SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) cobrou nesta sexta-feira (20) uma visita do presidente Lula (PT) aos assentamentos do movimento, reforçou críticas sobre a falta de avanço na reforma agrária e promessas de invasões pelo país em 2025, mas evitou pedir a saída do ministro Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário).
Em seu balanço anual, integrantes da direção nacional do movimento, que tem trocado críticas com a gestão Lula, afirmaram que apoiam o governo de forma incondicional. Ao mesmo tempo, cobraram entregas de novos assentamentos e mudanças na agenda política e de comunicação.
“Não entenda como uma crítica, mas não é razoável que em dois anos o presidente Lula não tenha feito nenhuma agenda em um assentamento ou em uma área de agricultura familiar”, disse João Paulo Rodrigues, dirigente do MST.
No começo do mês, em protesto contra a política de reforma agrária do governo Lula, o movimento fez invasões no Rio Grande do Sul e no Pará.
Nesta semana, em entrevista ao Painel, da Folha de S. Paulo, o principal líder nacional do MST, João Pedro Stedile disse que o movimento está cansado de promessas e chamou de “vergonhosa” a gestão da reforma agrária.
Nesta sexta, Rodrigues afirmou que houve um convite formal para que Lula e o ministro Paulo Teixeira visitem um assentamento no próximo ano. A expectativa do movimento é que o encontro sirva para anunciar entregas de novos assentamentos até 2026.
Segundo a dirigente Ceres Hadich, os números até o momento causam preocupação e é necessário que a gestão atual realize uma guinada nos próximos dois anos.
“A gente tem hoje não mais do que uma perspectiva de assentamento entre 9 e 10 mil famílias para o final deste ano e início do próximo ano. Efetivamente, desde o ano passado, nenhuma família foi para terra, como diz o presidente Lula”, afirmou.
Apesar da cobrança, ao serem questionados pela Folha sobre a relação com o ministro Paulo Teixeira e se o movimento defende sua substituição, os dirigentes disseram que a decisão cabe a Lula e reforçaram o pleito por reassentamentos.
“A reforma ministerial cabe ao presidente Lula fazer, mas nós enquanto movimento social temos emitido a nossa opinião uníssona e feito as críticas necessárias em relação não só ao Ministério do Desenvolvimento Agrário, mas ao governo como um todo”, disse Hadich.
“Se não há um comprometimento, uma concepção, uma solidez, uma unidade de ação em relação à reforma agrária, não faz sentido ter um ministério, um ministro, ou quem seja cuidando dessa face. Para nós, isso é central”, concluiu.
Para 2025, estão previstas mobilizações de mulheres a partir de 8 de março e de invasões em abril pelo assentamento de 60 mil famílias. “Nós não aceitamos nada menor do que isso no ano que vem”, afirmou Rodrigues.
Desde o início do governo Lula, o MST tem demonstrado insatisfação com a velocidade dos processos de reforma agrária, cobrando mais assentamentos e condições para as famílias acampadas. O movimento diz que não há avanço na questão há mais de dez anos.
VENEZUELA
Os dirigentes do MST também cobraram do governo uma mudança de posição em relação às eleições na Venezuela, reconhecendo a vitória do ditador Nicolás Maduro. Rodrigues disse que Lula errou ao não defender a entrada do país no Brics.
“A Venezuela é uma democracia. A Venezuela tem que ser respeitada e achamos que o presidente Lula erra ao não ajudar a incorporar a Venezuela no Brics. Respeitamos a posição soberana do presidente Lula, bem como respeitamos a posição soberana da Venezuela. Queremos que o presidente reconheça a vitória do Maduro”, disse Rodrigues.
O líder do movimento também criticou a celebração do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, o que segundo o movimento deve trazer prejuízos significativos aos pequenos agricultores no país.
“É um acordo que não tem nenhuma perspectiva de melhorar a vida da pequena agricultura, ao contrário. Vamos correr o risco de ter o mercado de produtos da agricultura familiar sendo disputado com uma economia muito mais poderosa que a nossa, que é a europeia”, afirmou Rodrigues.
GÉSSICA BRANDINO / Folhapress