SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Mecânica dos Meios Contínuos”, a nova exposição de Marcius Galan na galeria Luisa Strina, empresta seu nome da área da física que tenta entender a matemática da deformação dos corpos. Dispensando os números, usando a percepção e a ilusão, o artista conduz uma investigação semelhante em seus trabalhos expostos, dando elasticidade ao rígido e precisão ao bruto, em experimentações familiares para quem o acompanha.
“Acho que tudo é continuidade. Eu sempre vejo todos os meus trabalhos em relação a alguma coisa que veio anteriormente”, afirma Galan, acrescentando que o minimalismo marcado por certa instabilidade e por influências concretistas que definiu fases anteriores do seu trabalho deixou suas cicatrizes no que ele cria hoje. Suas obras preservam a preocupação formal e a limpeza cara a essas fontes, mas hoje seu interesse pende para outras temáticas, como as tensões e os equilíbrios impossíveis.
Artista conceitual num cenário que privilegia outros caminhos, como a figuração e a produção artesanal, Galan vê conexões entre as diferentes vertentes. “Mesmo a arte figurativa que se faz hoje tem uma tomada de posição. Você está lidando com movimentação na estrutura social, questões identitárias, políticas, e isso também tem um lado conceitual”, diz.
No breu da primeira sala, luzinhas verdes piscam aqui e ali e seus movimentos conversam, num jogo de perguntas e respostas. É a obra “Cinema”, feita de fileiras de lâmpadas pendentes do teto que acendem e apagam conforme dita um software, criando a ilusão de movimento. Luz, escuro, luz é feita a alusão ao mecanismo básico da sétima arte.
Há ainda um aceno ao cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, que, numa carta enviada a um amigo em 1941, comparava o movimento dos pirilampos à arte e à poesia, ofuscadas pela luz forte do fascismo como as luzes de Roma que tinham desaparecido com as piscadelas dos insetos.
“Pensei muito nessa retomada política de uma extrema-direita muito forte no mundo inteiro e nesses pontos de resistência, tentando criar um mínimo de conexão entre eles, usando esse escuro como espaço de sobrevivência”, diz o artista. “Não é uma exposição que faz uma declaração política contra alguma coisa, mas traz vários modos de resistência, com eco na física.”
De todas as obras, apenas uma não é inédita. “Infinito”, de 1999, apareceu primeiro em uma mostra na galeria de Galan, depois ficou escondida. Um tubo de vidro, de material semelhante aos dos laboratórios, forma o símbolo do infinito, mas a continuidade é interrompida por uma bolota de cera.
O artista conta que nunca encontrara um lugar para a escultura até agora. Ela se encaixou na segunda sala da mostra, iluminada, que junta peças que brincam com as ideias de resistência e atração.
Em “Memória Geológica”, por exemplo, duas pedras grandes estão presas por estruturas metálicas que lembram elásticos e não se encontram, mas convergem para um mesmo ponto vazio. Galan encontrou as rochas em Minas Gerais, mas elas são da Bahia daí a ideia de serem atraídas para uma mesma direção, como se quisessem voltar para algum lugar.
Já em “Orbital”, pregos e pedaços de ferro orbitam pedregulhos de hematita, marcando uma superfície de madeira coberta por tinta automotiva. Broncos, os materiais formam um rastro polido e regular como o traço de um compasso.
“Baixa Resolução”, por sua vez, é pensada para remeter ao mesmo tempo à vista aérea de uma área queimada e à explosão pixelada que antecede o “game over”, o fim do jogo, de games antigos. Ao comentar a obra, Galan acaba descrevendo toda a exposição. “É um lúdico até um pouco irônico. Tem um pessimismo desse quase fim, mas ao mesmo tempo ainda não é ele, sabe? É como se fosse antes de acabar a diversão no jogo.”
MARCIUS GALAN: MECÂNICA DOS MEIOS CONTÍNUOS
– Quando Seg. a sex., das 10h às 19h; Sáb., das 10h às 17h; Até 10/5
– Onde Galeria Luisa Strina – r. Padre João Manuel, 755, São Paulo
– Preço Grátis
– Classificação Não indicada
DIOGO BACHEGA / Folhapress