RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – A nova composição do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) recebeu da gestão anterior algumas questões pendentes. E a principal delas envolve John Textor, dono da SAF Botafogo.
Um dos últimos atos da presidência anterior foi o inquérito a respeito das acusações de manipulação em favor do Palmeiras. Textor usa como base relatórios da empresa Good Game e cita jogos do Brasileirão.
O resultado do inquérito foi a recomendação de que o dirigente receba uma punição inédita, com seis anos de gancho e multa de R$ 2 milhões. Isso é resultado da multiplicação de ofensas à honra de sete entidades, nove jogadores e nove árbitros.
Relator do inquérito, Mauro Marcelo de Lima – publicamente um palmeirense – não está mais no STJD. E agora? O próximo passo do caso precisa ser dado pela procuradoria. Só que o órgão, no momento, não tem um cabeça.
O mandato de Ronaldo Botelho Piacente terminou. Em tese, a CBF já deveria ter enviado a lista tríplice da qual o novo procurador será tirado. Mas a entidade ainda não fez isso.
Logo, o STJD nesta sexta-feira (12) tem um presidente, uma instância máxima, mas não tem quem formule as denúncias e monitore as infrações disciplinares. A procuradoria é formada por pelo menos seis equipes, que respondem ao procurador-geral.
O procurador não tem a obrigação de denunciar Textor com os mesmos termos e peso adotados pelo relator do inquérito. Pode até nem denunciar, se achar pertinente. Isso gera uma responsabilidade para quem herdar o cargo.
A condução do processo de Textor vai dar o tom de como o STJD vai lidar com acusações -aparentemente sem provas- de manipulação.
Mas há uma onda de casos de envolvimento de jogadores com apostas vindo por aí. Há investigações em São Paulo e houve também uma operação recente da polícia envolvendo a Patrocinense-MG.
De todo modo, sem procurador, nada anda. Inclusive, o novo Pleno do STJD ainda precisa bater martelo sobre a composição das comissões disciplinares, que também estão sendo reformuladas.
Esse rito é mais um com forte influência política. A complexidade envolve acomodar interesses de diversas partes. O novo presidente do STJD, Luís Otávio Veríssimo Teixeira, falou por telefone com o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, durante o dia.
A eleição de Teixeira para o comando do tribunal, mesmo sendo um “outsider” da Justiça Desportiva e fazendo carreira na Câmara dos Deputados, já foi uma demonstração de força (não necessariamente de Ednaldo).
Os auditores da instância máxima fizeram uma reunião nesta quinta-feira (11), mas não concluíram a relação e distribuição dos candidatos para as comissões disciplinares. Esse trâmite gera muita expectativa entre quem quer uma cadeira nas comissões e também na procuradoria.
“Sempre que me perguntam por que as pessoas querem entrar na Justiça Desportiva, já que não tem remuneração, eu falo: ‘Não sei. Mas todo mundo que está lá quer continuar. E quem não está quer entrar'”, disse um dos novos auditores do Pleno, Marcelo Bellize.
Especificamente em relação a Textor, há um processo suspenso, esperando a pré-mediação que ele tenta fazer com a CBF na Câmara Brasileira de Mediação e Arbitragem (CBMA).
O caso no STJD envolve as falas, sem apresentação de provas, sobre corrupção na arbitragem. O processo está na mão do auditor Luiz Felipe Bulus, único remanescente da composição anterior no Pleno do tribunal. Mas até 15 de agosto, quando a reunião de mediação vai acontecer, está tudo parado.
IGOR SIQUEIRA / Folhapress