FOLHAPRESS – A repercussão inesperada de “Um Lugar Silencioso” em 2018 naturalmente fez surgir um monte do que se costuma chamar de “rip off”, aquele filme feito no embalo de algum anterior, com o objetivo de lucrar a partir do sucesso alheio. No caso citado, basta se lembrar de “O Silêncio”, lançado um ano depois, com Stanley Tucci no elenco e premissa idêntica ao do trabalho de John Krasinski.
Não que este fosse também muito original, visto que a base do roteiro de Scott Beck e Bryan Woods já era derivativa de alguns projetos de M. Night Shyamalan e mesmo de um filme independente do ano anterior, “Ao Cair da Noite”, ou outro do mesmo ano, “Caixa de Pássaros”. De maneira que, como “Um Lugar Silencioso” virou franquia, acumulando três filmes até agora, os “rip offs” seguem o fluxo. “Não Solte!” pode ser enquadrado nessa categoria, a considerar que o enredo escrito por Ryan Grassby e Kevin Coughlin troca apenas algumas batidas de “Um Lugar Silencioso” para ser praticamente a mesma coisa.
O que poderia animar um pouco mais é a direção do francês Alexandre Aja. Apesar da trajetória irregular, ele tem filmes de grande consistência, como “Alta Tensão”, de 2003, e “Viagem Maldita”, de 2006, além de vir de dois títulos fortíssimos e frenéticos, “Predadores Assassinos”, em 2019, e “Oxigênio”, em 2021.
A questão é que “Não Solte!” está mais próximo de trabalhos nos quais Aja não deixava ver muita empolgação com o material que lhe caiu em mãos, exemplo maior sendo o sobrenatural “Espelhos do Medo”, de 2008.
“Não Solte!” está naquela situação de você reconhecer o olhar de um cineasta que domina o gênero com talento e paixão, mas se deixou levar pelo automatismo naquele projeto em específico para cumprir logo o contrato de trabalho.
Há interesse e alguma aflição nos desdobramentos de “Não Solte!”, até porque Aja ainda é o mesmo que os apreciadores sabem identificar. Mas a história da mãe e dois filhos isolados no meio de uma mata fechada, precisando cumprir algumas regras de sobrevivência para não serem atacados pela entidade mortal que assombra o entorno, sofre de falta de energia e de algum tempero para escapar dos lugares-comuns.
O dispositivo da família usar uma corda amarrada na casa para se manter segura ao andar na floresta vira uma desconfortável metáfora ao próprio “Não Solte!”, que nunca se desprende da segurança proporcionada por sua amarração. Em quase toda a duração, o filme indica que irá seguir por determinado rumo e acaba sendo exatamente o que ele faz.
A previsibilidade por si não é um problema de base em nenhuma obra. O que complica é quando ser previsível se conjuga à falta de pulsão e criatividade no desenrolar das cenas. É difícil identificar algum elemento marcante para além do essencial em “Não Solte!”. Não é como se o espectador sentisse que Aja está lutando contra isso como fez em “Hellboy e o Homem Torto”, filme cheio de problemas que se garantia na empolgação siderante a circular por cada um de seus movimentos.
O nome de Halle Berry pode funcionar como chamariz a “Não Solte!”, tanto na popularidade da atriz quanto no fato de ela assinar produção executiva. Ainda assim, e aqui vai um levíssimo spoiler, ela tem pouco a fazer em cena, mesmo sua personagem sendo o elemento central.
“Não Solte!” é a jornada dramática, de fato, das duas crianças em cena, vividas por Percy Daggs IV e Anthony B. Jenkins. Boa parte do filme está no ponto de vista delas, assim como a tensão se concentra a partir das ameaças que a mãe supostamente conhece e tenta impedir.
O que fica de mais interessante se concentra nos rumos para o desfecho, quando “Não Solte!” indica ter potencial de chacolhar a modorra que ele mesmo instalara em boa parte da duração. Alguns dos acontecimentos são brutais, e o desenlace tem o aspecto sombrio que volta e meia aparece na obra geral de Alexandre Aja. Até chegar lá, o espectador pode ter soltado a corda e se perdido entre demônios, mas em muitos casos é justamente disso que se precisava.
NÃO SOLTE!
– Avaliação Regular
– Classificação 16 anos
– Elenco Halle Berry, Percy Daggs IV e Anthony B. Jenkins
– Produção Estados Unidos, 2024
– Direção Alexandre Aja
– Onde assistir Nos cinemas
MARCELO MIRANDA / Folhapress