SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mundo de olho na economia da China, juros em pauta e o que importa no mercado nesta segunda-feira (16).
**OLHO NA CHINA**
A economia chinesa está desacelerando. Uma série de dados divulgados nas últimas semanas mostrou que a população está consumindo menos, impactando a indústria e as vendas do varejo.
↳ O país deve crescer abaixo da meta estabelecida pelo governo para este ano, de 5%.
Os principais motivos são: queda na população total, que diminuiu em 2023 pelo segundo ano consecutivo; exportações mais fracas para a Europa e os Estados Unidos, em meio às tensões geopolíticas; e a fraqueza no mercado imobiliário.
Alerta. Outra razão, que preocupa os analistas, é a inflação em níveis muito baixos, praticamente de deflação. Os preços por lá estão estagnados, subindo a uma taxa anual de 0,6%.
Os preços baixos estagnados são uma das causas, mas também consequência da desaceleração.
Preço baixo não é bom? Depende. Em geral, é saudável que os países tenham algum grau de inflação, pois isso estimula a expansão dos negócios, uma vez que há a perspectiva de o faturamento sempre melhorar.
↳ A inflação não deve ser alta, mas, quando é baixa demais, também traz problemas.
↳ A meta na China é de alta de 3% ao ano, igual ao Brasil. Nos Estados Unidos, é de 2%.
Entenda: quando há deflação, empresários têm menos estímulo para produzir, o que esfria a economia e gera desemprego.
A situação fica ainda pior se o consumidor segurar os gastos para aumentar suas reservas, por desconfiança, ou na expectativa de que os preços caiam ainda mais.
↳ O efeito é uma bola de neve que freia a economia, já que a renda deixa de circular.
Como contornar: analistas ouvidos pelo Financial Times afirmam que o governo de Pequim precisa estimular principalmente o consumo, com programas sociais e estímulos na ordem de US$ 1,4 trilhão (R$ 6,8 trilhões). Em tese, isso deixaria a mais confortável para gastar.
A divulgação dos dados nas últimas semanas também alimentou as expectativas de que o banco central do país cortará os juros.
Efeitos por aqui. A China é um dos principais mercados consumidores do mundo. Se o país crescer menos, os preços dos produtos que países como o Brasil exportam tendem a cair.
Entre eles está o petróleo, que se desvalorizou nas últimas semanas. Os produtos agrícolas também devem seguir essa tendência, mas sem grandes impactos para o agro brasileiro.
↳ A coluna Vaivém das Commodities discutiu o assunto.
Enquanto isso o governo chinês aumentou a idade mínima para a aposentadoria no país. A reforma da previdência chinesa será aplicada aos poucos. O envelhecimento da população é um dos motivos para o ajuste no sistema.
↳ A idade mínima para homens subirá de 60 anos para 63.
↳ A idade mínima para as mulheres subirá de 50 para 58, exceto para operárias, que terão direito à aposentadoria aos 55 anos.
**JUROS AQUI, E JUROS LÁ FORA**
Há pouco mais de um ano, a taxa de juros básica do Brasil começou a cair do patamar de 13,75% em que se encontrava.
Na época, muitas previsões estimavam que a taxa Selic chegaria a um dígito, abaixo até dos 9%.
Sim, mas A história foi diferente. O Banco Central baixou os juros até 10,50% e interrompeu o ciclo de cortes. Agora, tudo indica que eles voltarão a um patamar mais alto após a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) da próxima quarta-feira (18).
↳ Economistas preveem que o ciclo será curto. A previsão é que a taxa sairá dos 10,50% e atingirá 11,25% até dezembro.
Precisa subir? O argumento de agentes do mercado e economistas que defendem a alta é que ela é necessária para reduzir as expectativas de inflação de 2025, além de conter os preços atuais.
Eles estão em alta devido ao forte crescimento da economia, à valorização do dólar e às incertezas com as contas públicas.
↳ A Folha de S.Paulo abordou alguns argumentos no editorial desta segunda.
O outro lado. Há quem defenda, no entanto, que o Banco Central deveria esperar.
Apesar da inflação elevada por aqui, os juros nos Estados Unidos começarão a cair, o que ajuda a reduzir o dólar e facilita o controle dos preços, mesmo sem um aumento na Selic.
Por que importa: os juros básicos funcionam como um piso para todas as taxas de juros da economia.
Eles influenciam financiamentos, empréstimos, investimentos de renda fixa… Desde a tradicional poupança até os mais sofisticados.
Falando nos Estados Unidos A reunião do banco central americano ocorre também na próxima quarta-feira, com a divulgação às 15h. No Brasil, o resultado será divulgado após as 18h.
