SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Concluir as aventuras de Venom com um terceiro e último filme parece uma decisão acertada da Sony Pictures. Em “Venom: A Última Rodada”, o monstrengo extraído dos gibis da Marvel ainda tem gás suficiente para um longa de ação turbinado com muito humor. Talvez não sustentasse um quarto episódio.
Assim como o Deadpool e os Guardiões da Galáxia, o Venom é mais um personagem de segundo time da Marvel que se saiu melhor no cinema do que medalhões das HQs como Thor, Hulk e o Homem de Ferro. Além dos efeitos visuais que exibem a inesgotável capacidade de mutação de Venom, é fundamental para o sucesso o desempenho de seu parceiro humano.
O ator inglês Tom Hardy caiu bem como Eddie Brock, repórter investigativo que acaba se unindo a um alienígena simbionte, ou seja, uma forma de vida que habita o corpo de um hospedeiro. Venom fica escondido dentro de Brock. Quando o perigo cruza o caminho deles, sai para fora e assume a figura de um gigante preto, com superforça, uma mandíbula devastadora e o corpo que muda de forma como quiser.
Se ao chegar à Terra Venom era uma ameaça, devorando pessoas para se alimentar, aos poucos o convívio com Brock o transforma em herói. Um tanto relutante nesse papel, ainda louco para comer um pouco de carne humana, mas disposto a fazer o bem.
Esse terceiro filme, que continua a narrativa de “Venom” (2018) e “Venom: Tempo de Carnificina” (2021), tem argumento da diretora Kelly Marcel e do próprio Tom Hardy. A ideia é que hospedeiro e alien sejam perseguidos por dois mundos. O exército americano caça Brock, acusado pela morte de um homem que também estava tomado por um simbionte no filme anterior. Mas a ameaça maior vem do espaço.
O enredo fala de Knull, tirano que criou os simbiontes em outra galáxia. Esses se revoltaram contra seu criador e conseguiram vencê-lo. Exilado numa outra dimensão, Knull envia criaturas destruidoras para procurar pelo espaço a única coisa que pode libertá-lo de sua prisão: o códex.
Aí o delírio do roteiro dispara. Códex é algo que se desenvolve dentro de um simbionte se ele usar seus poderes de cura para ressuscitar seu hospedeiro. E o único caso assim no universo está na Terra: Venom fez isso uma vez para salvar Brock. Assim, criaturas terríveis estão atrás deles.
As cenas de ação são fartas, como manda a cartilha dos super-heróis, mas o melhor de “Venom: A Última Rodada” está nas sequências cômicas nos intervalos da pancadaria. Brock e Venom salvam cachorros de maus tratos, fazem apostas em cassinos de Las Vegas e, na melhor ideia do roteiro, pegam uma carona inesperada para viajar do México a Las Vegas.
Brock é acolhido por uma família de hippies que cruza o país numa velha Kombi. São de morrer de rir os comentários que Venom faz dentro da cabeça de Brock diante da trupe “paz e amor”. E, para dar liga na história, o pai é um crédulo em alienígenas.
O filme tem adrenalina e inteligência para satisfazer qualquer fã de adaptações de quadrinhos na tela grande. Mas há um aspecto em todo esse projeto de Venom nos cinemas que é indicador de um movimento que parece estar a pleno favor nesse gênero.
Aos poucos, mas de forma bem consistente, aumenta o número de filmes e séries que têm como protagonistas os vilões. Um fenômeno que atinge tanto a Marvel como a DC Comics, grandes rivais que disputam o público de HQ nos Estados Unidos e no resto do mundo.
Venom está numa posição intermediária. Nasceu como um vilão nas histórias do Homem-Aranha (escanteado completamente na trilogia) e foi gradativamente passando para o lado do bem. Pela Marvel, estreia em breve “Kraven, o Caçador”, com Aaron Taylor-Johnson como mais um inimigo do Aranha a ganhar independência cinematográfica.
Na DC, as apostas são depositadas nos batvilões. Foi lançado um bom primeiro filme do Coringa, com Joaquin Phoenix, mas o segundo longa está sendo execrado por crítica e público. No entanto, no streaming sobram elogios para a série “Pinguim”, que traz Colin Farrell debaixo de quilos de maquiagem como outro vilão do universo do Batman.
Venom: A Última Rodada
Onde: Nos cinemas
Classificação: 14 anos
Elenco: Tom Hardy, Juno Temple e Chiwetel Ejiofor
Produção: EUA, 2024
Direção: Kelly Marcel
Avaliação: *Muito bom*
THALES DE MENEZES / Folhapress