Netanyahu defende guerra, ameaça Irã e acena a sauditas na ONU

JERUSALÉM, ISRAEL (FOLHAPRESS) – O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, usou seu discurso na Assembleia-Geral da ONU para defender a continuidade da guerra contra o Hamas e o Hezbollah, ameaçar diretamente o Irã e acenar à Arábia Saudita com um acordo de paz.

Netanyahu foi Netanyahu: apresentou sua versão da realidade do Oriente Médio de uma forma assertiva, colocando o Estado judeu como a linha de frente de uma guerra “do bem contra o mal”, centrada na reação ao atentado terrorista do Hamas palestino em 7 de outubro de 2023.

Como em outras ocasiões em que ocupou o púlpito em Nova York, parte significativa dos presentes deixou o local antes de seu discurso —a delegação brasileira inclusive. Já a claque que incluía parentes de vítimas e reféns do atentado terrorista do Hamas há quase um ano o aplaudia das galerias.

Assim como em 2023, ele apresentou mapas da sua região, explicitando o que considera o eixo das “bênçãos”, uma união entre Tel Aviv e países árabes sunitas, e o da “maldição”, centrado no Irã e seus aliados regionais.

Detalhe não lateral, em seu mapa de Israel os territórios palestinos não surgem autônomos, e sim como parte do Estado judeu.

Netanyahu instou nações a escolher lados. “Qual a opção do seu país? Ficar com Israel, que defende seus valores, ou com quem quer destruir o seu modo de vida?”, questionou.

Diversos países, como o Brasil, adotam uma posição altamente crítica a Israel —a animosidade entre o governo Lula (PT) e o premiê é tanta que nem embaixador brasileiro há hoje em Tel Aviv.

Netanyahu foi especialmente duro com a ONU, sugerindo antissemitismo no fato de que Israel foi condenado 147 vezes pelo Conselho de Segurança da entidade em sua história, ante 73 censuras a outros países. “Essa ONU casa da escuridão, um pântano de bile antissemita”, afirmou.

Netanyahu também recapitulou as atrocidades do Hamas e lembrou que elas nunca foram condenadas pelo presidente palestino, Mahmoud Abbas.

Lembrou dos 1.200 mortos no 7 de Outubro e, aí mirando o público doméstico insatisfeito, voltou a prometer que sua “missão sagrada” é trazer os talvez 64 reféns que Israel crê estarem vivos e os 33 corpos com o Hamas para casa.

Defendeu a guerra com o Hamas, que segundo o premiê matou ou capturou metade dos 40 mil combatentes do grupo e destruiu 90% de seu arsenal de mísseis e foguetes.

“Essa guerra pode terminar agora. Tudo o que precisa acontecer é o Hamas se render, abaixar suas armas e devolver os reféns. Mas se eles não fizerem isso, nós vamos lutar até alcançar a vitória. A vitória total. Não há substituição para isso”, afirmou.

Também afirmou que irá continuar lutando contra o Hezbollah até “que nossos objetivos sejam alcançados”. A escalada do conflito com o grupo fundamentalista libanês, aliado do Hamas e bancado pelo Irã, tem gerado temores de uma guerra regional ampla.

Netanyahu deu uma estocada nos EUA e na França, que fizeram pública uma proposta apoiada por outros países para um cessar-fogo de 21 dias na fronteira israelo-libanesa. O Hezbollah, disse, “é a organização terrorista que mais matou americanos e franceses na história”, fora a Al Qaeda de Osama bin Laden.

“Israel tolerou essa situação intolerável por quase um ano. Bom, venho aqui hoje dizer que basta é basta”, afirmou. Neste conflito atual, 60 mil israelenses deixaram suas casas e 49 morreram em ataques. No Líbano, metade dos 1.600 mortos até aqui o foram nos últimos dez dias, e há 500 mil desabrigados.

No geral, foi tipicamente triunfalista. “Nós estamos vencendo a guerra”.

Coroando a ofensiva, apontou o dedo ao Irã pelos males da região, que segundo ele “ameaçam todo o mundo”. “Eu tenho uma mensagem para os tiranos de Teerã: se vocês nos atacarem, nós vamos os atacar. Não há lugar no Irã em que o longo braço de Israel não possa chegar, o que é verdade no Oriente Médio”.

Lembrou os ataques dos próprios iranianos conta Israel em abril, além das ações dos prepostos da teocracia no que chamou de “guerra das sete frentes”: Hamas, Hezbollah, grupos na Cisjordânia, houthis do Iêmen, Síria e insurgentes do Iraque, além de Teerã.

De forma significativa, acenou para o grande rival geopolítico e religioso dos xiitas do Irã, a Arábia Saudita, coração do ramo majoritário do Islã, o sunismo.

Disse que o 7 de Outubro abortou um iminente acordo de paz entre Tel Aviv e Riad, dando sequência à normalização alcançada em 2020 com países do golfo Pérsico, Sudão e Marrocos, que geraram oportunidades comerciais grandes e parcerias.

Foi além e pediu para que a paz foi celebrada, da forma mais incisiva até aqui. “Que bênção seria a paz com a Arábia Saudita? A reconciliação histórica entre árabes e israelenses, entre judaísmo e muçulmanismo, entre Meca e Jerusalém”, disse.

Novamente, o premiê entregou suas convicções: Jerusalém é sagrada para o Islã, e vista no mundo muçulmano como a capital da Palestina, um status que Israel não discute desde que tomou a parte oriental da cidade dos jordanianos em 1967. Logo, teoricamente não haveria oposição com a cidade mais sagrada dos islâmicos.

Aqui, há serviço para os aliados americanos também. A guerra pode ter congelado o processo de paz devido à necessidade dos governantes árabes de manter a retórica de apoio aos palestinos, mas já antes disso a China vinha aumentando sua presença, mediando a retomada de relações entre Riad e Teerã.

IGOR GIELOW / Folhapress

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