O corte nos juros por lá é aguardado em todo o mundo por diversos motivos: reduz o dólar, facilita o fluxo de investimentos para países emergentes e contribui para a queda (ou estabilidade) das taxas de juros em outros países, como mencionei acima.
Onde investir. Analistas ouvidos pela Folha apontam que a alta da Selic não deve gerar efeitos negativos em investimentos na Bolsa brasileira.
Isso porque o ciclo deverá ser curto e pode haver algum ganho de credibilidade para o Banco Central. As taxas podem voltar a cair já em 2025. O colunista Michel Viriato destaca, porém, que não é hora de aumentar riscos.
↳ Entre os setores da Bolsa que devem sofrer menos estão os serviços públicos, como energia e saneamento.
↳ Para a renda fixa, os títulos pós-fixados são os mais indicados.
**COMO GUARDAR ENERGIA VERDE**
A transição energética não deverá apenas substituir a geração de eletricidade e de combustíveis por alternativas limpas. Guardar essa energia de forma eficiente, segura e sustentável também é parte do desafio.
A Agência Internacional de Energia estima que a capacidade global de armazenamento de baterias deverá crescer drasticamente para atender às metas de neutralidade de carbono.
Em 2023, ela era de menos de 200 gigawatts (GW) instalados. A expectativa é de que a capacidade seja de:
2030: 1 terawatt necessário.
2050: 5 terawatts necessários.
Por que importa: o armazenamento de energia é fundamental para a economia de baixo carbono para que fontes sujas, como termelétricas, não sejam acionadas em caso de escassez na produção principal.
No país, os baixos níveis nos reservatórios das hidrelétricas, levou o governo a autorizar que as usinas do tipo, mais poluidoras, ampliem seu funcionamento.
Como guardar. O armazenamento de energia em larga escala dependia da água represada justamente nesses sistemas hidrelétricos. Agora o mercado está migrando para o uso de baterias gigantes, organizadas em fileiras dentro de galpões. O Brasil, inclusive, prepara um leilão.
Em 2023, cerca de 90 GW de armazenamento de baterias foram instalados globalmente. Desse total, dois terços foram destinados a dar suporte à rede elétrica.
Os preços das baterias estão em queda impulsionados por avanços tecnológicos e novos produtos químicos. O preço das baterias de lítio, por exemplo, caiu cerca de 40% entre 2019 e 2023, segundo a Bloomberg NEF.
A consultoria Bain estima que o mercado de armazenamento em larga escala possa expandir rapidamente de US$ 15 bilhões (R$ 83,5 bilhões) para até US$ 700 bilhões (R$ 3,9 trilhões) em 2030.
Made in China. O gigante asiático é o principal produtor dos equipamentos e residência de quatro dos cinco maiores fabricantes mundiais, como CATL e BYD.
Excesso de capacidade? Apesar da força, o setor está lidando com um excesso de capacidade. A Bloomberg NEF relata que a produção de baterias de lítio na China já é suficiente para atender à demanda global.
Esse excesso de oferta está levando à consolidação do mercado. Muitas fábricas foram canceladas ou adiadas, e startups ocidentais estão sendo severamente afetadas pela queda nos preços.
Um exemplo é a sueca Northvolt, que reportou um prejuízo de US$ 1,2 bilhão (R$ 6,7 bilhões) em 2023.
Inovação. Apesar da intensa concorrência, novas tecnologias impulsionam o mercado. As baterias de íons de sódio são uma alternativa promissora, mais baratas que as de lítio.
Outros nomes. Mais startups e grandes empresas estão investindo em novas soluções. A Natron, apoiada pela Chevron, está investindo em uma fábrica de baterias de íons de sódio na Carolina do Norte, Estados Unidos.
Já a EnerVenue está comercializando baterias de níquel-hidrogênio, que podem armazenar energia por longos períodos.
**DE OLHO NA BOLSA**
Yduqs, dona do Ibmec e da Estácio, disparou 13% na última semana
As ações da companhia de educação Yduqs seguem no radar dos investidores nesta semana, após a decisão da gestora de investimentos SPX de ampliar sua fatia na empresa ter gerado um efeito dominó na Bolsa.
Os investidores interpretaram a compra como um sinal positivo para o futuro companhia e decidiram investir nas ações. A Yduqs é dona de grandes marcas de ensino superior como Ibmec, Idomed e Estácio.
↳ Em cinco dias, as ações subiram 13,50%, atingindo R$ 10,91.
↳ Em 2023, a receita da Yduqs foi de R$ 5,1 bilhões, 13% acima do registrado em 2022.
A empresa tinha 1,431 milhão de alunos de graduação até o último trimestre. Desse total, 1,1 milhão era de alunos de cursos à distância.
A companhia abriu capital com a Estácio Participações na Bolsa em 2007. Desde então, expandiu-se por meio de aquisições.
VICTOR SENA / Folhapress