Nem da Rocinha relata vida na prisão em cartas à esposa

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Preso há 13 anos, o traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, tem escrito uma série de cartas à esposa relatando o sofrimento em presídios de segurança máxima no país. O material será usado em um livro que deve ser lançado no começo de 2025 com coautoria da advogada Paloma Gurgel Bandeira.

Nem da Rocinha cumpre penas que somam 162 anos de prisão.

Material inclui mais de 30 cartas escritas entre outubro de 2023 e março deste ano. Nelas, Nem da Rocinha se queixa do isolamento imposto pela limitação nos contatos com a família. Em petição, a OEA (Organização dos Estados Americanos) cobrou providências do governo brasileiro após denúncias de “tortura e pena cruel” por presos há mais de dez anos em presídios de segurança máxima.

Última condenação de Nem ocorreu em setembro de 2018. Na época, ele foi sentenciado a 66 anos de detenção pelos crimes de homicídio qualificado e ocultação de cadáver pelos assassinatos da modelo Luana Rodrigues de Souza, 20, e de sua amiga Andressa de Oliveira, 25, ocorridos em 2011. Nem nega envolvimento nesses crimes. As demais penas incluem também os crimes tráfico de drogas e formação de quadrilha.

Ele ingressou no trafico para pagar dívida de R$ 20 mil por tratamento de filha com doença rara. Iniciou a sua trajetória no crime como segurança de um dos pontos de venda de drogas até se tornar chefe do crime organizado na Rocinha, na zona sul do Rio, maior favela do Brasil. Ele acabou sendo preso ao ser encontrado no porta-malas de um carro quando era o criminoso mais procurado da capital fluminense.

O UOL pediu posicionamento sobre as denúncias à Secretaria Nacional de Políticas Penais. Contudo, não obteve resposta até o fechamento desta reportagem. Se houver manifestação, será incluída no texto.

“O isolamento prolongado de uma pessoa é cruel e desumano (…). Esposa, esses 20 dias [sem comunicação com as famílias] são angustiantes para todos os presos. Alguns ficam mais agressivos e irritados. Outros, ansiosos e depressivos (…). A solidão, a incerteza e a falta de informação engolem a nossa alma.”

“Na véspera do Natal, antes de escurar, a maioria já estava dormindo, entorpecidos com doses extras de psicotrópicos acumuladas, especialmente, para a ocasião (…). Com 10 dias já não temos material de leitura e os dias se arrastam. Alguns falam já ter contado quantos buracos tem nas grades; 960. Não duvido. Cada um tenta passar o tempo à sua maneira.”

“Tive crise de ansiedade, palpitações, dores de cabeça, dores estomacais, tremores e vertigem. A ansiedade é uma enfermidade que, se não tratada adequadamente, traz consequências graves e o responsável pela divisão de saúde sabe disso”, dizem trechos de cartas de Nem da Rocinha à esposa.

RESTRIÇÕES AOS PRESOS DE PRESÍDIOS FEDERAIS

Sem visitas íntimas. Os presos de unidades de segurança máxima não podem ter visitas íntimas com contato físico desde 2019. As visitas presenciais ocorrem por interfone, sem contato físico e separadas por vidro.

Restrição aos banhos de sol. Os internos que fazem parte dos presídios federais têm direito a apenas duas horas de banho de sol, permanecendo durante o restante do período nas suas celas.

Menores de 18 anos só podem visitar esses internos se forem filhos ou netos. Essas visitas também dependem de autorização judicial e precisam ser acompanhadas pelo responsável.

HERCULANO BARRETO FILHO / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS