SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A ativista de direitos humanos iraniana Narges Mohammadi, laureada com o Prêmio Nobel da Paz em 2023, foi libertada pelo regime teocrático por razões médicas nesta quarta-feira (4), afirmou seu advogado. Ela deve ficar fora da prisão por três semanas.
“Seguindo a opinião do médico forense, a procuradoria de Teerã suspendeu a execução da sentença de Narges Mohammadi durante três semanas, e ela foi liberada da prisão”, anunciou Mostafa Nili na rede social X. “O motivo é seu estado físico após a remoção de um tumor e um enxerto ósseo realizados há 21 dias.”
“A primeira coisa que ela me disse foi que saiu sem véu e gritando ‘Mulher, Vida, Liberdade'”, afirmou seu filho Ali, 18, em uma entrevista coletiva em Paris. Desde 2015 ele e sua irmã gêmea, Kiana, não veem a mãe, com quem não tinham contato há dois anos.
O slogan deu nome ao movimento desencadeado pela morte sob custódia de Mahsa Amini, uma jovem curda de 22 anos presa por suposta violação do estrito código de vestimenta islâmico, em 2022. Os protestos, liderados por mulheres, duraram meses, apesar de uma repressão brutal que resultou em 551 mortes e milhares de detenções, segundo organizações de defesa dos direitos humanos.
“A segunda e mais importante”, continuou seu filho, “é que ela continuará lutando contra a República Islâmica do Irã, para que o apartheid de gênero seja reconhecido como um crime universal em todo o mundo, e também contra a pena de morte”.
Narges está em uma residência privada, segundo seu comitê de apoio. A organização afirmou que a libertação temporária era insuficiente e lembrou que a ativista sofre de “numerosas patologias pulmonares e cardíacas”. “Depois de uma década de encarceramento, Narges precisa de atenção médica especializada em um ambiente seguro”, declarou o grupo.
O porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos Thameen Al-Kheetan exigiu a “libertação imediata e incondicional” de Narges, “assim como de todos os homens e mulheres iranianos detidos ou encarcerados por exercer legitimamente sua liberdade de expressão”.
O Comitê Nobel também se pronunciou, solicitando ao Irã para libertar definitivamente a premiada. “Pedimos às autoridades iranianas que ponham fim definitivo ao seu encarceramento e garantam que ela receba tratamento médico adequado”, disse o presidente da entidade, Jørgen Watne Frydnes.
Em agosto, a família de Narges, 52, denunciou que a ativista havia sido agredida por agentes penitenciários após protestar contra a execução de Gholamreza Rasaei, condenado pelo assassinato de um oficial da Guarda Revolucionária durante protestos contra o regime em 2022.
Segundo o relato de sua família, negado pelo regime, agentes do Ministério da Inteligência que estavam na prisão tentaram reprimir os cantos das detidas, que acabaram agredidas. Ainda de acordo com seus familiares, ela não foi levada ao hospital após sofrer insuficiência respiratória e desmaiar por levar um soco no peito.
Há 30 anos, Narges é perseguida pelo regime iraniano por seu ativismo, iniciado quando ela ingressou na universidade, e por artigos escritos em favor dos direitos das mulheres no país. Ela já foi presa 13 vezes pelas forças estatais e condenada cinco vezes a um total de 31 anos de prisão e 154 chicotadas.
A prisão mais recente ocorreu em 2021, enquanto ela participava de cerimônia pela memória de uma pessoa morta durante protestos contra o regime islâmico ocorridos em 2019. Ela cumpre pena de dez anos e nove meses de reclusão e continua seu ativismo de dentro da prisão, onde organizou palestras e conclamou protestos contra as violações dos direitos humanos do regime.
A ativista é vice-chefe do Centro de Defensores dos Direitos Humanos, uma organização não governamental liderada por sua conterrânea Shirin Ebadi, advogada, ex-juíza e também vencedora de um Nobel da Paz.
Redação / Folhapress