Musk mantém contato regular com Putin desde o final de 2022, diz jornal

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O bilionário Elon Musk mantém uma comunicação frequente com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e com outros funcionários do alto escalão do Kremlin desde o final de 2022, afirma uma reportagem do jornal americano The Wall Street Journal publicada nesta sexta-feira (25).

A informação é de autoridades americanas, europeias e russas que falaram ao veículo em condição de anonimato. Segundo elas, as conversas entre o empresário e o líder russo abordam não só questões de negócios como também o cenário geopolítico contemporâneo.

A questão é que a Rússia de Putin tornou-se um dos maiores adversários dos Estados Unidos nos últimos anos. A “amizade sem limites” do país com a China, que disputa com os EUA o título de maior potência global, as suspeitas de que ele buscou manipular a opinião pública americana por meio de campanhas de desinformação e, finalmente, sua decisão de invadir a Ucrânia em fevereiro de 2022 levaram as tensões entre Moscou e Washington a um ápice, com o Departamento do Tesouro colocando Putin na mesma categoria de sanções que ditadores como o norte-coreano Kim Jong-un, o sírio Bashar al-Assad e o belarrusso Aleksandr Lukachenko.

A apreensão quanto aos elos entre Musk e Putin ainda são agravados por dois fatores. Por um lado, o bilionário se consolidou ao longo deste ano como um dos principais apoiadores da campanha do ex-presidente Donald Trump à reeleição, e o republicano já indicou que, caso eleito, gostaria que ele desempenhasse algum papel em sua administração.

Nesse sentido, a aproximação do dono do X com o líder russo pode representar uma reconciliação da política externa de Washington com Moscou se Trump chegar ao poder.

Além disso, as empresas do bilionário fornecem serviços para órgãos militares e de inteligência do governo americano, o que faz com que ele tenha acesso a informações confidenciais de certo nível —reportagem do The New York Times publicada recentemente mostrou que só os contratos de entidades federais dos EUA com a SpaceX, empresa de exploração espacial de Musk, somam mais de US$ 15 bilhões (R$ 85 bilhões), por exemplo.

Teoricamente, assim, seria possível que Musk estivesse compartilhando dados sensíveis com o Kremlin, ainda que as autoridades que falaram ao Wall Street Journal tenham negado a existência de suspeitas nessa direção.

Musk não respondeu aos pedidos de comentário do jornal americano. Um porta-voz do Pentágono afirmou que não discute nem autorizações de segurança e status de indivíduos nem relatos sobre suas ações.

Por fim, contatado pela reportagem, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que Musk só falou uma vez com Putin, por telefone, e que na ocasião os dois apenas discutiram exploração espacial e avanços tecnológicos. Nesta sexta, depois da publicação do texto, o porta-voz voltou a negar a existência de contatos regulares entre o presidente russo e o bilionário, e ressaltou que a chamada citada ocorreu antes de 2022.

De todo modo, o Wall Street Journal lista uma série de ocasiões em que a influência de Putin sobre Musk teria ficado clara.

Segundo o texto, a evolução das posições de Musk quanto à Guerra da Ucrânia são ilustrativas disso. Logo que houve a invasão russa, em fevereiro de 2022, o bilionário fez declarações fortes em apoio a Kiev, e doou milhares de terminais da Starlink, sua empresa de internet por satélite, para o território atacado.

Ao longo daquele ano, porém, a postura do empresário começou a mudar. Em setembro, por exemplo, ele vetou o uso de redes da Starlink em ações ofensivas ucranianas, decisão justificada com o argumento de que o serviço foi desenvolvido para uso civil.

Naquele mesmo período, Musk postou no Twitter, plataforma que ele depois compraria e rebatizaria de X, uma queixa sobre como a operação da Starlink na Ucrânia estava causando prejuízos financeiros. Na mesma rede, defendeu um acordo para o fim do conflito com termos semelhantes àqueles defendidos pela Rússia, como a manutenção da península da Crimeia, anexada em 2014, sob o poder de Moscou, e a exclusão de Kiev da aliança militar ocidental, a Otan.

Segundo uma das pessoas entrevistadas pelo Wall Street Journal, isso coincidiu com um aumento da pressão —quando não ameaças— do Kremlin sobre Musk.

Outro caso citado pelo jornal americano como exemplo do diálogo entre o bilionário e Putin teria sido a garantia de que a Starlink não operaria em Taiwan, a pedido do líder chinês, Xi Jinping. Pequim considera que a ilha, que reivindica sua independência, é parte inalienável de seu território.

Se confirmada, a aproximação entre Musk e o Kremlin seria mais um exemplo de seus crescentes desejos de ir além da seara dos negócios e adentrar aquela da geopolítica. Ele se encontrou várias vezes com ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por exemplo, e com o presidente da Argentina, o ultraliberal Javier Milei.

Mas Putin, suspeito de ter ordenado assassinatos de inimigos políticos e no comando de um dos arsenais nucleares mais poderosos do mundo, está num outro patamar de poder.

Redação / Folhapress

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