SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As multas de trânsito na cidade de São Paulo desabaram 52% sob Ricardo Nunes (MDB) no primeiro semestre deste ano, quando o prefeito tentará a reeleição.
O prefeito chegou a criticar durante entrevista coletiva neste ano a instalação indiscriminada de radares com fins arrecadatórios, em discurso afinado com o bolsonarismo e a tese de que haveria uma “indústria da multa”.
De acordo com dados do Observatório Mobilidade Segura, mantido pela Prefeitura de São Paulo, foram aplicadas 2,2 milhões de multas no primeiro semestre deste ano, contra 4,6 milhões no mesmo período do ano passado.
Nunes tem investido pesado em medidas para agradar motoristas no ano eleitoral, principalmente com um programa bilionário de pavimentação. Ações de mobilidade como construção de corredores de ônibus, por outro lado, seguem estagnadas.
Na eleição municipal paulistana, João Doria, na época pelo PSDB, foi eleito com discurso contra multas de trânsito. Nunes tem dado declarações afinadas com essa lógica –enquanto especialistas cobram mais fiscalização da velocidade dos veículos como forma de reduzir as vítimas de acidentes.
Em entrevista coletiva, o prefeito afirmou que “radar não é um pedagiozinho para a gente ficar arrecadando”.
“Você colocar um monte de radar para cobrar, para multar, sem ter um parâmetro técnico, não tem o menor cabimento. E era isso que tava acontecendo. Queriam dobrar. Tem 700 e pouco, ia pra 1.500. Imagina”, criticou o prefeito.
“A minha mensagem para eles foi o seguinte: você enlouqueceu? Tem pessoas que faltam um pouco de senso, né? Mas a gente não tá aqui para ficar pondo radar para tomar multa, para aplicar multa. A gente tá aqui para colocar o radar para evitar acidente, evitar morte, para poder melhorar a segurança”, acrescentou.
Na prática, os radares da cidade têm multado menos em termos percentuais –68% do total neste ano, contra 78% em todo o ano passado.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apoiador de Nunes nas eleições deste ano, também foi crítico dos radares e mandou suspendê-los nas rodovias federais.
Nunes, por sua vez, atingiu os menores dados de multas no primeiro semestre nos últimos dez anos.
A gestão afirma que a atual diretriz para fortalecimento de segurança no trânsito é “investir em medidas educativas, campanhas de conscientização, palestras, cursos e em iniciativas como a Faixa Azul e os programas Áreas Calmas e Cicloviário”.
“A instalação de novos radares na cidade está condicionada à análise prévia de critérios técnicos, à viabilidade operacional e à necessidade comprovada de segurança viária. Os radares têm objetivo de diminuir o risco de acidentes e óbitos e não de ser uma ferramenta meramente arrecadatória”, diz nota da administração Nunes.
De acordo com a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), os contratos dos radares passaram por uma transição em janeiro deste ano para atender novas regras do Contran (Conselho Nacional de Trânsito).
“As empresas têm até 12 meses para fazer a completa substituição e atualização tecnológica. Atualmente, 87% já estão em funcionamento e 13%, em homologação”, diz a administração, em nota.
O trânsito é um assunto delicado na campanha. Adversário de Nunes, Guilherme Boulos (PSOL), por exemplo, descartou reduzir a velocidade das marginais como fez o ex-prefeito Fernando Haddad (PT).
“Isso não foi aceito pela cidade, houve uma rejeição da maior parte da cidade, embora a visão do Fernando Haddad tivesse uma consistência”, disse. “Como não foi aceito, nós não retomaremos o debate de redução da velocidade na cidade de São Paulo”, completou Boulos, que recebeu críticas de especialistas pelo discurso.
ARTUR RODRIGUES / Folhapress