Museu de Arte do Rio Grande do Sul reabre sete meses após enchentes

PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – De portas fechadas há sete meses, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) reabriu ao público, em Porto Alegre, com uma exposição que destaca os impactos da tragédia climática que afetou o estado em maio passado.

A mostra “Post Scriptum – Um Museu como Memória” apresenta obras e espaços do museu que foram atingidos pela inundação do lago Guaíba, que oscilou entre 1,7 e 2 metros no térreo.

De acordo com o diretor do Margs, Francisco Dalcol, todas as 4.000 obras atingidas em algum grau já passaram pelos primeiros processos de restauro, que incluem estabilização e desumidificação, além do congelamento de documentos em papel. “A gente não tem obras consideradas perdidas. Temos diferentes níveis de comprometimento”, diz Dalcol.

Uma etapa em andamento é a desinfestação de obras que desenvolveram fungos após o contato com a água da enchente. Deles, elas serão limpas e restauradas.

Parte do acervo está sob os cuidados de diferentes instituições de restauro, enquanto obras que exigem intervenções complexas são tratadas pela própria equipe do museu, que também conta com o apoio de técnicos da Universidade Federal de Pelotas.

“É um trabalho demorado, alongado, científico e artesanal ao mesmo tempo, porque envolve habilidades. Nesse momento, a gente tem mais de cem obras que completaram todo esse processo”, diz o diretor do museu. “A gente está desenvolvendo muita metodologia aqui, e acho que depois de tudo isso vai ter muita literatura de situação de emergência”.

O museu recebeu um investimento de R$ 5,6 milhões do Banrisul para sua recuperação e R$ 1,6 milhão do Fundo da Defesa Civil, além de repasses da Secretaria Estadual de Cultura e de doações da sociedade civil. O valor foi investido no restauro de obras e na reforma da infraestrutura atingida.

Além de ver obras ligadas à temática da água e da memória, agora o público pode acompanhar restauradores que trabalham na limpeza e recuperação. O espaço traz informações sobre o histórico do museu e de outros fenômenos que atingiram a cidade, como a enchente de 1941, a maior da história por 83 anos.

Uma das instalações, que vai entrar para o acervo fixo do Margs, é a cortina do antigo escritório de Dalcol, manchada até a metade pela marca da água barrenta. A crítica de arte e professora universitária Maria Amélia Bulhões lembra o choque da comunidade artística em ver o museu de arte mais antigo do Rio Grande do Sul em uma situação vulnerável.

“Aqui tem uma coleção maravilhosa, todos ficamos muito abalados com o que aconteceu, e vimos todo o movimento da sociedade, dos artistas, de todo mundo para tentar recuperar esse patrimônio”, diz Maria Amélia. “É emocionante ver isso aqui agora sendo trazido a público.”

Ela diz que cresceu ouvindo histórias de sua mãe sobre a enchente histórica de 1941 e acredita que é preciso entender que a cidade continua sujeita a fenômenos climáticos extremos. “Viver ao lado do Guaíba nos traz compromissos de estabelecer relações mais seguras e mais harmônicas com o meio ambiente. A gente precisa ter consciência de que essa vivência também exige o compromisso de uma comunidade”, diz.

“É muito importante essa exposição ter essa característica de resgatar memórias, coisas que aconteceram há décadas atrás e meses atrás. Brinca com essa ideia do tempo também”, afirma a educadora Raíssa Leal, de 27 anos.

O térreo do prédio abrigava a reserva técnica, situada dentro de um antigo cofre, o sistema de climatização do prédio e salas administrativas. A reserva técnica terá um novo espaço no pavimento superior, e o museu recebeu autorização para captar R$ 8,6 milhões pela Lei Rouanet para continuar o restauro.

A definição sobre o uso futuro do térreo do prédio ainda não foi tomada, mas Dalcol admite a possibilidade de transformar o local em um espaço expositivo. “A nossa prioridade é organizar o acervo e reorganizar as equipes, e até lá vamos ter tempo para entender a viabilidade disso”, diz. As obras no térreo devem ser concluídas até o final de 2025.

CARLOS VILLELA / Folhapress

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