Não estou perdendo meu sono com a transição do BC, diz presidente do Bradesco

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A troca no comando do Banco Central ao fim deste ano será equilibrada e tranquila, na opinião do presidente do Bradesco, Marcelo Noronha, tal como sinaliza o atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto.

“Sinceramente, tem gente que se perturba demais com isso, eu não estou perdendo meu sono com isso não. Confio tanto do lado do BC, quanto do lado do Ministério da Fazenda, que vão procurar fazer a melhor transição possível”, disse o executivo a jornalistas durante a Febraban Tech 2024 em São Paulo, nesta terça-feira (25).

O diretor Gabriel Galípolo (Política Monetária) é o favorito para assumir o comando do BC em 2025 -o atual mandato de Campos Neto se encerra em 31 de dezembro.

Galípolo participou da campanha eleitoral de Lula e atuou como número 2 do Ministério da Fazenda até ser indicado para a autoridade monetária. Pela sua proximidade ao presidente, analistas temem que Galípolo adote uma política de combate à inflação mais amena que a atual e com juros menores.

Na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), porém, o economista se alinhou a Campos Neto na votação unânime pela interrupção na queda da taxa básica de juros (Selic).

“Minha leitura foi que seguraram a taxa com base técnica para ver o comportamento [das variáveis macroeconômicas]”, disse Noronha.

O CEO do Bradesco também disse que não trabalha com a possibilidade de alta de juros, aventada pelo mercado financeiro após a valorização das taxas de juros futuros, que traduzem as apostas de economistas para o futuro da Selic.

“O mercado não é feito só de banco. É feito de um conjunto de gestoras, de outros agentes financeiros e de empresas. Eu estou mais otimista, eu não estou com a visão tão pessimista quanto muita gente [no Brasil]. Ainda estamos em um caminho razoável, de equilíbrio”, afirmou Noronha.

O Bradesco prevê que o juro fique entre 10,25% e 10,5% ao fim do ano. “Inicialmente, tínhamos uma taxa abaixo de 10%, mas essa é a expectativa agora”.

“Este ainda é um nível alto, de dois dígitos. Obviamente, como brasileiros, gostaríamos de ver taxas menores, mas veja só, aqui não cabe contestação ao desenrolar dos eventos, do comportamento da inflação e da taxa de juros nos Estados Unidos, porque isso influencia, efetivamente, o ambiente aqui”, completou Noronha.

Além da inflação acima da meta de 3% ao ano e da alta taxa de juros americana no maior patamar desde 2001, o risco fiscal brasileiro é outro fator determinante para a alta nas taxas de juros futuros. Com o esgotamento de medidas que visam aumentar a arrecadação, o governo federal agora discute cortes de gastos.

“Acreditamos que a Fazenda vai, efetivamente, se articular e conseguir, junto com o Ministério do Planejamento, fazer o orçamento adequado e de, efetivamente, conseguir êxito. Responsabilidade fiscal é importante para todo mundo”, disse Noronha.

No início do mês, após derrotas no Congresso, a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) reiterou publicamente que o ministro Fernando Haddad (Fazenda) tem apoio institucional do setor bancário.

“Nós, bancos públicos e privados, junto à Febraban e à CNF (Confederação Nacional das Instituições Financeiras), na figura do Rodrigo [Maia] e de todos os outros membros, temos buscado um papel construtivo, proativo e próximo ao governo em todas as diferentes esferas e vamos seguir fazendo a nossa parte. Todos aqui estamos investindo, contratando pessoas”, disse Mario Leão, presidente do Santander durante painel da Febraban Tech, que também contou com os CEOs de Itaú Unibanco (Milton Maluhy), Caixa Econômica Federal (Carlos Vieira) e Bradesco.

JÚLIA MOURA / Folhapress

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