Não posso caçoar de quem já é oprimido, diz Rodrigo França, diretor de ‘Humor Negro’

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Dirigido por Rodrigo França em 2022, o especial de comédia ‘Humor Negro’ deu tão certo que virou uma série de dez episódios no Multishow, com estreia nesta segunda (21). Ator dramaturgo, cientista social, filósofo e escritor –um de seus livros, ‘O Pequeno Príncipe Preto’, ficou em primeiro lugar por semanas no topo da listas dos infantis mais vendidos da Amazon, assim que foi lançado– França, em sua estreia como diretor, ousou.

Ao usar a comicidade para desmascarar e tecer críticas ao racismo enfrentado por artistas negros nos bastidores da indústria, França sabe que pode provocar gatilhos, por isso cercou-se de cuidados, dada a delicadeza do assunto. “Não posso caçoar, de forma alguma, de quem já é oprimido”, diz. “A ideia central é rir desse cotidiano, de situações absurdas e inusitadas com enfoque no racismo. A ideia é rir daquele que exerce o racismo”, explica.

Leia abaixo a entrevista com o diretor:

PERGUNTA – Ao usar o humor para desmascarar e tecer críticas ao racismo, não teme que também desperte gatilhos?

RODRIGO FRANÇA – Humor é algo muito difícil. É uma responsabilidade estar rindo de algo ou de quem. Nas casas de pessoas negras, principalmente com letramento, a gente ri de si e não do outro. A ideia central é rir desse cotidiano, de situações absurdas e inusitadas com enfoque no racismo. A ideia é rir daquele que exerce o racismo.

PERGUNTA – Como lidar com possíveis piadas mal interpretadas ou consideradas ofensivas?

RODRIGO FRANÇA – A gente está muito atento a isso, sabe? A gente não quer fazer com que aquele que gera racismo ria e se sinta contemplado. E, ao mesmo tempo, aquelas pessoas que sofrem racismo se sintam mal. Não posso caçoar, de forma alguma, de quem já é oprimido. Então, a gente tem muito esse cuidado e é um jogo de xadrez delicioso. Tem sido bem interessante participar desse projeto, que é uma série de válvulas de escape. “Humor Negro” é uma série que tem o compromisso de fazer gargalhar.

PERGUNTA – Essa é a primeira temporada. Já se fala em manter o programa na grade?

RODRIGO FRANÇA – Tudo depende da audiência, né? A gente trabalhou com uma excelência de qualidade. Eu não gosto de fazer comparações, mas está uma série gringa, no sentido estético, sabe? Há um grande investimento do Globoplay, do Multishow, para que tudo fosse muito contemplado com excelência de qualidade. Então, está tudo ali. Temos artistas super talentosos, uma equipe atrás das câmeras incrível e um produto de qualidade para público.

PERGUNTA – Está satisfeito com o início do protagonismo negro na TV?

RODRIGO FRANÇA – É importante sempre sinalizar que a gente avançou, porque senão seria negar a nossa luta, que é histórica. Nós avançamos, mas não podemos fazer uma falsa simetria quando a gente pensa que 56 % da população se autodeclara negro e negra, mas esse percentual a gente não vê em cena. Estamos muito aquém de quem dirige, de quem trabalha atrás das câmeras, por exemplo.

PERGUNTA – Tem outros projetos em vista?

RODRIGO FRANÇA – Tenho. Mas sou macumbeiro, né? (risos) E macumbeiro não fala nada sem estar assinado, certo mesmo.

PERGUNTA – O que te falta?

RODRIGO FRANÇA – Ah, muita coisa! Eu sou o cara que quer fazer novela. Eu quero dirigir novela. Novela forma o povo brasileiro e se a minha pauta é refletir sobre valores que chegam no povo, tenho que ir para a novela.

PERGUNTA – Te incomoda ser lembrado como um ex-BBB?

RODRIGO FRANÇA – Não me incomoda, não. Todo mundo tem curiosidade de saber e as pessoas mais populares sempre falam comigo sobre o reality.

ANA CORA LIMA / Folhapress

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