Nobel da Paz chama tribunal do Irã de matadouro e se recusa a ir a julgamento

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Presa no Irã, a ativista Narges Mohammadi, laureada com o Nobel da Paz em outubro passado, recusou-se a comparecer a um novo julgamento nesta terça-feira (19), informaram seus familiares, que, exilados em Paris, administram as redes sociais da iraniana.

De acordo com as informações fornecidas pela família, Mohammadi, 51, foi há poucos dias informada de que iria novamente a julgamento por suas atividades dentro da prisão em Teerã, onde está detida desde 2021, como a divulgação de declarações escritas ao público.

“O Tribunal Revolucionário é o matadouro da juventude”, disse ela no comunicado compartilhado pela família. “Não colocarei os pés nesse matadouro. Recuso-me a dar credibilidade ou autoridade a juízes ligados a serviços secretos e tribunais que realizam falsos julgamentos.”

Mohammadi oi diversas vezes presa e condenada à prisão nos últimos 25 anos devido a seu ativismo pelos direitos humanos, notadamente pelos direitos das mulheres e contra a obrigatoriedade do uso do véu islâmico, o hijab, implementada pelo regime xiita que domina o país desde a Revolução Islâmica de 1979.

Presa ao menos 13 vezes, ela foi condenada, em cinco sentenças diferentes, a um total de 31 anos de prisão e mais de 150 chibatadas.

Ao longo dos últimos anos, tornou-se uma das figuras mais conhecidas do movimento “Mulher, Vida e Liberdade”, que ganhou força no país após a morte da jovem curda Mahsa Amini, detida pela política moral iraniana em 2022 por supostamente não ter usado o véu de maneira correta durante uma visita que fazia com a família à capital Teerã.

No comunicado desta terça-feira, Mohammadi se refere a diversos manifestantes detidos e sentenciados à morte no Tribunal Revolucionário, corte voltada especialmente para presos políticos.

Um deles foi Mohsen Shekari, o primeiro manifestante da mais recente onda de protestos executado pelo regime, há um ano, após ser preso acusado de bloquear uma rua em Teerã e atacar um membro da milícia Basij, ligada ao aiatolá Ali Khamenei, o líder máximo do país.

“Este tribunal existe porque nossas declarações e escritos resistiram mesmo como prisioneiros. A realidade é que a estratégia desse regime tirânico, que usa a prisão para opressão, sentiu a nossa determinação inabalável”, disse a Nobel da Paz de 2023.

A entrega do prêmio, realizada em Oslo, ocorreu no último dia 10. Como está detida na prisão de Evin, Narges não pôde participar, mas foi representada por seus dois filhos gêmeos de 17 anos –Kiana e Ali Rahmani. Eles leram um discurso preparado pela mãe, no qual ela faz um apelo a uma “globalização baseada na paz e nos direitos humanos”, por um mundo sem regimes autoritários que reprimem a população.

Os filhos da iraniana não a veem desde 2015, quando foram morar com o pai na França para fugir da repressão da qual a mãe já era alvo.

Eles também não puderam falar com ela nos últimos dois anos, após autoridades iranianas banirem o contato telefônico, de acordo com a organização PEN America, voltada para a liberdade de expressão e baseada em Nova York, nos Estados Unidos.

Não houve anúncios oficiais do regime sobre o julgamento desta terça-feira e seu resultado, e tampouco se sabe quais consequências Mohammadi possivelmente sofreria por não comparecer.

Redação / Folhapress

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