Mortes teriam sido evitadas se Líbia não vivesse caos político, diz agência

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Milhares de mortes nas inundações que atingiram a Líbia poderiam ter sido evitadas se o país não fosse rompido politicamente e se o Estado investisse em um serviço meteorológico funcional, capaz de emitir alertas, disse nesta quinta-feira (14) o chefe da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Petteri Taalas.

Segundo Taalas, o poder público na Líbia “não funciona normalmente”, o que restringiu um trabalho de prevenção antes da catástrofe e agora dificulta os esforços de resgate. O país do Norte da África é dividido entre governos a leste e a oeste —este, reconhecido pela comunidade global e com sede na capital, Trípoli— como consequência de revoltas e conflitos que se prolongam desde 2011.

“As inundações vieram e não houve retirada dos moradores porque não havia sistemas de alerta adequados”, disse ele. “[Se os sistemas fossem eficientes] as autoridades de emergências teriam sido capazes de realizar a retirada das pessoas. E poderíamos ter evitado a maioria das vítimas humanas.”

Ao menos 5.300 mortes foram confirmadas no país após a passagem da tempestade tropical Daniel e o rompimento de duas barragens, que provocaram uma enxurrada. A cidade de Derna, no leste, foi a mais atingida, e o prefeito Abdulmenam al-Ghaith disse nesta quarta (13) que o número de óbitos no município pode chegar a 20 mil —milhares de pessoas continuam desaparecidas quatro dias após o incidente.

Taalas afirmou que a OMM já tinha entrado em contato com as autoridades líbias para ajudá-las na reforma do sistema meteorológico, mas que os esforços foram dificultados por ameaças à segurança. “Como a situação de segurança no país é complicada, é difícil ir lá e melhorar a situação”, disse ele.

O chefe da OMM disse que parte da rede de observação meteorológica na Líbia foi destruída durante conflitos internos. O país vive instabilidade desde o levante apoiado pela Otan, a aliança militar ocidental, em 2011, que levou no mesmo ano à morte do ditador Muammar Gaddafi, na esteira da Primavera Árabe.

A ação deu início a disputas entre milícias rivais. Os tumultos reduziram a produção de petróleo, principal riqueza nacional, e criaram regiões de refúgio para grupos extremistas. Também foram o gatilho para a criação de um governo paralelo, liderado pelo militar Khalifa Haftar, que atualmente domina a costa leste, mais atingida pelas tempestades.

Além da fratura política, a tragédia expôs falhas na infraestrutura do país africano. No ano passado, um pesquisador havia alertado para o fato de que a falta de manutenção das barragens em Derna tornavam a cidade vulnerável a desastres. “Se ocorrer uma grande inundação, o resultado será catastrófico”, escreveu Abdelwanees A. R. Ashoor, especialista em hidrologia ligado à Universidade Omar Al-Mukhtar.

A primeira barragem rompida fica a 11,5 km do centro de Derna, e autoridades locais anunciaram uma investigação para apurar as causas do incidente. A outra estrutura rompida fica no começo do perímetro urbano. A enxurrada de água e lama pegou os moradores de surpresa na noite de domingo (10) —muitos estavam dormindo. Testemunhas compararam as inundações a um tsunami. Casas, veículos e pontes foram arrastados em direção ao mar.

As autoridades do país estimam que o número de desaparecidos seja de 10 mil —a agência de coordenação de ajuda humanitária da ONU (Ocha, na sigla em inglês) situa a cifra na casa dos 5.000. Outro escritório da ONU, a OIM (Organização Internacional para as Migrações) atualizou o número de pessoas desabrigadas para 30 mil.

“As estradas estão bloqueadas e destruídas, dificultando o acesso à ajuda humanitária”, disse em nota a OIM, acrescentando que pontes sobre o rio Derna, que ligam a parte oriental da cidade à ocidental, ruíram.

Quatro após a catástrofe, socorristas continuam encontrando sobreviventes. O premiê líbio, Abdulhamid al-Dbeibah, baseado em Trípoli, disse nesta quinta que mais de 300 pessoas, incluindo 13 crianças, foram resgatadas por socorristas após as enchentes devastadoras.

Já o prefeito de Derna, Abdulmenam al-Ghaithi, manifestou preocupação com um possível surto de doenças causadas por corpos em decomposição. “Precisamos de equipes especializadas na recuperação de corpos”, disse ele à agência de notícias Reuters. “Temo que a cidade seja infectada por uma epidemia devido ao grande número de corpos sob os escombros e na água.”

Redação / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS