SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – De dezembro de 2023 a novembro de 2024, Mariana Michelini, 36, fez cinco cirurgias para reconstruir os lábios superior e inferior após perdê-los por complicações provocadas por preenchimento com PMMA (polimetilmetacrilato).
“Ainda faltam alguns procedimentos de refinamento, para melhorar a estética, mas, graças a Deus, estou recuperando minha autoestima e voltei a ter vida social. Até já consigo me maquiar”, desabafa a influenciadora e atendente de farmácia, que mora em Matão (a 306 km da cidade de São Paulo).
O polimetilmetacrilato, chamado de PMMA, é um preenchedor definitivo em forma de gel, utilizado em procedimentos estéticos e para correção de lipodistrofia, uma alteração da quantidade de gordura no corpo que pode ocorrer em pacientes com HIV.
Desde os anos 2000, os médicos não costumam mais usar essa substância por ser permanente e aderir a pele, músculos e ossos. Quando há um processo inflamatório, ou mesmo quando o paciente não gosta do resultado, remover o PMMA sem causar danos a essas estruturas é quase impossível.
O uso do produto para fins estéticos e reparadores é liberado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), mas não é recomendado pela SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) nem pela SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologista.
Atualmente, médicos dermatologistas e cirurgiões plásticos preferem fazer preenchimento com o ácido hialurônico, uma substância presente no corpo humano e reproduzida em laboratório. Esse tipo de preenchedor é reabsorvível e dura até dois anos. Ele é considerado mais seguro e pode ser removido com a aplicação de uma enzima chamada hialuronidase.
Na semana passada, o CFM (Conselho Federal de Medicina) pediu à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a proibição do uso de PMMA em procedimentos estéticos de preenchimento no Brasil.
Após a última cirurgia, em novembro, Mariana já fez um pouco de preenchimento com ácido hialurônico no lábio inferior para igualar a superfície. Parte da reconstrução foi feita com retalhos da língua e, como os tecidos são diferentes, havia um desnível entre eles.
“Muita gente pergunta se perdi o paladar por ter tirado partes da língua para reconstruir os lábios, mas não perdi. A língua ficou mais estreita, senti um pouco de dificuldade para falar no começo, mas já estou me acostumando”, diz.
Mariana precisou remover o lábio superior e parte do buço em 2022 com um cirurgião plástico após, em 2020, ter feito um preenchimento nos lábios, no queixo e na região do osso malar, área conhecida como maçãs do rosto.
Na época, ela atuava como influenciadora em Matão, onde mora, e anunciava serviços locais em suas redes sociais.
“Eu cobrava para fazer esses trabalhos, mas alguns ocorriam por meio de permuta. Foi assim que, em troca de uma harmonização facial, fiz propaganda para uma profissional da área de saúde da minha cidade”, conta.
A profissional disse a ela que o procedimento seria feito com ácido hialurônico. No entanto, seis meses depois, ela acordou com o rosto inchado, vermelho e doendo muito. Ao se submeter a uma biópsia, Mariana descobriu que o produto aplicado foi o PMMA, e não ácido hialurônico, como ela imaginava.
“Fiquei desesperada, pesquisei na internet e vi que várias mulheres morreram depois de fazer procedimentos com PMMA. Eu só conseguia chorar, sem saber o que ia acontecer comigo. Processei a profissional da harmonização e contei o que aconteceu nas redes sociais. Mas ela também me processou e não posso falar o seu nome nem a profissão”, afirma.
SÍLVIA HAIDAR / Folhapress