ser replicado”, diz Hassan, referindo-se à sua criação nos anos 1980 em resposta à invasão israelense do Líbano. “Eles não podem ser substituídos.”
DIOGO BERCITO / Folhapress