SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Entidades do movimento negro, sindicatos e partidos se uniram na manhã desta quinta-feira (24) em Salvador em uma manifestação contra a violência policial marcada por críticas contra ao poder público e homenagens à líder quilombola Bernadete Pacífico, assassinada há uma semana na Bahia.
O protesto faz parte da “Jornada dos Movimentos Negros contra a violência policial”, que prevê protestos em várias cidades do país nesta quinta e neste ano trouxe o lema “Pelo fim da violência policial e de Estado, nossas crianças e o povo negro querem viver! Chega de Chacinas”.
Em Salvador, manifestantes se reuniram em frente à Basílica do Senhor do Bonfim, na Cidade Baixa, onde também foi realizada a missa de sétimo dia da morte de Bernadete Pacífico.
Carregando faixas e cartazes, os manifestantes se revezaram em discursos nos quais criticaram a política de segurança pública em curso no estado da Bahia, a letalidade das ações policiais em bairros periféricos e as violências contra as comunidades tradicionais.
“A Bahia é o estado mais negro do Brasil, mas também é o estado que mais mata pessoas negras no Brasil. Isso não é uma ironia, é o resultado de todo um processo de violência racial”, afirmou Samira Soares, coordenadora do Movimento Negro Unificado na Bahia.
Ela afirmou que o governo da Bahia, atualmente comandado pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT), deixa a desejar na política de segurança pública e citou episódios recentes de violência policial em bairros periféricos da Grande Salvador, que resultaram inclusive na morte de crianças.
“As trocas de tiro sempre alcançam os corpos negros. Por que nos bairros nobres a abordagem é uma para com pessoas brancas e nas periferias a abordagem é outra? A gente sabe o que é isso: racismo”.
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que, em números absolutos, a Bahia foi em 2022 o estado com mais mortes decorrentes de intervenção policial, com 1.464 ocorrências. Desde 2015, o número de mortes registradas como autos de resistência quadruplicou no estado.
A letalidade das intervenções da polícia ganhou o centro do debate público nas últimas semanas ao menos 31 pessoas terem sido mortas na Bahia em ações policiais em um período de oito dias.
Também participaram da Jornada dos Movimentos Negros entidades como a Unegro (União de Negros Pela Igualdade), o Coletivo de Entidades Negras, a Rede de Mulheres Negras da Bahia, além de partidos políticos de esquerda como PSOL, UP e PSTU.
Nos discursos, os manifestantes ainda fizeram críticas ao governador Jerônimo Rodrigues (PT) defenderam a adoção de câmeras nos uniformes dos policiais como medida para reduzir a letalidade das ações das forças de segurança.
“A gente não admitir que esse governo não se posicione de forma séria. É preciso dizer de que lado ele está”, afirmou em discurso o policial civil e sindicalista Kleber Rosa, presidente da Federação dos Trabalhadores Públicos do Estado da Bahia.
Ao fim do protesto, manifestantes seguiram para a Basílica do Bonfim, onde participaram da missa em memória de Bernadete Pacífico. O ato teve a participação de familiares, amigos e vizinhos do Quilombo Pitanga dos Palmares e líderes religiosos do candomblé.
Compareceram à missa três secretários estaduais da gestão Jerônimo Rodrigues, além do comandante-geral da Polícia Militar da Bahia, Paulo Coutinho, que assistiu ao ato religioso acompanhado de ao menos outros 14 policiais militares que compareceram à missa.
A líder quilombola e ialorixá Bernadete Pacífico, a Mãe Bernadete, foi assassinada nesta quinta-feira dentro de casa na comunidade quilombola Pitanga de Palmares em Simões Filho, cidade da Grande Salvador.
Ela estava junto com os netos quando dois homens chegaram usando capacetes e abordaram a família. Os netos foram trancados em um quarto e a ialorixá foi assassinada com tiros.
Bernadete já havia recebido ameaças e fazia parte de um programa de proteção a defensores dos direitos humanos do governo na Bahia. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.
JOÃO PEDRO PITOMBO / Folhapress