LONDRES, INGLATERRA (UOL/FOLHAPRESS) – O duelo entre Inglaterra e Brasil, no sábado, em Wembley, colocará frente a frente os inventores do futebol contra a maior seleção da história. A 15 km dali, no bairro de Covent Garden, um pub como tantos outros de Londres guarda de forma modesta um pedaço fundamental do esporte mais popular do mundo.
Para entender o que conecta essas duas pontas da capital inglesa, é preciso voltar no tempo: 26 de outubro de 1863. O protagonista, Ebenezer Cobb Morley, então com 32 anos, um advogado, esportista, fundador e jogador do Barnes FC.
Remador nos anos de juventude, ele participou das primeiras partidas de futebol da Inglaterra, mas se incomodava com algo que parecia natural para os demais praticantes: a falta de regras unificadas. Num dia, jogava-se com a possibilidade de dominar a bola com um ligeiro toque de mão; no outro, na semana seguinte (em um campo com dimensões diferentes), era permitido chutar o adversário para recuperar a posse.
Foi então que Morley convocou clubes e escolas para uma reunião. O local escolhido foi o pub Freemasons Tavern, e 12 representantes apareceram. Ali, foi criada a Football Association, a federação inglesa de futebol, e os participantes definiram o conjunto de regras do esporte, que passou a ser chamado de Association Football.
Os representantes da Rugby School não foram ao encontro: oito anos depois, em 1871, eles criaram a associação de outro esporte, com o nome da escola.
Morley apareceu com um caderno em que havia 13 regras básicas. A última delas mostrava a violência do jogo na época: “Nenhum jogador deve usar pregos com pontas ou placas de metal nos calçados”. A regra foi aprovada, mas acabou fora da redação final, feita meses depois.
Aquela reunião, para efeitos históricos, selou a invenção do futebol moderno. Todos os relatos de jogos anteriores -como o calcio italiano ou o cuju, de origem chinesa- carecem de um conjunto de regras e documentação.
Em março de 2024, mais de um século e meio após aquele encontro, o pub Freemasons Arms, herdeiro da Freemasons Tavern, poderia ser um lugar de peregrinação ou ponto turístico de fãs de futebol do mundo inteiro. Mas não é.
A reportagem do UOL esteve no local por mais de uma hora à procura de fragmentos da história do esporte ou de visitantes interessados no tema. Sem sucesso. A única referência é um quadro na parede: “O Futebol começa com um estrondo”, com detalhes das regras e da reunião de outubro de 1863.
Do outro lado da sala, há a réplica da reportagem do The Times, que dedicou 35 linhas à novidade. A poucos metros dali, um conjunto de ilustrações que também remetem ao futebol, mas sem referências ao dia que deu início ao esporte.
Uma porta lateral leva a outro ambiente. Quem sabe ali, alguma chuteira, foto, estátua ou quadro mostre, finalmente, a importância do lugar? “Desculpe senhor, essa é a porta dos banheiros”, avisou um funcionário.
LUCAS MUSETTI PERAZOLLI E THIAGO ARANTES / Folhapress