SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “O mais jovem presidente da República da história [Emmanuel Macron, eleito aos 39 anos em 2017] nomeia o mais jovem primeiro-ministro da história.”
A frase enunciada por Gabriel Attal, 34, em seu discurso de posse como novo primeiro-ministro da França nesta terça (9), reflete o que o governo desejava ao nomeá-lo: um efeito “uau”.
Anunciada como uma aposta na “juventude” e na “audácia”, a escolha do jovem prodígio , alçado a primeiro-ministro após pouco mais de 160 dias como ministro da Educação, causou surpresa e euforia.
Ao nomear para o posto mais alto de seu governo um político hábil e moderno, que se comunica com o público via Instagram e assume abertamente sua homossexualidade, Macron quer dar novos ares, e um quê de ousadia, a seu já desgastado segundo mandato.
O presidente francês busca também refrear sua baixa popularidade -apenas 26% dos franceses se dizem satisfeitos com sua gestão- e surfar na fama de seu novo primeiro-ministro, conquistada mais por seu domínio das redes sociais e por seus ternos impecáveis do que pelos poucos resultados que tem para apresentar em seu portfólio político.
A trajetória meteórica, a popularidade e o perfil comunicativo fizeram de Attal uma antítese de sua antecessora, Elisabeth Borne, 62 -discreta, austera e tecnocrata.
Sem maioria no Congresso, foi ela quem deu a cara a tapa para aprovar a fórceps uma reforma da Previdência que, altamente impopular, incendiou as ruas do país em protestos que uniram mais de 1 milhão de franceses.
Na ocasião, Borne evocou o artigo 49.3 da Constituição -apelidado de número maldito-, que permite a aprovação de projetos de lei pelo governo mesmo sem votação parlamentar. O recurso, considerado autoritário, foi utilizado outras 22 vezes pela ex-primeira-ministra, num processo altamente corrosivo para sua permanência no cargo.
Em dezembro, o governo também obteve a aprovação de uma lei de imigração que, considerada dura, foi saudada por Marine Le Pen, líder do partido de ultradireita Reunião Nacional (RN), como uma “vitória ideológica” de seu campo político.
Nesse contexto, a nomeação de Attal é um aceno à esfacelada relação do governo com a ala à esquerda da maioria parlamentar e com o já escaldado eleitorado social-democrata francês.
Trata-se, no entanto, de uma promessa ilusória. Attal emerge como alguém que pode renovar o governo, mas deve sustentar o “macronismo” tal como ele existe hoje.
Ex-membro do Partido Socialista, o político fez um percurso que partiu da esquerda em direção ao centro, ao mesmo tempo em que seus discursos têm apelo cada vez mais conservador.
Em sua breve passagem pelo comando da pasta da Educação, um pilar da República francesa, por exemplo, ele baniu a túnica muçulmana abaya, vestimenta comum em países árabes que cobre quase todo o corpo, com exceção do rosto e das mãos. Também promoveu uma reforma no sistema de educação pública que, anunciada como uma terapia de choque, procurava restaurar a autoridade dos professores.
Essa ambiguidade política fez de Attal uma cartada do macronismo na busca por superar a polarização entre esquerda e direita que inflama a vida política na França e as votações do governo no Congresso.
Sua nomeação também embaralhou a corrida para a sucessão de Macron nas eleições de 2027. As apostas, antes divididas entre os ministros Gerard Darmanin (Interior) e Bruno Le Maire (Economia), agora se direcionam ao novo primeiro-ministro, para irritação geral dos preteridos.
Attal é também a aposta de Macron e seu partido para mudar o jogo de forças das eleições de junho próximo para o Parlamento Europeu. Ele deve rivalizar com outro jovem prodígio, este da ultradireita francesa -Jordan Barbella, de apenas 28 anos, que lidera a lista de candidatos da RN nas eleições europeias e as intenções de voto dos franceses até aqui.
Se a nomeação de Attal também provocar um efeito “uau” no pleito para o Parlamento Europeu, o político tem tudo para fazer da sua rápida ascensão do ministério da Educação ao Hotel Matignon, residência oficial do primeiro-ministro, um passo à frente no caminho de lá até o Palácio do Eliseu, hoje sob o comando de Macron.
FERNANDA MENA / Folhapress