PAQUETÁ, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – “Aqui tu só vai encontrar gente que fala bem dele”, gritou Tadeu Rocha para a reportagem. Ele falava de Lucas Paquetá, jogador da seleção brasileira e o mais famoso dos filhos da Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro.
A afirmação tem muito a ver com o tamanho do local, uma cidadezinha em que carros são proibidos de apenas 3.500 habitantes. Mas também com a acusação: o jogador teria levado cartões amarelos de propósito e apostas feitas em sua terra natal foram beneficiadas.
Ninguém diz que aconteceu. Em uma tarde andando de bicicleta pelas ruas do local, a opinião é unânime: “Não fez nada”. Foi isso que Tadeu falou, que Charles, “do time do Gás”, reiterou, e que um homem, vestido com a camisa do Sport e que não quis identificar, insistiu.
“Conheci esse moleque pivete, rapaz. Conheço pai, mãe, tio… Por que o moleque ia fazer isso, cara? Cheio de dinheiro, bem situado, vai se sujar por causa de centavo? Para ele isso é uma gota no oceano! Não foi ele que estava envolvido”, explicou Tadeu, um típico malandro do Rio de Janeiro.
O que se sabe, até agora, é o que saiu na imprensa da Inglaterra sobre o caso:
Paquetá levou cartão amarelo em quatro partidas pelo West Ham, entre novembro de 2022 e agosto de 2023.Empresas que monitoram o mercado de bets detectaram um número alto de apostas para que Paquetá fosse advertido.A investigação descobriu também que cerca de 60 contas originárias da Ilha de Paquetá apostaram de R$ 50 a R$ 2.700 no fato.Essas apostas renderam R$ 675 mil.Ninguém que aceitou dar entrevistas disse que faz apostas esportivas. Ninguém conhece alguém que apostou no caso. E falar sobre o assunto é tabu. Todos que conversaram com a reportagem se mostrou desconfortável com as perguntas.
O discurso era sempre o mesmo:
“Conheci ele pivete, não faria isso.””Ele vai conseguir provar a inocência.””Não era de farra, não era de nada.”Mas, conversa vai, conversa vem… E uma pessoa explicou por que o assunto incomoda tanto. Foi na pracinha da cidade, onde uma série de homens jogava cartas nas mesas de concreto.
“Depois dessas denúncias, falaram que tinha um grupo que tinha jogado… Nem sei quem. Se houve alguma coisa assim, deve ter sido com, sei lá, colega. Se for provado que aconteceu mesmo, ele pode ter feito isso em benefício de outros. Se é que vai ser provado, né? Tem que aguardar os acontecimentos”.
Quem disse isso foi o homem com a camisa do Sport, que não aceitou falar seu nome.
A reportagem ainda passou pelo campinho da praia da Moreninha, onde Paquetá começou no futebol, e na sede do Municipal Futebol Clube, que o jogador defendeu quando era criança. Silêncio.
Lucas Paquetá só falou uma vez sobre o caso. “Fui aconselhado a não fazer comentários sobre o caso. Continuo fazendo o possível, cooperando, advogados trabalham na minha defesa e faremos de tudo para ser esclarecido no fim”, disse em entrevista coletiva durante da seleção brasileira que se prepara para a Copa América, nos EUA.
No sábado, o blog do Rafael Reis, do UOL, publicou uma parte da estratégia de defesa: os advogados vão dizer que Paquetá pediu para não jogar uma das partidas em que ele teria levado o cartão intencionalmente.
A pena que o jogador pode levar é grande: os jornais ingleses já disseram que as autoridades trabalham até com a chance de banimento do esporte. Ainda não há data para o julgamento.
Até lá, a ilha de Paquetá está com seu filho. Porque “todo mundo aqui se conhece”, “nós jogamos bola com ele desde pequeno” e “a gente não tem como desejar o mal a ele”.
BRUNO BRAZ / Folhapress