SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dizer que os juros no Brasil estão muito altos é falacioso, afirmou nesta sexta (26) o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Segundo ele, ao considerar o juro real neutro, aquele que não gera nem inflação e nem desinflação, o Brasil teria a menor taxa entre os latinos emergentes.
“O que a gente tem que comparar é qual é o esforço monetário, ou seja, o quanto eu estou acima da minha taxa de equilíbrio”, disse Campos Neto durante evento promovido pela Young Presidents Organization nesta sexta-feira (26).
De acordo com os dados apresentados pelo economista, o Brasil está com uma taxa de juros real (o juro nominal menos a inflação) de 6,08% e uma taxa de juros neutra de 4,5%, o que gera um diferencial de 1,58%, a menor ante México (4,27%), Colômbia (2,72%) e Chile (1,68%), mas acima de economias desenvolvidas. No caso dos Estados Unidos, que está com a maior taxa de juros dos últimos 20 anos, esse indicador é 1,15%
“Só olhar a taxa de juros real e esquecer que cada país tem uma taxa de juros neutra de equilíbrio diferente leva a conclusões enganosas. Então, essa narrativa de que os juros estão absurdamente altos e tal, quando a gente olha tanto a taxa de juros histórica, quanto ao esforço monetário, que é a diferença da taxa de juros real para a taxa de juros real neutra, isso não se mostra verdade”, afirmou o presidente do Banco Central.
O patamar da Selic, hoje em 10,75% ao ano, tem sido alvo de críticas pelo governo Lula. O presidente da República chegou a dizer, no começo de seu governo, que Campos Neto teria compromisso com o governo anterior, e não com o Brasil ele foi nomeado à chefia do Banco Central por Jair Bolsonaro em 2019.
Segundo Campos Neto, a inflação se mostra controlada, mas a alta no custo dos serviços é alvo de atenção.
“Precisamos entender qual é a dinâmica deflacionária, de onde vai vir a desinflação daqui para frente. Os números de inflação vieram ligeiramente melhores do que eu esperava, mas precisa ver essa tendência de convergência para a meta se realizar. Por outro lado, as expectativas de inflação vêm piorando. Tanto as expectativas médias quanto as longas vêm piorando, tanto a preço de mercado quanto as inflações da pesquisa Focus”, afirmou Campos Neto nesta sexta.
Segundo o boletim Focus, o mercado espera que o IPCA acumule alta de 3,73% neste ano, ante expectativa de 3,71% da semana anterior.
A previsão para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), por sua vez, teve uma alta mais expressiva, de 1,95% a 2,02% no Focus.
Campos Neto compartilha da expectativa. “Fica muito difícil achar que a gente vai crescer menos de 2% esse ano. Teria que acontecer uma coisa muito diferente no segundo semestre. Aqui tem uma notícia boa, tanto no emprego quanto na atividade econômica, e conseguimos fazer um movimento de deflação com um crescimento surpreendendo para cima, o que é uma coisa muito boa.”
Na sua última projeção, de março, o BC elevou de 1,7% para 1,9% a previsão para a alta do PIB neste ano.
JÚLIA MOURA / Folhapress