SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Acusar colégio Porto Seguro de segregar os alunos pagantes dos bolsistas é mentira e injustiça”, diz Gilson Rodrigues, fundador da G10 Favelas (grupo que reúne as dez maiores comunidades do Brasil).
O colégio alemão, que possui 1.600 alunos bolsistas, foi processado nesta segunda-feira (15) por outras três ONGs que acusam a instituição de separar os estudantes. As entidades Educafro, Ponteduca e Anced Brasil pedem por uma indenização de R$ 15 milhões, além da adoção de medidas de promoção da equidade racial e social.
Por meio de nota, o colégio refuta a acusação de discriminação e diferença de tratamento dos alunos. O texto afirma que a instituição “atua na promoção da equidade para toda a comunidade escolar e acolhe, há mais de 60 anos, estudantes bolsistas provenientes de famílias de baixa renda”.
Gilson Rodrigues diz que o Porto Seguro, assim como outras instituições de ensino, sempre foram parceiros da comunidade em um período que muitas crianças não conseguiam vagas em escolas públicas e nem creches.
“Durante muitos anos, Paraisópolis tinha crianças fora de creches. De 2008 para cá, foram construídas escolas e zeramos a fila de creche. Até então, tínhamos apoio de colégios de elite que cercam Paraisopolis, sempre foram parceiros”, diz ele.
O fundador do G10 afirma que o Porto Seguro desempenha um papel de fornecer vagas e parceria com a comunidade desde quando a prefeitura e o governo do estado não chegavam na comunidade. “Eles [gestões municipais e estadual] diziam que iriam urbanizar Paraisópolis, mas não nos davam soluções. Não é justo que o Porto seja acusada de segregação”, diz Rodrigues.
Ele alega que não foi consultado pelas ONGs que moveram o processo e que pretende mobilizar a comunidade para refutar as alegações das entidades.
O colégio, fundado há 144 anos, criou em 1966 a então chamada Escola da Comunidade para atender estudantes pobres. Hoje, cerca de 1.600 alunos de baixa renda recebem bolsas de estudo integral divididas entre educação básica e educação para jovens e adultos. Eles recebem uniforme, material escolar e alimentação gratuitamente.
Até 2020, alunos pagantes e não pagantes estudavam na mesma unidade, localizada no Morumbi (zona oeste de São Paulo), porém isso mudou quando todos os bolsistas passaram a estudar em outro prédio na Vila Andrade (zona sul). As duas unidades estão separadas por cerca de quatro quilômetros.
A mudança, de acordo com o Porto Seguro, aconteceu porque a nova unidade está em um local mais acessível para moradores de Paraisópolis e da Vila Andrade, bairros de origem de grande parte dos bolsistas. As ONGs dizem que os alunos dos dois locais conseguem acessar a unidade do Morumbi.
Rodrigues afirma que a unidade foi um pedido feito pela própria comunidade. “A escola ampliou o número de vagas. Para os alunos é como ganhar na loteria, é uma chance de as crianças não irem para a violência. É o contrário da segregação”, diz ele.
O presidente da G10 diz ainda que “pode ter um aluno ou outro que gostaria de frequentar a unidade para os pagantes”, mas que é um colégio grande com milhares de alunos e que é preciso uma organização.
Para ele, a iniciativa do colégio é capaz de fornecer oportunidades para que os alunos ingressem em universidades renomadas e garantam empregos no futuros. “São oportunidades para que as pessoas tenham dinheiro no bolso”, diz. “Não é justa essa acusação.”
Ele afirma ainda que o projeto do colégio que já tem mais de seis anos foi responsável pela formação de uma geração de alunos. “Muitas coisas avançaram fruto deste projeto. Essa nova classe média é fruto de ter estudado neste projeto.”
ISABELLA MENON / Folhapress