JOINVILLE, SC (FOLHAPRESS) – Embora o antagonismo entre o PT de Lula e o PL de Jair Bolsonaro esteja presente na disputa pela Prefeitura de Joinville, com embate aberto entre os representantes das duas legendas na corrida eleitoral, o candidato à reeleição, Adriano Silva (Novo), tornou-se alvo principal dos adversários na reta final da campanha na cidade, que é a maior de Santa Catarina.
Adriano foi o único candidato do Novo que conseguiu chegar a uma administração municipal em 2020. Naquele ano, o partido lançou 30 nomes para prefeituras. Agora, em 2024, está com 247 filiados inscritos.
Além disso, ao longo dos últimos quatro anos, mais três prefeitos saíram de suas legendas e se filiaram ao partido. Um deles de um município catarinense, e outros dois de cidades de Minas Gerais, onde o Novo tem seu único governador, Romeu Zema, cotado por aliados para a disputar a Presidência da República em 2026.
Em 2020, em seu primeiro pleito e tido como o outsider da eleição, Adriano concorreu sem formar alianças e conseguiu vencer no segundo turno, com 55,4% dos votos. Agora, tentando a reeleição, tem o apoio de outras sete siglas, como União Brasil e PSD, garantindo o maior tempo de TV entre as campanhas.
O número de adversários caiu entre uma eleição e outra. Em 2020, 15 tentaram a cadeira no Executivo, ante apenas cinco neste ano. Entre os atuais concorrentes, estão o deputado estadual Sargento Lima, do PL, e Carlito Merss, do quadro histórico do PT, que já governou Joinville de 2009 a 2012.
Bem avaliado em pesquisa, Adriano é do campo da direita e declarou apoio a Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2022, mas, na disputa em Joinville, Sargento Lima é quem se tornou o representante oficial do bolsonarismo. “[O eleitor] vai saber escolher entre aquele que é de direita da boca para fora e aquele que é de direita do coração para dentro e não tem vergonha”, disse Lima durante debate na TV.
O ex-presidente e o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), são considerados aliados relevantes na cidade, que deu 76,6% dos votos a Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2022. “E Minas não está no top five dos melhores governadores”, continuou Lima, ao elogiar Jorginho.
Bolsonaro ainda não foi a Joinville para ajudar na campanha de Lima, situação que tem sido explorada pelos adversários. Na quinta-feira (19) e sexta-feira (20), a passagem do ex-presidente por Santa Catarina se restringiu a Itajaí, Navegantes, Tubarão, Palhoça e Balneário Camboriú, onde seu filho Jair Renan (PL) concorre a uma vaga na Câmara.
Do outro lado, embora o PT tenha um representante, Carlito Merss não é o único nome identificado pelo campo da esquerda, que também tem Rodrigo Bornholdt concorrendo pelo PSB, sigla do vice-presidente Geraldo Alckmin.
Carlito tem explorado a relação com o governo federal e repetido que sua tarefa é “não deixar dois bolsonaristas indo para o segundo turno”. Para ele, Joinville tem histórico progressista, e a esquerda precisa “resgatar esses votos”.
Entre dois nomes da direita e dois nomes da esquerda, o candidato do MDB à prefeitura, Luiz Claudio Gubert, aproveita para se definir como “de centro”.
“O povo de Joinville não é de direita nem de esquerda. O povo de Joinville tem necessidades”, disse ele durante sabatina em uma TV.
Nas ruas da cidade, eleitores minimizam o peso da polarização nacional no pleito local. Morador de Joinville há mais de 20 anos, o microempresário Deudete Ribeiro dos Santos, 65, diz que o atual prefeito tem feito “um bom trabalho” e que “isso aí [direita e esquerda] é mais nacional e não influencia”.
“Eleição de prefeitura é outra história. É o dia a dia da cidade”, diz ele.
Eleitores de Bolsonaro também fazem ponderações sobre o peso do ex-presidente na escolha para a prefeitura. A aposentada Ladi de Oliveira, 78, diz que o fato de o PL ter um candidato na eleição local não muda sua decisão. “Eu gosto do menino, acho que ele está cuidando da cidade”, diz ela, em referência ao atual prefeito.
Já o vigilante José Ricardo Barbosa Suarez, 52, conta que está dividido entre o atual prefeito e o candidato do PL. “Eu gosto do prefeito, mas minha professora do curso de Libras apoia o candidato do Bolsonaro. Fico na dúvida. Sou bolsonarista também”, comenta ele, que nasceu em São Paulo, mas mora na cidade desde 2017.
Anna Paula Reis, 23, profissional de mídias sociais, diz que a cidade é “bastante bolsonarista” e que, por influência da família de Porto Alegre, permanece petista.
“Minha família inteira é petista. Eu vi de perto como os programas sociais ajudaram a gente”, diz ela, que mora em Joinville há cinco anos.
Ela não sabe, contudo, em quem vai votar na disputa de 6 de outubro. “Eu presto mais atenção quando é eleição para presidente, acho mais importante”, diz, acrescentando que ainda vai pesquisar o histórico dos candidatos.
CATARINA SCORTECCI / Folhapress