‘Não sou faccionada’, diz esposa de líder do CV que se reuniu com governo

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A esposa de um líder do Comando Vermelho no Amazonas, que participou neste ano de duas reuniões no Ministério da Justiça e Segurança Pública, afirmou que não faz parte de facção criminosa.

Luciane Barbosa Farias, que preside a ILA (Associação Instituto Liberdade do Amazonas), disse que tinha uma “vida normal” até esta segunda-feira (13), e que nunca foi conhecida como a “dama do tráfico”. A declaração foi feita em uma coletiva nesta terça-feira (14) à tarde.

“Nunca fui conhecida como ‘Dama do Tráfico’, e sim como ‘Lu Farias’. Estava lá [no Ministério da Justiça] como presidente da instituição, levando um dossiê referente às mazelas do sistema prisional. O meu trabalho na instituição é levantar denúncias dos familiares sobre o sistema carcerário”, disse Luciane.

Ela também afirmou que nunca teve encontro com o ministro da Justiça, Flávio Dino, e que em suas visitas ao prédio da pasta não informou que era casada com Clemilson dos Santos Farias, conhecido como Tio Patinhas. Ele foi condenado a mais de 30 anos por associação para o tráfico, organização criminosa e lavagem de dinheiro e responde a processo por homicídio.

Investigada por associação ao tráfico, Luciane disse que foi absolvida em 1ª instância.

“Não ficou comprovado que eu fazia parte de organização criminosa. Não sou faccionada, sou esposa do Clemilson. Meu esposo está preso, pagando pelo erro dele. Nunca levantei bandeira defendendo o crime. Mas defendo a Constituição”, afirmou.

Ela também defendeu a sua participação nas reuniões em Brasília. “Eu não estava impedida de entrar em lugar nenhum, sou cidadã e tenho direito de ir e vir.”

REUNIÕES E AUDIÊNCIAS EM BRASÍLIA

Nas redes sociais, Luciane compartilhou fotos e vídeos em Brasília. Ela já esteve no CNJ (Conselho Nacional de Justiça), na Câmara dos Deputados e em encontro com políticos.

O Ministério da Justiça confirmou ao UOL que Luciane foi recebida por secretários, mas ressaltou que ela integrava uma comitiva de advogados. “A presença de acompanhantes é de responsabilidade exclusiva da entidade requerente e das advogadas que se apresentaram como suas dirigentes”.

Em 19 de março, Luciane esteve com Elias Vaz, secretário nacional de Assuntos Legislativos. Em 2 de maio, ela se encontrou com Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais.

O Ministério da Justiça diz que seria “impossível” a detecção prévia da situação de Luciane.

MP DO TCU QUER INVESTIGAÇÃO

O Ministério Público junto ao TCU (Tribunal de Contas da União) pediu apuração do caso. O pedido, assinado pelo subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado, diz que não é possível alegar que o encontro foi “um erro” e ressaltou que a pasta é obrigada a selecionar interlocutores “que respeitem a moralidade pública”.

Furtado diz que a investigação será para apurar “possíveis condutas atentatórias à moralidade administrativa e em eventual desvio de finalidade no uso das dependências do Ministério da Justiça”.

Flávio Dino, porém, disse que nunca recebeu “líder de facção ou esposa” em seu gabinete no Ministério da Justiça. O ministro afirmou que seu nome foi citado na reportagem de modo absurdo: “Simplesmente inventaram a minha presença em uma audiência que não se realizou em meu gabinete”.

EDUARDA ESTEVES E HERCULANO BARRETO FILHO / Folhapress

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