SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A polícia do Paquistão anunciou nesta segunda-feira (31) que subiu para 54 o número de mortos em decorrência de um atentado a bomba em um comício político no noroeste do país, ocorrido na véspera. Autoridades manifestaram o receio de que o saldo possa ser ainda pior, já que dezenas de vítimas continuam internadas em estado grave.
A explosão atingiu centenas de pessoas que ouvia discursos de integrantes do partido Jamiat Ulema-e-Islam (JUI-F), conhecido por elos com o islamismo radica. Nenhum grupo assumiu a autoria da ação, que provocou pânico e aumentou os temores de novos episódios de violência antes das eleições gerais no país, previstas para outubro.
O governo prometeu buscar outros responsáveis pelo atentado. Em comunicado, uma ala de contraterrorismo da polícia do Paquistão disse suspeitar que o Estado Islâmico (EI) esteja por trás do ato de terrorismo, mencionando que um braço local da organização extremista realizou ações recentes contra o JUI-F. No ano passado, o grupo afirmou estar por trás de ataques contra estudiosos religiosos filiados à sigla, que possui uma rede de mesquitas e madrassas no norte e no oeste do país.
Shaukat Abbas, vice-inspetor-geral da polícia, disse que 12 dos mortos eram crianças com menos de 12 anos. Segundo o jornal americano The New York Times, o ataque também matou Maulana Ziaullah, líder regional do JUI-F. No total, mais de 130 pessoas ficaram feridas -várias em estado grave
Um vídeo gravado momentos antes da explosão mostra centenas de homens sentados sob uma tenda enquanto os dirigentes do partido discursavam à multidão. Quando um líder distrital subiu ao palco, os militantes se levantaram, gritando: “Allah é grande”, segundo Sharifullah Mamond, 19, que participava do comício, mencionado pelo New York Times. Então, uma explosão atingiu a multidão.
Testemunhas descreveram o local como uma “cena do juízo final”. “Eu vi mortos e feridos ao meu redor. Foi uma situação muito ruim. Foi como o dia do juízo final. Logo após a explosão houve pânico e caos, com pessoas correndo por todos os lados”, disse à rede britânica BBC Imran Mahir, um dos organizadores do comício que estava sentado no palco no momento da explosão. “Não sei como não me machuquei.”
O atual premiê paquistanês, Shehbaz Sharif, condenou a explosão deste domingo, chamando-a de ataque ao processo democrático, e prometeu que os responsáveis serão punidos. A embaixada dos Estados Unidos em Islamabad e o ex-primeiro-ministro do Paquistão Imran Khan também repudiaram a ação.
Milhares de pessoas acompanharam sob forte comoção o enterro de algumas das vítimas na região de Bajur nesta segunda. As autoridades ainda declararam uma emergência de saúde no hospital distrital, que lida com dezenas de feridos.
As motivações do ataque permanecem incertas. O JUI-F é liderado pelo clérigo linha-dura e político Fazlur Rehman, que não estava no comício realizado na província de Khyber Pakhtunkhwa . Apoiador do governo talibã no Afeganistão, ele já foi alvo de ataques anteriormente, em 2011 e 2014.
O Paquistão tem observado um ressurgimento de ataques de militantes islâmicos desde o ano passado, quando um cessar-fogo entre o grupo Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP) e Islamabad foi rompido. No entanto, a maioria dos ataques recentes tem sido direcionada a forças de segurança.
Em janeiro, mais de 90 policiais foram mortos em um atentado a uma mesquita em Peshawar -o local sagrado ficava em um complexo que abriga vários prédios oficiais, incluindo as sedes das forças de segurança. Na ocasião, também nenhum grupo assumiu a autoria da ação.
Os ataques se concentram nas regiões que fazem fronteira com o Afeganistão, e Islamabad, inclusive, diz que algumas ofensivas são planejadas em território afegão, o que Cabul nega.
Além de enfrentar um agravamento da situação de segurança desde que o Talibã retomou o poder no Afeganistão, o país lida com inflação e desemprego, que vêm se avolumando e podem ter levado cerca de 350 migrantes paquistaneses a morrer em um barco que naufragou em junho, em águas gregas.
Redação / Folhapress