SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com velas de 37,5 metros, uso do vento para navegação e economia de combustível, chega ao Brasil nesta sexta-feira (15) o navio graneleiro Pyxis Ocean. Fretado pela empresa de transporte marítimo Cargill, ele vai ficar atracado no porto de Paranaguá, no Paraná.
É a primeira viagem da embarcação que carrega tecnologia com o objetivo de deixar o transporte marítimo mais ecológico. A estimativa é que esta indústria seja responsável por 2,1% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2). A produção é de 837 milhões de toneladas de CO2 por ano.
As viagens marítimas de carga são consideradas o maior desafio de descarbonização no transporte. O Acordo de Paris sobre alterações climáticas, assinado em 2015, coloca como objetivo zerar as emissões de carbono até 2050.
Os grandes navios que carregam granéis e contâineres são vistos como problema porque as viagens transatlânticas são longas e demoradas. O Pyxis Ocean saiu do Estreito de Malaca, entre a Malásia e a Sumatra, na Indonésia, em 21 de agosto.
“Se você pode economizar combustível, está economizando carbono. É uma equação simples. O ponto de partida é acreditar que esses combustíveis serão três ou quatro vezes mais caros. Então, por isso é muito importante é economizar combustível”, disse Jan Dieleman, presidente da Cargill para o diário inglês The Times.
O Pyxis Ocean viaja com o combustível normal, mas faz uso de velas adaptadas, sólidas e com design baseado nos barcos da America’s Cup, a mais conhecida competição de veleiros do mundo. Elas podem ser controladas automaticamente, sem ser necessário o constante ajuste manual. Mas a navegação que dependa apenas do vento é considerada inviável. Os materiais das velas são os mesmos das turbinas eólicas.
“Não podemos dizer aos nossos clientes que a mercadoria deles não chegou porque o mar estava calmo. As velas vão aumentar a propulsão convencional. A performance pode variar, mas cada vela deve economizar 1,5 tonelada de combustível. O Pyxis Ocean tem duas. Se usasse três, economizaria um terço de combustível”, diz Dielman.
A tecnologia foi desenvolvida pela empresa britânica BAR Technologies. As velas (batizada pela empresa como WindWings, ou asas de vento) foram fabricadas na China. A maior parte do financiamento saiu da União Europeia.
“Este é um dos projetos mais lentos que já fizemos, mas sem dúvida com o maior impacto para o planeta. Prevejo que até 2025 a metade dos novos navios serão encomendados com propulsão eólica”, prevê o chefe da equipe da BAR, John Cooper, que já trabalhou na F1 para a escuderia McLaren.
O uso no Pyxis Ocean serve como teste não só pelo tamanho (ele mede 230 metros de extensão) mas para analisar a adaptação a navios antigos, já em operação, sem a necessidade de construir novos. A estimativa é que 55% da frota mundial de graneleiros tenha até nove anos de uso.
Segundo a BAR Technologies, os dados desta primeira viagem com as velas serão analisados para que o desempenho seja melhorado e utilizado não apenas em embarcações fretadas pela Cargill. A companhia, ao lado da parceira Yara Marine Technologies, pretende construir centenas de velas nos próximos quatro anos, com aperfeiçoamentos aerodinâmicos e maior economia de combustível.
“O vento é um combustível quase marginal e sem custos, e a oportunidade de reduzir emissões, junto com ganhos significativos de eficiência em custos operacionais dos navios, é substancial. Hoje é o ponto culminante de anos de pesquisas pioneiras, onde investimos em nossa tecnologia exclusiva de velas eólicas”, analisa John Cooper, diretor-executivo da BAR Technologies.
ALEX SABINO / Folhapress