SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mudança nos títulos isentos de IR, startup de identidade digital capta R$ 153 milhões e o que importa no mercado.
*O QUE MUDA NAS LCIS E LCAS*
O CMN (Conselho Monetário Nacional) decidiu restringir o que pode ser utilizado pelos bancos e pelas empresas como lastro (operações ou ativos que servem de garantia) para a emissão de títulos de renda fixa com isenção de Imposto de Renda.
As mudanças são nas LCA, LCI, CRA, CRI e LIG, papéis que têm como base operações no setor imobiliário e no agronegócio.
A decisão foi tomada pelo colegiado do CMN, formado pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento) e pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Entenda: a isenção de IR nesses títulos serve como um atrativo aos investidores e tem o objetivo de destinar mais dinheiro à produção agrícola e à atividade imobiliária.
↳ O problema é que o governo, o BC e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) mapearam empresas e bancos, sem relação alguma com esses setores, que estavam pegando carona na emissão desses papéis.
↳ Até empresas de petróleo, rede de fast-food e de aluguel de carros já fizeram emissões desse tipo. As novas regras devem atingir gigantes de diversos setores da economia brasileira.
O que muda: para continuar emitindo os títulos, os emissores terão de, efetivamente, aplicar os recursos no agronegócio e no setor imobiliário.
Nada muda na isenção do IR nem no estoque desses papéis.
Por que importa: a emissão a rodo desses títulos sem lastro no agro e no setor imobiliário acaba aumentando a renúncia fiscal do governo ligada a essas operações.
Os recursos economizados com a restrição na regra da emissão devem bancar a correção da tabela do IR, escreve Adriana Fernandes.
Em números:
R$ 1,2 trilhão é o estoque de LCA, LCI, CRA, CRI e LIG no mercado brasileiro.
40% do valor captado com LCA e LCI, quase 100% das LIGs e 80% dos CRA e CRIS não iam para os setores agrícola e imobiliário, apontou um mapeamento do governo.
*FUSÃO AREZZO-SOMA*
Após terem confirmado conversas para uma fusão, as varejistas de moda Arezzo&Co e Grupo Soma devem anunciar em breve a união em uma nova empresa, apurou a repórter Daniele Madureira.
O que já foi definido:
54% da empresa ficará com a Arezzo, enquanto o Soma fica com 46%.
O atual CEO da Arezzo, Alexandre Birman, será o presidente da nova empresa, que terá Roberto Jatahy, atual presidente do Soma, como principal executivo da unidade de vestuário feminino.
Rony Meisler, ex-presidente do grupo Reserva, adquirido pela Arezzo em outubro de 2020, será o presidente da unidade de vestuário masculino.
As duas empresas combinadas tiveram faturamento de R$ 12 bilhões em 2023, conforme projeção do BTG Pactual. O valor é acima da líder Renner (R$ 11,7 bilhões) e da chinesa Shein (R$ 10 bilhões), que vem ganhando espaço no país.
“House of brands”: é o que os especialistas vêm chamando a união de Arezzo e Soma.
↳ O termo em inglês que significa casa de marcas tem como principal representante mundial a LMVH, holding de empresas de luxo do bilionário Bernard Arnault, pessoa mais rica do mundo.
↳ A companhia gerada pela fusão de Arezzo e Soma não disputaria espaço no mercado de massa, como Renner e C&A, mas sim no segmento de moda premium.
↳ Um dos benefícios citados no negócio seria a “venda casada” entre as marcas lojas Farm com calçados da Arezzo, por exemplo. Essa é uma das “sinergias” citadas pelos envolvidos na negociação, que, ao todo, poderiam gerar R$ 4,5 bilhões.
↳ Arezzo, Schutz, Reserva, Animale, Farm, Hering Veja aqui as marcas de cada empresa.
*GOLPE DO DEEPFAKE*
Um funcionário de uma empresa de Hong Kong fez uma transferência de 200 milhões de dólares de Hong Kong (R$ 126,5 milhões) após participar de uma chamada de vídeo em grupo em que ele acreditava estar falando com o diretor financeiro da companhia.
Tudo não passou de um golpe, com a reunião sendo criada a partir de deep fake.
Os fraudadores criaram representações do diretor financeiro da empresa e de outras pessoas na chamada usando imagens públicas e convenceram a vítima a fazer um total de 15 transferências para cinco contas bancárias em Hong Kong
A ocorrência desse tipo de crime passou a ser maior com a evolução das ferramentas de IA (inteligência artificial) e é um dos maiores desafios para os desenvolvedores dessas ferramentas.
Hoje, é possível reproduzir o rosto e a fala de uma pessoa a partir de plataformas disponíveis na internet.
*STARTUP DA SEMANA: INCOGNIA*
O quadro traz às segundas o raio-x de uma startup que anunciou uma captação recentemente.
A startup: fundada em 2014, a Incognia atua com a autenticação da identidade digital do usuário a partir da geolocalização dos dispositivos.
Em números: a startup anunciou ter recebido um aporte de US$ 31 milhões (R$ 153 milhões).
Ela já havia captado US$ 15,5 milhões (R$ 76,6 milhões) em 2022 em uma rodada série A (entenda aqui as etapas de investimento em startups).
Quem investiu: o aporte foi liderado pela Bessemer, fundo do Vale do Silício que tem na carteira empresas como LinkedIn, Shopify, Pinterest e a brasileira Enjoei.
A rodada foi acompanhada por Point72, Prosus, Valor Capital e Unbox Capital, que já eram investidores da Incognia.
Que problema resolve: a startup promete reduzir os casos de roubos de contas e criação de contas falsas ao combinar, em tempo real, os dados de localização exata e a identificação do dispositivo do usuário.
Por que é destaque: a Incognia atua em uma área que atrai cada vez mais atenção de criminosos dada a digitalização dos serviços e a popularidade das fintechs na sociedade brasileira.
O país registrou em 2022 uma tentativa de roubo de conta digital por minuto, segundo dados da AllowMe.
O aporte fortalece a Incognia para atuar em um setor habitado por outras grandes startups no Brasil, sendo duas unicórnios (avaliadas em mais de US$ 1 bi): a brasileira unico e a americana Incode.
ARTUR BÚRIGO / Folhapress