BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) tem manifestado contrariedade com as críticas à sua escolha para a presidência do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo interlocutores, o petista está particularmente incomodado com as suspeitas de manipulação de dados levantadas contra o economista Marcio Pochmann, por quem tem apreço pessoal.
Nas palavras de aliados, Lula classifica como uma descortesia supor que, na presidência do IBGE, Pochmann venha a adulterar dados. Ainda de acordo com esses colaboradores, foi por orientação dele que o ministro Paulo Pimenta, da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social), confirmou o nome do economista na noite da última quarta-feira (26), à saída do Palácio do Alvorada.
A intenção ali foi colocar um ponto final na controvérsia, “estancar a sangria”, evitando que Pochmann seja exposto a ataques até 15 de agosto, quando deverá assumir a função.
Interlocutores do presidente contestam a versão de que a ministra do Planejamento, Simone Tebet, tenha sido desprestigiada, lembrando que seus colegas de Esplanada não definiram o comando de empresas vinculadas a seus respectivos ministérios. Citam como exemplos a Petrobras, a Embratur e os Correios.
Eles ressaltam ainda que Tebet não apresentou nomes de sua predileção para o cargo, ocupado por um interino.
Um colaborador direto do presidente chega a afirmar que, depois de definido pelo presidente da República, o nome de Pochmann não deveria nem estar sob escrutínio dentro do governo.
Esse desconforto de Lula não é dirigido a Tebet. Aliados do presidente frisam que ela não fez objeções públicas e atribuem ao entorno da ministra as restrições impostas ao nome do economista. Na avaliação deles, Tebet preferiu não se indispor com integrantes do Planejamento e do IBGE.
A ministra, segundo relatos, já tinha sido informada pelo ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) da preferência por Pochmann, antes mesmo da conversa que teve com Lula na segunda-feira (24).
Tebet e Padilha já vinham discutindo a sucessão no IBGE há cerca de três semanas.
Na segunda, Lula teria manifestado diretamente a ela a opção por Pochmann. Segundo relatos, Tebet não ofereceu resistência ao nome, pedindo apenas um tempo para aparar arestas na equipe.
Também na segunda, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) conversou ao telefone com Tebet. Ele minimizou o risco de dificuldades de relacionamento dela com Pochmann, e rechaçou a hipótese de manipulação de dados. Nas conversas que mantém, Haddad argumenta que o presidente do IBGE não interfere no desenho da política econômica, apenas faz contas.
Depois dessas conversas, Tebet manteve a versão de que não havia conversado com Lula sobre seu escolhido. Mas descartou qualquer ameaça de ingerência, alegando inclusive que o IBGE é uma instituição fiscalizada pelos próprios órgãos públicos.
Apesar dessas ponderações, integrantes do governo concordam que Pimenta pode ter se precipitado ao confirmar a escolha no momento em que Tebet ainda dizia, publicamente, não ter sido informada –o que poderia ser interpretado como falta de sintonia no governo.
Embora integrantes do PT discordem de opiniões de Pochmann –como sua oposição ao Pix– afirmam que elas não estão ligadas às atribuições do presidente do IBGE.
Petistas descrevem Pochmann como um economista sério e técnico. Lembram que Lula o respeita a ponto de escalá-lo para presidir o instituto que leva seu nome e coordenar o plano de governo para a disputa presidencial de 2018.
Na noite de segunda, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, elogiou nas redes sociais a escolha. “Intelectual histórico, Pochmann tem um olhar aguçado para as pesquisas na área social, é um democrata que pensa o país mais justo”, escreveu.
À Folha de S.Paulo, Gleisi diz que “fizeram muita ofensiva contra ele, grosserias”. “O Márcio é muito qualificado e apoiávamos o nome dele para o IBGE”, disse.
Secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto (SP) afirma que Pochmann tem um rigor técnico e científico muito apurado. “Mas sempre que tem um petista reclamam. Quando é bolsonarista, ou ex-bolsonarista, ninguém reclama”.
CATIA SEABRA / Folhapress