Motoboy negro agredido no RS disse que se sentiu ‘um saco de lixo’

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O motoboy negro que foi algemado à força por policiais militares após levar uma facada no bairro Rio Branco, em Porto Alegre, disse que se sentiu “um saco de lixo” durante a ação policial.

Everton Henrique Goandete da Silva, 40, disse que a abordagem ao homem branco foi diferente. “Tinha que pegar o indivíduo e, como ele (o policial) me pegou, fazer igual. Só que eles não fizeram isso daí. Foram para cima de mim como se eu fosse um saco de lixo. E eu não sou um saco de lixo. Eu sou um trabalhador como todo mundo que tem nessa rua”, afirmou Everton em entrevista à RBS TV, na manhã desta segunda-feira (19).

O motoboy esclareceu que não discutiu com o agressor antes de ser esfaqueado. “Estão falando que eu discuti com ele. Ele apareceu do nada e me desferiu o golpe de faca. Então, não houve uma discussão. Eu estava sentado. Nós (os motoboys) temos um grupo de WhatsApp de delivery de comida. No caso, a maioria dos motoboys ficam por ali. Do nada, o senhor ali apareceu com um canivete. Foi de surpresa. Só falou uma coisa. Quando vê, ele já vem com o canivete me esfaqueando”, relembrou.

Ele pontuou ainda que foi jogado contra a parede pelos policiais, mesmo ter sido esfaqueado. “O brigadiano vem querer me revistar. [Mas] não tem porquê me revistar. [O policial] me jogou contra a parede. Começou a falar coisas no meu ouvido para me deixar mais irritado. E foi assim, como está em todos os vídeos. Tem pessoas que estão falando mal de mim, mas elas não estavam no exato momento, elas não passaram o que eu passei. É isso aí que eu tenho para falar”, contou.

MOTOBOY FOI TRATADO COMO CRIMINOSO, DIZ MINISTRO

O ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida se pronunciou sobre o caso. Ele disse que o “racismo perverte instituições e agentes” ao se referir sobre os policiais militares que trataram homem agredido como criminoso. “O caso do trabalhador negro, no Rio Grande do Sul, que tendo sido vítima de agressão acabou sendo tratado como criminoso pelos policiais que atenderam a ocorrência, demonstra, mais uma vez, a forma como o racismo perverte as instituições e, por consequência, seus agentes”, escreveu no X (antigo Twitter).

“Racismo estrutural”. “É preciso que as instituições passem a analisar de forma crítica o seu modo de funcionamento e aceitar que em uma sociedade em que o racismo é estrutural, medidas consistentes e constantes no campo da formação e das práticas de governança antirracista devem ser adotadas (…). É preciso aceitar críticas e passar a adotar medidas sérias de combate ao racismo em nível institucional”, acrescentou.

Conversa com ministra Anielle Franco. Silvio Almeida disse ainda já ter conversado com Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, ppara acompanhar o caso e “ajudar na construção de políticas de maior alcance”, escreveu.

Governo do RS determinou apuração do caso. Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, disse neste domingo (18) ter determinado abertura de sindicância na Brigada Militar sobre a atuação dos agentes no episódio.

O QUE SE SABE SOBRE O CASO

Vídeos divulgados em redes sociais mostram o motoboy sendo prensado contra a parede por policiais até ser algemado e levado para a caçamba de uma viatura. Nas imagens, durante a abordagem truculenta, um idoso, suspeito de ter dado a facada, passa sozinho e diz que iria pegar os seus documentos.

Pessoas que passavam pelo local protestaram contra a ação dos policiais dizendo que a atitude contra o motoboy foi racista. “Quem tomou a facada foi ele”, disse um rapaz no vídeo.

O homem negro foi levado antes à viatura. Ao UOL, uma testemunha afirmou que o idoso foi no banco de trás do veículo, enquanto o motoboy foi na caçamba. No meio da tarde, ambos foram liberados.

A Brigada Militar do Rio Grande do Sul informou que o Comando de Policiamento da Capital abriu sindicância para apurar “as circunstâncias da abordagem”. Em nota, a corporação afirma que os PMs foram acionados para atender a uma ocorrência de agressão. “Os dois homens envolvidos em vias de fato foram conduzidos para a delegacia para prestar esclarecimentos”.

O motoboy Everton Henrique Goandete da Silva disse que o homem que aparece no vídeo deu uma facada em seu pescoço. A reportagem não conseguiu contato com o idoso. O espaço segue aberto para esclarecimentos.

Everton afirmou que, após a facada, arremessou pedras na direção do idoso, mas não o acertou. O ferimento em seu pescoço foi apenas superficial e o motoboy não precisou de atendimento médico.

Os vídeos publicados em redes sociais mostram que a abordagem dos policiais para algemarem o motoboy aconteceu após ele ter se irritado porque o idoso disse que ele não trabalhava. Naquele momento, porém, ele não agride nem os PMs nem o idoso.

Redação / Folhapress

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