Nível do rio Negro em Manaus cai 28 cm em três dias e atinge menor marca desde 1902

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O rio Negro atingiu às 18h deste domingo (6) 12,40 m de profundidade, seu nível mais baixo em 122 anos de medição em Manaus (AM). Desde quinta-feira (3), a marca recuou 28 cm e ainda pode cair mais, devido à falta de previsão de chuva para a região amazônica.

Na seca mais severa dos últimos tempos, registrada no ano passado, o nível chegou a 12,70 m em 26 de outubro. Neste ano, os dados do Sistema Hidro do SGB (Serviço Geológico do Brasil) registraram o recorde negativo às 17h30 de quinta-feira (3), com 12,68 m. No dia seguinte, a marca caiu para 12,59 m e, neste domingo, ficou em 12,40 m.

Para se ter uma noção da severidade da atual seca no rio Negro na região de Manaus, o nível mais alto que já alcançou naquele local foi de 30 m, em junho de 2021. O rio percorre mais de 1.300 km do território brasileiro e é o maior afluente da margem esquerda do rio Amazonas, o maior rio em vazão do mundo.

“O processo de vazante do rio Negro deve ainda continuar ao longo do mês de outubro até que a onda de cheia se estabeleça. Temos observado que a intensidade das descidas tem diminuído. Saímos de um patamar de descidas de 23 cm por dia para 14 cm diários e 11 cm nesta sexta”, explica o gerente de Hidrologia e Gestão Territorial da Superintendência Regional de Manaus, Andre Martinelli.

O pesquisador reforça que só após ser iniciado o processo de enchente no rio Solimões é que será possível sentir os efeitos em Manaus. No dia 26 de setembro, a estação de Tabatinga (AM) registrou a mínima histórica de -2,54 m e depois retomou as elevações, mas com oscilações. Nesta sexta (4), a cota observada em Tabatinga foi de: -1,99 m. Em Manacapuru (AM), o Solimões ainda segue em processo de vazante e registrou 2,42 m nesta sexta.

“O valor da cota abaixo de zero não significa a ausência de água no leito do rio. Esses níveis são definidos com base em medições históricas e considerações locais, sendo que, mesmo quando o rio registra valores negativos, em alguns casos ainda há uma profundidade significativa”, explica o SGB.

A Folha de S. Paulo mostrou numa série de reportagens as consequências da seca para comunidades ribeirinhas, territórios indígenas e cidades nos rios Solimões e Negro.

Igarapés desapareceram na região de Tefé, o que obriga famílias a buscarem água potável nas torneiras da cidade.

O rio Solimões virou deserto, com enormes bancos de areia, nas imediações das Terras Indígenas Porto Praia de Baixo e Boará/Boarazinho, também em Tefé. Indígenas ficaram isolados, e há comunidades com aumento expressivo de casos de diarreia, vômito, dor de estômago e febre em razão do consumo de água imprópria.

Botos vermelhos e tucuxis precisaram ser removidos de uma enseada que passou por um processo de superaquecimento, perto do porto de Tefé. Mais de 140 animais morreram em setembro.

Uma família de indígenas ticunas perdeu a casa após desmoronamento de um barranco na beira do Solimões, fenômeno conhecido como terra caída, que já arrastou vila, escola e porto durante esse período de seca extrema.

No arquipélago de Anavilhanas, no rio Negro, famílias inteiras precisaram se mudar para canoas, de forma a ficarem mais próximas de água. A comunidade de onde são está isolada, em razão da expansão de bancos de areia na região.

CLAUDINEI QUEIROZ / Folhapress

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