Mostra de Carlos Cruz-Diez traz labirinto cromático que se desdobra pelo olhar

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um labirinto em suspenso, composto por estruturas de PVC com tiras coloridas translúcidas presas ao teto, permite ver a transmutação da cor conforme o deslocamento no espaço. “Laberinto de Transcromía Rachel” (2017) é um convite para imergir na obra do artista venezuelano Carlos Cruz-Diez (1923-2019), um dos principais nomes mundiais da arte cinética, na individual que leva seu nome na galeria Simões de Assis.

O artista propunha um jogo por meio do olhar, onde a cor se modifica conforme a distância, o diálogo com a luz e as formas geométricas. Assim, as mais de dez obras expostas multiplicam-se aos olhos do espectador, compondo formatos e cores que se mesclam e se recriam.

Um exemplo dessa experiência é “Physichromie Panam 247”, de 2015, que revela uma série de losangos coloridos quando observada de frente e adquire um tom azul-marinho, sem as formas de antes, quando vista de lado. Na obra 214, da mesma série, as cores se fundem numa coloração alaranjada, desfazendo a separação dos tons de azul e vermelho quando o espectador se coloca diante da obra.

“É uma exposição imersiva. Em diálogo com o propósito do artista. Ele sempre quis criar um novo sentimento [diante da experiência artística]”, afirma Guilherme Simões de Assis, diretor da galeria que completa 40 anos.

Nascido em Caracas, capital da Venezuela, Cruz-Diez cresceu sob a influência da arte figurativa, de caráter social, que marca a arte da América Latina na primeira metade do século 20. Em 1955, viajou a Paris -onde terminaria seus dias, internacionalmente reconhecido, em 2019. Na capital francesa, visitou a mostra Le Mouvement, na galeria Denise René, espaço importante também para a arte geométrica no Pós-Guerra.

Hoje histórica, a exposição de 1955 é considerada o início da arte cinética, uma proposta que reinventou a arte abstrata dentro de uma forma concreta, propondo novas formas de interação e experiência com o público, a grande ambição dos artistas na segunda metade do século 20.

A mostra parisiense representa também a introdução de Cruz-Diez, então com 32 anos, a essa nova linguagem e à busca pelas potencialidades da cor em movimento.

Dessa mesma revolução artística, fizeram parte também seu conterrâneo, Jesús Rafael Soto (1923-2005), o argentino Antonio Asis (1932-2019) e o brasileiro Abraham Palatnik (1928-2020). As obras dos quatro artistas foram reunidas em 2022 na exposição “A Percepção Cinética na América Latina”, na unidade curitibana da Simões de Assis.

Cruz-Diez dedicou-se a essa pesquisa até o fim de sua vida. Em seu ateliê, junto de seus assistentes, estabelecia cálculos para a composição das cores. “Ele era muito racional”, afirma Assis.

Mas nem tudo era matemática, conta o galerista. Parte do trabalho era pautado na tentativa e erro até se chegar à forma final para obter o final ótico e cromático desejado. Do mesmo modo, diz Assis, “o artista foi se aprimorando junto com a tecnologia”. Como quando descobre a possibilidade de efeitos cromáticos da impressão, por meio da serigrafia. “A impressão consegue dar um efeito que a mão não daria. Ele estava sempre querendo pensar o material [ideal] para dar o efeito ótico”, explica.

Reunindo desde séries de impressões, onde se vê a cor em estado estático dentro de uma forma geométrica, até parte das obras finais de Cruz-Diez, a exposição conduz o público por meio da evolução de um artista fiel a um propósito: investigar a cor em movimento e transformação, em diálogo com o olhar e o tempo, rompendo os limites cromáticos e geométricos e da própria experiência artística.

Carlos Cruz-Diez

Quando Seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 15h.

De sáb. (24) a 12 de outubro

Onde Galeria Simões de Assis – al. Lorena, 2050, São Paulo

Preço Grátis

DANILO THOMAZ / Folhapress

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