Motim é só o primeiro golpe para desestabilizar a Rússia, diz analista russo

BRASÍLI, DF (FOLHAPRESS) – O motim do Grupo Wagner iniciado nesta sexta (23) contra o governo de Vladimir Putin é só o começo dos problemas políticos decorrentes do prolongamento da guerra da Rússia na Ucrânia, embora não haja risco imediato para o presidente russo.

À Folha, por mensagem de texto, Ruslan Pukhov, diretor do Centro de Análise de Estratégias e Tecnologias de Moscou, um dos mais respeitados analistas militares da Rússia, afirma que “o primeiro golpe da desestabilização veio antes do esperado, e os riscos só vão crescer”.

“A crise mostra que as esperanças de parte da elite russa de que uma guerra mais longa possa ser benéfica ao país são uma ilusão perigosa. O prolongamento do conflito traz enormes riscos políticos domésticos.”

Ele faz um paralelo com o golpe fracassado do comandante do Exército russo em setembro de 1917, o general Lavr Kornilov. Em um episódio obscuro, o militar tentou sublevar forças contra o governo provisório que havia derrubado o czar no começo do ano, mas acabou derrotado.

Ele ajudou, contudo, a enfraquecer politicamente o regime de Alexander Kerenski, que acabou tombado por um golpe dado pelos radicais bolchevistas em outubro, levando à criação da União Soviética.

Não que Pukhov veja um cenário tão dramático, mas ele diz crer no risco de enfraquecimento do governo. “Em princípio, não acredito no sucesso de nenhuma ação fora de Moscou. Um golpe na Rússia só pode ocorrer na capital, qualquer outra coisa está destinada ao fracasso.”

Em relação às origens da crise, o analista as situa no crescimento do Wagner, que começou modestamente em 2014 e hoje é um pequeno exército, maior do que as forças de muitos países.

“O problema todo foi a falha no desenvolvimento militar, a inabilidade de criar Forças Armadas efetivas. Aí tiveram de criar seus prepostos militares privados. Desde o começo, era óbvio que criar um Exército paralelo trazia riscos.”

O líder do Wagner, Ievguêni Prigojin, agiu agora “movido pelo entendimento de que ele estava sendo jogado no canto e que perderia controle” sobre o grupo mercenário, diz Pukhov.

Ele afirma que isso ficou claro no movimento do ministro da Defesa, Serguei Choigu, de obrigar as forças irregulares a assinarem contratos com a pasta. Choigu, velho rival de Prigojin, foi apoiado por Putin na ação. “Ele [o agora rebelde] simplesmente não quis afundar no oblívio.”

IGOR GIELOW / Folhapress

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