BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O secretário-adjunto de Estado para Recursos Energéticos dos Estados Unidos, Geoffrey Pyatt, diz não acreditar que o mundo cortará o uso de petróleo e gás em um futuro próximo, mas defende a aceleração do investimento na transição energética.
Segundo ele, o foco deve estar nos minerais críticos, além de um esforço nas áreas de controle e captura de gases do efeito estufa para reduzir a pegada de carbono dos combustíveis fósseis e seu impacto sobre o meio ambiente.
Como exemplo, fala da mensuração e não queima do metano, algo que só recentemente começou a ser feito, e da estocagem de CO2 no subsolo, nos próprios poços de petróleo esvaziados prática criticada por alguns ambientalistas, que afirmam não haver garantia de segurança.
“A responsabilidade de todos nós, que somos tradicionais produtores de energia, é focar sistematicamente em como podemos reduzir a intensidade de carbono da energia fóssil que usamos”, disse à Folha.
“O mundo não vai parar de usar os fósseis [num futuro próximo], então precisamos descobrir como fazer isso com o mínimo de dano possível.”
O secretário visitou o Brasil para agendas relacionadas a minerais críticos e transição energética.
O solo brasileiro é rico em uma série destes minerais como nióbio, bauxita ou manganês, que são importantes, por exemplo, para a produção de baterias que podem estocar a energia gerada por fontes eólicas e solares, e servir de motor para carros elétricos.
Atualmente, a China domina este mercado e é o país com maior capacidade de processar estes materiais.
Agora, os Estados Unidos negociam parcerias com o Brasil e na América Latina para fornecimento desses minérios e querem ampliar a capacidade de processamento e produção da sua indústria da transição energética.
“Definitivamente existe uma competição pelos recursos que precisamos para impulsionar a transição energética. A China saiu na frente dos Estados Unidos em termos de identificar a importância estratégica dessa indústria da transição energética, mas nós estamos alcançando”, diz Pyatt.
Ele repete seu superior, Antony Blinken, e diz que os EUA podem fazer “uma oferta melhor” nestas negociações, justamente pelas características econômicas que diferem seu país da nação oriental.
“Nós não vamos nos medir pela China ou qualquer outro país, vamos nos manter atrelados aos valores dos americanos”, diz.
“A economia dos Estados Unidos é super flexível, muito grande e o governo tem uma musculatura enorme para movimentá-la, como com o inflation reduction act que vai injetar US$ 360 bilhões na economia em dez anos. Isso proporciona previsibilidade, que traz novos investimentos no setor de transição energética.”
Pyatt diz que estes os aportes no combate ao aquecimento global precisam acelerar para evitar que a temperatura média do planeta alcance a marca de 1,5°C a mais que na era pré-industrial o que, segundo cientistas, pode levar partes da Terra ao ponto de não retorno, ou seja, quando o meio ambiente não consegue mais sobreviver.
Investir em energia renovável, como eólica e solar, é parte dessa estratégia, e os minerais críticos viabilizam essas tecnologias.
Em maio, a embaixadora americana no Brasil, Elizabeth Bagley, afirmou que os Estados Unidos vão anunciar uma integração de cadeia de suprimentos em minerais críticos do Brasil e em transição energética.
Os detalhes, segundo ela, ainda serão divulgados, mas as conversas acontecem enquanto a presidência do G20 é brasileira e no ano em que as relações bilaterais entre as duas nações completam dois séculos.
Uma das especulações é a inclusão do Brasil no PGII (em inglês, parceria global para infraestrutura e investimento), grupo comandado pelo G7 e que visa aportes estratégicos neste setor.
Pyatt diz que o Brasil tem potencial para ser um líder global no fornecimento dos minerais críticos.
“Só vamos atingir as metas climáticas com uma ampla parceria internacional e vemos o Brasil perfeitamente posicionado para exercer um papel de liderança.”
O principal destes objetivos é evitar que o mundo atinja a marca de 1,5°C, o ponto central do Acordo de Paris, do qual tanto Brasil, como Estados Unidos, são signatários.
“É um reflexo da convergência de objetivos do presidente Lula [PT] e do presidente [Joe] Biden”, completa.
Os EUA chegaram a deixar o Acordo de Paris durante o governo do republicano Donald Trump, em 2020. Um ano depois, Joe Biden recolocou o país dentre os signatários do tratado.
Trump, reconhecidamente um negacionista das mudanças climáticas, pode voltar ao poder nas eleições deste ano.
Pyatt diz ser apenas um “um observador” da política interna, mas não vê possibilidade de retrocesso na transição energética, independentemente do resultado das urnas.
Em conversas com governadores e parlamentares republicanos de estados como Alasca, Geórgia e Carolinas do Sol e do Norte, afirma ele, todos se mostram empenhados em desenvolver uma economia sustentável.
Inclusive, diz, parte dos investimentos em transição energética e minerais estratégicos aconteceram durante o antigo governo Trump.
Cita, por exemplo, que a maior usina eólica do seu país fica no Texas, um estado reconhecido pela produção de petróleo e gás natural.
“Sabemos que somos o maior produtor de petróleo e gás do mundo, isso faz parte da competitividade da nossa economia, não vai mudar. O que já está mudando é o foco em como reduzir a pegada de carbono dessa energia. Houve uma virada na maneira como a nossa economia está organizada”, diz.
“Para bilhões de pessoas no mundo, transição energética ainda significa a transição de não ter energia para ter. Então temos que descobrir como entregar essa energia de uma maneira que não seja tão danosa ao clima como a que temos feito nos últimos cem anos.”
JOÃO GABRIEL / Folhapress