SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A influencer Natalia “Becker” Fabiana de Freitas, acusada pela morte do empresário Henrique Silva Chagas após realizar um peeling de fenol no rosto dele, disse que “não é médica para pedir exames”. A declaração foi dada em entrevista ao Domingo Espetacular, da TV Record.
Clínica não tinha aparelhos médicos. Natália Becker afirmou que os únicos aparelhos disponíveis na sua clínica eram um oxímetro e um aparelho para medir pressão, e por isso não pôde realizar primeiros socorros. “Não sou esteticista, não fiz faculdade. Sou influencer, empresária”.
Influencer que aplicou peeling de fenol afirma que “procedimento correu bem”. Segundo Becker, “não teve nenhuma intercorrência no procedimento”, mas vinte minutos depois o homem desmaiou. “Pra mim ele não reclamou de dor”, afirma a influencer.
Becker diz que “não sabia dos riscos do procedimento”. A influencer afirma que o curso que fez não ensinava sobre os perigos do peeling de fenol, e que “não existe caso de morte pelo procedimento”. Além disso, disse que não sabia que era necessário ser um profissional formado para aplicar o produto.
“É um trauma que vou carregar para sempre”, diz dona de clínica. “Penso na minha família, na família dele também. Na mãe dele, com certeza deve estar sendo muito difícil para ela. Eu também sou mãe, eu também tenho filho, e acho que é uma coisa… Inexplicável, muito difícil”, disse a influencer.
INFLUENCER FOI INDICIADA POR MORTE DE EMPRESÁRIO
Delegado Eduardo Luis Ferreira explicou à imprensa porque indiciamento foi por homicídio com dolo eventual. “Não pelo fato da autora ter tido vontade do resultado morte, mas por ter aceitado, de certa forma, o risco de ter produzido a morte. O dolo direto é aquele que o agente quer e deseja o resultado, obviamente que não é essa situação, mas o dolo eventual é aquele que o agente acaba, de certa forma, aceitando, por conta dos fatos e das circunstâncias que permearam os acontecimentos, o resultado”.
Indiciamento foi determinado após Natalia prestar depoimento à Polícia Civil no dia 5. O delegado esclareceu que, apesar de o caso ainda estar muito recente, as autoridades já entenderam que o crime que teria sido cometido pela esteticista foi homicídio com dolo eventual.
Influenciadora se mostrou “muito arrependida”. No depoimento, segundo Ferreira, a mulher prestou todas as informações que a polícia precisava saber neste momento e confirmou ser “esteticista”, argumentando que fez cursos livres para exercer a atividade.
Polícia acredita que procedimento realizado na vítima tenha sido “invasivo”. A investigação aguarda exames do IML (Instituto Médico Legal) para confirmar a suspeita da aplicação do fenol na região cutânea de Henrique Silva Chagas. À imprensa, o delegado citou a lei nº 12.842, sobre o exercício da Medicina, que estabelece que atos médicos – e que devem ser feitos por esses profissionais – são, entre outros, procedimentos invasivos (aqueles que tenham invasão do corpo, seja por instrumento, líquido ou objeto no paciente) por questões médicas ou mesmo estéticas.
Para o responsável pela investigação, o peeling de fenol é um procedimento invasivo. Portanto, não poderia ser realizado por profissionais que não sejam médicos dermatologistas e deve ser feito em centro cirúrgico. “Mesmo porque na possibilidade de intercorrências, como de fato aconteceu e culminou na morte do Henrique, se fosse feito em centro cirúrgico por um médico, isso [o óbito] teria sido evitado.”
Mesmo com o indiciamento, a esteticista não foi presa. O delegado explicou que não pedirá a prisão de Natalia neste momento porque ela tem endereço fixo, se apresentou à polícia para depor e não tem antecedentes criminais, informou o SP2 (TV Globo). Apesar disso, os investigadores aguardam os laudos necroscópicos para ver se é possível relacionar diretamente o procedimento de peeling de fenol com a morte da vítima.
Natalia disse à polícia que fez curso online para aprender a aplicação do peeling de fenol. Segundo ela, no curso, ministrado por uma suposta farmacêutica, ela foi instruída que poderia utilizar o composto químico. A esteticista estaria fazendo as aplicações desde dezembro, com a média de dois a três clientes por semana. Essa suposta farmacêutica deve ser ouvida pela polícia.
DONA DA CLÍNICA PRESTOU DEPOIMENTO
Esteticista era procurada pela polícia, já que é investigada pela morte de Henrique Chagas. Na noite de ontem, o delegado Eduardo Luis Ferreira, responsável pelo caso, informou que os defensores de Natalia haviam entrado em contato para combinar como ela poderia se apresentar.
Natalia desapareceu após a morte do jovem. A mulher, que também é dona da clínica, teria passado mal após o cliente morrer. A polícia visitou os dois hospitais indicados como locais onde ela teria buscado atendimento, mas a esteticista não foi encontrada. A defesa da esteticista alegou que ela foi para outro hospital, que não foi onde os agentes compareceram.
Polícia também não havia encontrado a esteticista em endereço indicado como sendo da residência dela e do marido. No local, os agentes foram informados que eles não moram mais no imóvel há três meses, informou o delegado ao Brasil Urgente (TV Bandeirantes), na terça-feira (4).
Clínica foi fechada e autuada pela Vigilância Sanitária municipal após a morte. Autuação ocorreu porque estabelecimento “exercia procedimentos em desacordo com a legislação vigente”, segundo a SMS (Secretaria Municipal da Saúde). A clínica tinha licença da SMS apenas para funcionar e realizar “atividades de estética e outros serviços de cuidados com a beleza”.
VÍTIMA SOFREU PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA
O empresário de 27 anos morreu enquanto passava por um procedimento estético realizado na tarde de segunda-feira (3). A clínica fica localizada na rua Doutor Jesuíno Maciel, no Campo Belo.
Henrique Silva Chagas teve parada cardiorrespiratória durante o procedimento. No peeling de fenol, considerado invasivo e conhecido por estimular o rejuvenescimento da pele, o fenol penetra na epiderme (a camada mais superficial da pele), o que causa sua necrose e induz reação inflamatória controlada não só na epiderme como também na derme (camada localizada abaixo da epiderme).
Vítima veio do interior de São Paulo para fazer o procedimento estético na clínica. Por volta das 14h30, a Polícia Militar foi acionada para apoiar o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) em ocorrência de morte suspeita. O Samu constatou o óbito do jovem ainda no local.
Clínica fica localizada na rua Doutor Jesuíno Maciel e é liderada por Natália Becker. No Instagram, a conta da esteticista tinha mais de 233 mil seguidores. A mulher informava que é “criadora” de um protocolo de tratamento estético e “premiada especialista em melasma”. Ela tem uma unidade da clínica em São Paulo e outra no Rio de Janeiro.
Conta de Natália no Instagram não está mais disponível. Ao procurar a página, aparece a seguinte mensagem: “Esta página não está disponível. O link em que você clicou pode não estar funcionando, ou a página pode ter sido removida. Voltar para o Instagram”.
A Polícia Civil instaurou inquérito no 27ºDP para investigar o crime de homicídio. Foram solicitados exames necroscópico e toxicológico, cujos resultados são aguardados.
THIAGO BOMFIM E BEATRIZ GOMES / Folhapress