Música em 2024 teve ‘Brat’, ‘MTG’, Beyoncé no country, Madonna no Rio e Anitta no funk

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Este ano, Charli XCX fez um verão durar o ano inteiro. A cantora britânica, há anos estrela de um pop alternativo, despontou com um álbum dançante sem deixar de ser experimental e colou um nome sobre um fundo verde no ideário pop mundo afora.

“Brat”, o título do disco, marcou a ascensão ao mainstream do hyperpop, estilo de refrões melódicos chiclete e batidas plastificadas e propositadamente exageradas. Mas, mais do que isso, virou uma expressão para se referir a tudo que é descolado —o que, neste caso, incluiu até Kamala Harris. Espécie de anti-Taylor Swift, Charli bagunçou tudo o que é certinho demais no pop e fez o tão propalado verão —no hemisfério norte— “Brat” se esparramar pelo menos até dezembro.

Mas o ano movimentado na música não se resumiu à festividade baladeira. Só nos Estados Unidos, Beyoncé travou uma batalha estética pelas raízes do country, gênero que pautou obras até do trapper Post Malone.

No Brasil, um outro termo tomou conta da lista de mais ouvidos. As MTGs, abreviação de montagem, deixaram de ser um estilo underground do funk mineiro, e um modo de fazer do carioca, para se tornarem a designação dos remixes funkeiros de sucessos de outros ritmos. Aconteceu com Seu Jorge, Caetano Veloso e até Mart’nália, que viram suas gravações serem retrabalhadas em batidas dançantes.

O funk, aliás, bateu o sertanejo nas listas de mais ouvidos do ano no Spotify, o serviço de streaming musical mais popular no Brasil. Entre os artistas, o funk teve três dos cinco mais tocados —MC Ryan SP, MC IG e MC PH— e três das cinco faixas mais escutadas. São elas “Let’s Go 4”, assinada pelo DJ GBR e outros nove MCs, “The Box Medley Funk 2”, produzida por DJ Oreia com mais quatro MCs, e “MTG Quem Não Quer Sou Eu”, em que o DJ Topo recria o sucesso de Seu Jorge com os MCs G15 e Leozin.

Essas duas primeiras, aliás, chamam a atenção por sua duração. “The Box Medley Funk 2” tem quase cinco minutos, enquanto “Let’s Go 4” passa dos dez. Para faixas longas, chegar tão alto nas paradas é um feito, já que os algoritmos do streaming priorizam faixas curtas.

O disco “Funk Generation”, grande lançamento de Anitta no ano, por exemplo, tem só uma de suas 15 faixas com mais de três minutos. Indicado ao Grammy de melhor álbum de pop latino, esta é a obra de funk mais ambiciosa da história. Marcou o momento em que, depois do reggaeton e do pop americano, Anitta passou a tentar conquistar o mundo com as batidas brasileiras.

O sertanejo deu as caras entre os mais ouvidos, mas desta vez com lançamentos antigos. Henrique & Juliano, os mais tocados do Brasil no Spotify, têm as duas primeiras posições no ranking de álbuns —com “To Be”, de 2023, e “O Céu Explica Tudo”, de 2017. Compõem a lista outros dois títulos do ano passado —”Escolhas, Vol. 2″, de Zé Neto & Cristiano, e “Raiz Goiânia”, de Lauana Prado, este puxado por sua versão de um sucesso ainda mais velho, “Escrito nas Estrelas”, de Tetê Espíndola.

Duas músicas deste ano se destacaram no gênero —”Gosta de Rua”, de Felipe e Rodrigo, e “Dois Tristes”, de Simone Mendes. Mas até Ana Castela, terceiro nome mais ouvido do Spotify, neste ano regravou modões, ainda que sem abandonar o funk.

Restou a Grelo, goiano que compôs dezenas de sucessos sertanejos, o posto de novidade do ano na música muito popular do Brasil. Encarnando um seresteiro de teclados que canta Racionais MCs, ele despontou com “Só Fé”, hit maior até que “Casca de Bala”, forró que explodiu na voz do potiguar Thullio Milionário.

Lá fora, o rap teve uma de suas maiores rixas. Kendrick Lamar desafiou e bateu Drake na rima, num duelo de músicas cheias de acusações que durou meses. Golpe final do vencedor de Pulitzer, “Not Like Us” já virou um clássico, e ele celebrou com uma “volta da vitória” em forma de álbum, “GNX”.

“Not Like Us” teve sete indicações ao Grammy, que vai destacar queridinhos e novidades do pop. Taylor Swift estará lá com “The Tortured Poets Department”, assim como Sabrina Carpenter e seu hit “Espresso”, mas também haverá o pop sáfico de Chappell Roan —e também de Billie Eilish, que cantou sobre gostar de mulheres em seu disco “Hit Me Hard and Soft”, um dos destaques do ano.

Houve ainda quem renasceu, caso dos Beatles, que fizeram uma música inédita com o uso de inteligência artificial para tratar uma gravação antiga de John Lennon, e do Pearl Jam, que voltou a lançar um disco, “Dark Matter”, assim como o Linkin Park, agora com uma mulher, Emily Armstrong, nos vocais. Até o The Cure teve um álbum na pista, algo que não fazia desde 2008.

No Brasil, os Boogarins reativaram seu rock psicodélico com “Bacuri”, mas quem furou algumas bolhas foi Liniker, celebrada por “Caju”. Matuê ficou mais reflexivo em “333”, Pabllo Vittar seguiu com sua pesquisa de tecnobrega, Amaro Freitas impressionou com “Y’Y”, Hermeto Pascoal fez tributo à sua amada, Milton Nascimento cantou com Esperanza Spalding e Gloria Groove, como Mart’nália, caiu no pagode.

Falando de música ao vivo, é impossível não lembrar do furacão que foi Madonna no Rio de Janeiro. Estrela pop da máxima importância, ela reuniu 1,6 milhão de fãs eufóricos em Copacabana e despertou a ira de conservadores país afora.

Bruno Mars tocou tanto que quase se mudou para cá, o Rock in Rio se abriu ao sertanejo e abraçou o trap, mas brilhou com Mariah Carey, enquanto The Weeknd cantou em São Paulo. O Pavement voltou ao Brasil depois de 14 anos, Eric Clapton após 13, Iron Maiden depois de dois e Paul McCartney, de um.

Maior banda de heavy metal do Brasil, o Sepultura iniciou sua turnê de despedida —algo que Gilberto Gil, que neste ano estreou uma ópera, anunciou que fará no próximo ano. Seus conterrâneos, Caetano Veloso e Maria Bethânia também pegaram a estrada, juntos no palco depois de 46 anos.

Foi ainda um ano de baixas, com mortes do rock —do Wayne Kramer, líder do MC5— aos do sertanejo—, como Chrystian, da dupla com Ralf. O Brasil perdeu as vozes de Agnaldo Rayol e Diana. Lá fora, se foram o alquimista do grunge, Steve Albini, o ex-Iron Maiden Paul Di’Anno, entre outros.

Perdemos também gigantes como Sergio Mendes, ícone da bossa nova, e Quincy Jones, arquiteto do pop. Mas a morte mais chocante foi a de Liam Payne, ex-One Direction que tinha só 31 anos quando foi encontrado sem vida em Buenos Aires.

LUCAS BRÊDA / Folhapress

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