Mudança na cracolândia tira sono de idosa de 90 anos recém-operada, relata filha

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A chegada de frequentadores da cracolândia à rua dos Protestantes, em Santa Ifigênia, no centro de São Paulo, na madrugada de sábado (12), já tem trazido transtornos para moradores do entorno, segundo relatos à reportagem.

Eles se queixam de barulho, sujeira, cheiro de plástico queimado e da feira da droga, onde os entorpecentes são anunciados em voz alta. Os vizinhos ainda reclamam de que seus filhos não podem olhar pela janela, sob ameaça de serem xingados pelos usuários.

Uma aposentada de 63 anos, que pediu para não ser identificada por temer represálias, relata que a mãe de 90 anos está sem dormir desde que a cracolândia se fixou no endereço. A mulher contou que a idosa passou por uma cirurgia recente no olho e precisa de repouso.

A aposentada participou na noite de segunda-feira (14) de uma manifestação contra a permanência da cracolândia no local.

O ato, que contou com cerca de 50 pessoas, bloqueou por cerca de uma hora a rua Mauá, em frente à Sala São Paulo. Policiais militares acompanharam o trajeto de cerca de 100 metros, entre a praça Júlio Prestes e a rua General Couto de Magalhães, onde existe um imóvel da Guarda Civil Metropolitana.

Um grupo de usuários de drogas da cracolândia chegou a querer discutir com os moradores quando eles passaram próximo à aglomeração. PMs rapidamente isolaram o cruzamento da rua Mauá com a rua dos Protestantes com escudos, e os dependentes se dispersaram.

A aposentada, assim como boa parte dos manifestantes, se queixa do barulho vindo da área em que estão os usuários, que escutam músicas em caixas de som portáteis durante todo dia.

“Não adianta tirar da região dos Campos Elíseos e colocar no Bom Retiro. Do Bom Retiro para o Pari e do Pari para Santa Ifigênia. É necessária uma política que contemple os usuários e os moradores”, diz o professor Philippe Reis, 33.

Vendo suas esperanças de um bairro mais tranquilo se tornando cada vez mais difícil, o analista fiscal Carlos José, 40, diz que pensa e voltar para o interior do estado. “Penso em abandonar. É porque não tenho para onde ir. Eu não consigo trabalhar [em casa].”

A técnica de enfermagem Paloma da Silva, 35, que também estava presente ao ato, pede mais segurança e lembra que os moradores pagam IPTU. Para ela, é importante ter carros e equipes da Polícia Militar ou da Guarda Civil Metropolitana realizando a segurança do perímetro. Ela também questiona o motivo de o fluxo ter migrado para a rua dos Protestantes, local em que há imóveis residenciais.

Procurada na segunda, a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) declarou não ter havido operação para deslocamento dos usuários e que não há determinação para essa mudança.

A gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi questionada através da SSP (Secretaria de Segurança Pública) sobre a transferência de local, mas não se pronunciou.

O protesto de segunda-feira foi o terceiro nos últimos dias a cobrar uma solução para o problema da cracolândia.

Na noite de sexta-feira (11) moradores de um condomínio no entorno da praça Júlio Prestes chegaram a bloquear a passagem de veículos no cruzamento das avenidas Duque de Caxias e Rio Branco assustados com a possível transferência do fluxo para a alameda Dino Bueno.

Segundo os moradores, eles viram pela televisão notícias de que o endereço seria o novo ponto da concentração de dependentes químicos, o que gerou a mobilização.

“Quando vimos isso na reportagem, a gente mobilizou os moradores para fechar a Dino Bueno para que aqui eles não voltem”, disse a farmacêutica Luciana Lanzillo, 48. A alameda foi um dos endereços mais longevos da cracolândia.

Mesmo com a presença de policiais militares, um homem ficou ferido durante o ato ao levar uma pedrada no rosto.

Um dia antes, comerciantes da rua Santa Ifigênia realizaram um protesto em que fecharam as portas de suas lojas por algumas horas cobrando uma solução do poder público para o problema.

Na frente das lojas fechadas, foram fixados cartazes com os dizeres “Lute pela Santa Ifigênia” e “Lute pelo seu trabalho seguro”. Foram distribuídos apitos entre os manifestantes que também seguravam cartazes com frases como “Queremos trabalhar”.

Donos de lojas de eletrônicos da região dizem que a presença da cracolândia no local fez as vendas caírem drasticamente.

PAULO EDUARDO DIAS / Folhapress

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