SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar operava em alta firme nesta quarta-feira (31), com investidores digerindo a decisão de política monetária do Banco do Japão, enquanto ainda aguardavam as deliberações dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos.
Por volta das 10h30, a moeda norte-americana subia 0,87%, cotada a R$ 5,667, também em meio à formação da Ptax taxa de referência do BC (Banco Central) para a liquidação de contratos futuros de fim de mês.
Já a Bolsa, no mesmo horário, avançava 0,99%, aos 127.387 pontos, apoiada pelo avanço dos papéis da Vale e da Petrobras.
O mercado analisava o anúncio do Banco do Japão de aumentar a taxa de juros para 0,25%, o maior valor a curto prazo em 16 anos.
A especulação sobre um aperto monetário no país valorizou o iene na semana passada, gerando pressão sobre as moedas de mercados emergentes.
Um iene valorizado ante o dólar e a possibilidade de diminuição no diferencial de juros entre Japão e Estados Unidos levam investidores a reverter operações de “carry trade”, isto é, quando tomam ativos em locais com juros baixos para rentabilizar em outros com juros mais altos.
Isso provoca uma fuga de capitais de emergentes, como o real, para sustentar essa reversão no mercado japonês. Nesta sessão, o dólar tinha queda de 1,75% em relação ao iene, a 150,08.
O dia ainda reserva mais volatilidade e cautela para os mercados. As decisões de política monetária mais relevantes para a cena doméstica serão conhecidas nesta tarde com poucas horas de diferença, em dia apelidado de “super quarta” no jargão econômico.
A expectativa de analistas consultados pela Folha é de que tanto o BC (Banco Central) quanto o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) mantenham suas taxas de referência inalteradas, com foco nas sinalizações que virão nos comunicados das autarquias.
No Brasil, pesam a deterioração do cenário econômico e a desancoragem de expectativas para a inflação. O Boletim Focus desta semana apontou que especialistas ouvidos pelo BC preevem que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) irá fechar 2024 em 4,10%, ante avanço de 4,05% na semana anterior.
Em 2025, a projeção é de que o índice chegue a uma alta de 3,96%, ante 3,90%.
As previsões vêm na esteira dos últimos dados de inflação medidos pelo IPCA-15, que, pelo período de coleta, funciona como uma espécie de prévia do indicador oficial. Apesar de terem desacelerado em relação ao mês anterior, os preços subiram mais do que o esperado, a 0,30%, com a taxa de 12 meses batendo 4,45%.
O BC trabalha com a meta de inflação em 3%, com margem de tolerância de 1,5 p.p. para cima e para baixo. Com a base anual próxima ao teto de 4,50%, especialistas esperam que a autarquia endureça o tom do comunicado que irá explicar a decisão sobre o patamar da taxa Selic, o principal instrumento de controle de preços.
O Copom (Comitê de Política Monetária) havia iniciado o ciclo de afrouxamento monetário, mas optou por manter a taxa de juros em 10,50% ao ano na última reunião, em junho. O Focus, que também colhe estimativas sobre a Selic, passou a prever não só a manutenção da taxa, mas também possíveis altas até o final do ano.
“Teremos muita turbulência pela frente e o câmbio vai ficar mais alto do antes, o que, junto com o fiscal mal encaminhado, pressiona a inflação. Por conta disso, o risco é o Banco Central ter que subir a Selic este ano. A possibilidade de alta é maior do que a de baixa”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
A decisão do BC será conhecida após o fechamento do mercado, por volta das 18h. Já em relação aos Estados Unidos, o Fed deverá divulgar o resultado da reunião perto das 15h (horário de Brasília).
Por lá, o tom é outro. A expectativa é que a taxa de juros de referência seja mantida na faixa de 5,25% a 5,50% pela última vez, com apostas quase unânimes de que o Fed irá iniciar o ciclo de cortes na próxima reunião, marcada para setembro.
A convergência da inflação à meta de 2% e as perspectivas de um “pouso suave” da economia ou seja, quando os preços são domados sem grandes danos ao mercado de trabalho ou ao crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) levaram à esperança de que a autoridade monetária dos EUA poderá inclusive cortar os juros mais duas vezes até o final do ano.
Uma taxa alta nos Estados Unidos, tidos como a economia mais segura do mundo, desestimula investimentos em ativos de risco, por puxar os investidores à renda fixa norte-americana (os chamados Treasuries, títulos ligados ao Tesouro dos EUA).
Isso significa que, quanto mais o banco central norte-americano cortar os juros, melhor para o real e outras moedas emergentes.
Outro elemento que pode influenciar os negócios com mais intensidade nesta sessão é a disputa entre comprados (investidores que apostam na alta das cotações) e vendidos (posicionados na baixa) pela formação da taxa Ptax de fim de mês.
Taxa de câmbio calculada pelo BC com base nas cotações do mercado à vista, a Ptax serve de referência para a liquidação de contratos futuros. Com isso, agentes financeiros fecham contratos de câmbio já para o próximo mês, o que, por conta de incertezas do cenário doméstico e internacional, pode fazer com que a cotação suba.
Na cena corporativa, o Ibovespa era sustentado por fortes ganhos da Vale e da Petrobras. A mineradora subia 1,37%, e os papéis preferenciais e ordinários da petroleira avançavam 1,30% e 1,39%.
O exterior positivo também dava fôlego à Bolsa brasileira, com Nasdaq subindo 2% e S&P 500, 1,27%.
Na terça-feira (30), o dólar fechou em queda de 0,13%, cotado a R$ 5,617, e a Bolsa perdeu 0,64%, aos 126.139 pontos.
ANA BOTTALLO / Folhapress