Mostras em Paris registram avanço tecnológico do paradesporto

PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – “Uma corrida muito original acaba de ocorrer em Nogent-sur-Marne. O sr. Viard lançou um desafio a todos os pernas-de-pau, e 25 responderam a seu chamado.” Assim o Petit Journal parisiense, de 24 de março de 1895, descrevia o que talvez seja a mais antiga competição de paradesporto de que se tem registro.

O percurso de 200 metros foi vencido por um certo Roulin, que perdeu a perna em um acidente de trabalho, com o tempo (segundo a revista) de 30 segundos.

Curiosidades como essa podem ser encontradas em diversas exposições em cartaz atualmente em Paris, durante as Paralimpíadas. Com o objetivo de conscientizar o público para a inclusão, elas também mostram a evolução da tecnologia em mais de um século de paradesporto.

A principal dessas mostras está no Panthéon, um dos monumentos mais conhecidos da capital, onde estão sepultados grandes homens e mulheres da história francesa, como o filósofo Voltaire e a artista Josephine Baker. O espaço foi reservado para “Histórias Paralímpicas – da Integração Esportiva à Inclusão Social” até o próximo dia 29.

É no Panthéon que se toma conhecimento da curiosa corrida de pernas-de-pau de 1895, mas há outras relíquias, como uma cadeira de rodas usada em provas na década de 1920, a ata de fundação do Comitê Paralímpico Internacional, em 1989, e até uma Barbie cadeirante paralímpica, vestida com o uniforme dos Estados Unidos, lançada na época dos Jogos de Sydney, em 2000.

“O importante é lançar luz sobre a história do movimento paralímpico ao entrarmos em um novo período na história do paradesporto, que vem fazendo uma revolução para as pessoas com deficiência, seja na visibilidade, seja no acesso a novos equipamentos”, disse a francesa Ludivine Munos, 44, três vezes ouro na natação paralímpica e hoje comentarista dos Jogos para a TV francesa.

Munos recordou que em sua primeira participação nos Jogos, em Atlanta-96, “ninguém falava a palavra ‘paralímpico’ nem entendia o interesse de praticar esporte com deficiência”. “Hoje, todo o mundo sabe do que falamos”, celebrou.

“Até os anos 1920 ou 1930, havia uma cultura [do paradesporto], por assim dizer, como exibição de circo”, explicou Sylvain Ferez, professor da Universidade de Montpellier e curador da mostra. “Para fugir disso, estruturou-se um discurso médico, do esporte como reeducação, e, enfim, nos anos 1950 ou 1960, começou-se a entender que era possível ter visibilidade nas competições esportivas sem esse imaginário.”

Para essa evolução da mentalidade, contribuiu muito o progresso técnico. Se no Panthéon a cadeira de rodas dos anos 1920 chama a atenção pelo aspecto rudimentar, em outra exposição, na Casa da Cultura do Japão em Paris, bem perto da Torre Eiffel, é a modernidade que impressiona.

Como seria de esperar em um país conhecido pela tecnologia avançada, a mostra “O paradesporto no Japão, ontem e hoje”, que vai até o próximo dia 14, apresenta as inovações das empresas japonesas na fabricação de material paradesportivo.

Uma cadeira fabricada por duas empresas japonesas, OX e Toyota, para os Jogos de Tóquio, em 2021, foi batizada de “bólido de corrida”: a fibra de carbono a torna mais leve, rolamentos especiais mantêm a velocidade das rodas, e o design leva em conta a postura exata do atleta.

Com o “bólido”, o para-atleta Tomoki Suzuki conquistou uma medalha de bronze em Tóquio. Em Paris, ele disputa os 1.500 m e a maratona na categoria T54 (corrida em cadeira de rodas).

A exposição no Panthéon é a única com cobrança de ingressos (20,50 euros, cerca de R$ 130). A da Casa da Cultura do Japão tem entrada gratuita, assim como outras espalhadas pela capital francesa.

No parque Buttes-Chaumont, um dos mais bonitos de Paris e raramente incluído nos roteiros turísticos convencionais, uma exposição da fotógrafa Francesca Clayton, “Different is beautiful” (“Diferente é bonito”), apresenta a beleza de corpos com próteses e deficiências.

“Na adolescência, quando eu passeava com uma amiga com paralisia cerebral, ficava irritada com os olhares. Então, ela me explicou que era normal olharem para ela: se isso me incomodava tanto, era porque eu mesma tinha dificuldade em aceitar a deficiência dela”, disse a fotógrafa.

No museu Orangerie, do Senado francês, no Jardim de Luxemburgo, 30 artistas com deficiência expõem, até o próximo dia 8, obras cujo tema é o poder terapêutico da arte e do esporte.

Além disso, diversas estações de metrô e trem na cidade estão decoradas com fotos alusivas aos esportes paralímpicos.

ANDRÉ FONTENELLE / Folhapress

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