Mulheres enfrentam desafios maiores para entrar na política, dizem prefeitas eleitas

MACEIÓ, AL (FOLHAPRESS) – Adriane Lopes (PP), em Campo Grande (MS), e Emília Corrêa (PL), em Aracaju (SE), são as únicas mulheres eleitas prefeitas em capitais no pleito deste ano.

Em Campo Grande, duas mulheres ocuparam o cargo de forma indireta: Nelly Bacha, em 1983, e a própria Adriane, que assumiu o mandato em 2022 após a renúncia do então prefeito, Marquinhos Trad. Neste segundo turno ela disputou com Rose Modesto (União). A vice-prefeita eleita é Camila Nascimento de Oliveira (Avante).

Em Aracaju, Emília Corrêa derrotou Luiz Roberto (PDT), que era apoiado pelo atual prefeito, Edvaldo Nogueira (PDT), e pelo governador Fabio Mitidieri (PSD). Ela contou com suporte de Jair Bolsonaro (PL). Quatro mulheres concorreram nessas eleições na capital sergipana, contra dois homens. O vice-prefeito eleito é Ricardo Marques (Cidadania).

“As mulheres enfrentam desafios maiores ao entrarem na política, desde dificuldades no financiamento de campanhas até barreiras culturais e preconceitos. Por isso, a representatividade feminina acaba sendo reduzida em cargos executivos, mesmo nas capitais”, disse Corrêa à Folha.

Lopes afirmou que a vitória de mulheres nas capitais representa um avanço contra o conservadorismo.

“É um grande desafio, mas nós estamos abrindo caminho para que outras mulheres também se posicionem, não só na política, mas em outros espaços e esferas de poder. Quando uma mulher se posiciona, outras também criam coragem e entendem que podem estar ocupando esses espaços”, disse ela, para quem o Mato Grosso do Sul é um estado conservador.

Ao todo, 728 mulheres conquistaram o cargo máximo do Executivo municipal neste ano, cinco delas no segundo turno concluído neste domingo (27). Isso representa um aumento de 10% em relação a 2020, quando o país teve 662 eleitas. Foram 244 municípios que elegeram prefeitas pela primeira vez neste ano.

O número total de prefeitas pode aumentar, pois em cinco municípios do país —o principal deles, Vitória da Conquista (BA)— os resultados estão sub judice, o que significa que a posse depende de definição da Justiça Eleitoral.

Os partidos lançaram 2.362 candidatas ao cargo em 1.986 municípios do país. Uma em cada três delas conseguiu se eleger, o que representa um crescimento de cinco pontos percentuais em relação à taxa registrada na última eleição municipal.

Tanto Corrêa como Lopes avaliam que os resultados deste ano serão propulsores dos próximos pleitos. “De fato, ter apenas duas capitais lideradas por mulheres ainda é pouco”, disse a eleita em Aracaju.

“Acredito que para os próximos anos, principalmente aqui no nosso estado, estamos inaugurando um novo tempo para mulheres”, afirmou a eleita em Campo Grande, argumentando que se preocupou com a paridade nos cargos nas secretarias durante os dois anos e meio em que esteve no comando do município —segundo ela, 40% do primeiro escalão é ocupado por mulheres.

Nesse período, acrescentou, o foco da gestão esteve em educação e saúde, com suporte maior à primeira infância. Ela diz esperar construir o primeiro hospital municipal da história de Campo Grande, além de concluir obras paradas de gestões anteriores.

Em Aracaju, Corrêa foi oposição tanto à gestão municipal quanto à gestão estadual. Segundo ela, seu dever é apontar e fiscalizar o que considera falhas. Eleita, diz agora que vai buscar diálogo e parcerias.

“Mas sempre colocando o bem de Aracaju em primeiro lugar. Acredito que, com responsabilidade e um mandato focado nas necessidades da população, conseguiremos superar essas diferenças políticas.”

Metade das eleitas no pleito deste ano vem de partidos do centro político, em que 4 em cada 10 candidatas ao cargo se elegeu. O MDB lidera a lista, com 129 prefeitas, seguido de PSD, com 104, e PP, com 90.

Nos municípios com mais de 200 mil eleitores, além das capitais, apenas Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo, elegeu uma prefeita mulher pela primeira vez, já no primeiro turno. Ao todo, das 103 maiores cidades do país, 10 elegeram mulheres.

JOSUÉ SEIXAS / Folhapress

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