Novos mecanismos ligados a placebo e alívio da dor são descobertos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O efeito placebo é conhecido por quem lida com a dor. Em um novo estudo publicado na última quarta-feira (24) na revista Nature, pesquisadores da UCN (Universidade da Carolina do Norte), nos Estados Unidos, decifraram novos mecanismos de como o efeito placebo funciona no cérebro de camundongos para alívio da dor.

Foram investigados nos roedores os circuitos cerebrais que atuam durante a resposta ao efeito placebo e identificaram vias específicas e neurotransmissores menos explorados.

Os cientistas perceberam movimentações importantes em áreas do cérebro normalmente associadas à coordenação motora e ao movimento, como o cerebelo, e mostraram que o efeito placebo pode ativar áreas específicas do cérebro envolvidas no processamento da dor, como o córtex cingulado anterior e o córtex pré-frontal.

“Mostramos que essas regiões são aspectos cognitivos importantes da dor, atuam em como prevemos a dor no futuro”, explica Gregory Scherrer, pesquisador da UCN e autor do estudo.

Para chegar a estas descobertas, o grupo de Scherrer colocou camundongos em uma câmara com solo aquecido, ao ponto de causar dor. Ao lado, havia outra câmara com aquecimento confortável.

Ao sentir dor, os bichos buscavam alívio na superfície confortável. Com as duas câmaras aquecidas igualmente, os camundongos continuavam buscando alívio na câmara que anteriormente estava menos aquecida. Assim, eles ficaram condicionados a buscar o alívio da dor, mesmo em um ambiente que não fosse causar este alívio.

O experimento mostrou que a expectativa pelo alívio, semelhante ao efeito placebo, fazia com que eles experimentassem menor sensação de dor. Uma análise do funcionamento do cérebro dos animais durante a experiência demonstrou evidências do papel do cerebelo, responsável pela coordenação motora, na modulação cognitiva da dor, uma informação que não se tinha certeza.

“Essa descoberta sugere que a modulação da dor não está limitada apenas aos centros tradicionalmente associados ao processamento da dor como era conhecido anteriormente”, comenta Marucia Chacur, pesquisadora do Laboratório de Neuroanatomia Funcional da Dor do ICB/USP (Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo).

Tais resultados podem ser úteis para explorar novos caminhos para melhorar a qualidade de vida de pessoas com diferentes tipos de dor, aponta Cachur, que não tem relação com o grupo que desenvolveu a pesquisa.

“Compreender como as expectativas podem influenciar a percepção da dor pode ajudar a perceber que não apenas fatores físicos, mas também fatores psicológicos, como expectativas e crenças, desempenham um papel crucial na maneira como experimentamos a dor”, diz Cachur.

Os resultados podem abrir caminhos para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas que explorem os mecanismos cerebrais identificados no experimento com camundongos, como medicamentos, protocolos de neuroestimulação ou terapias comportamentais cognitivas que produzem alívio da dor. Ainda é preciso que o estudo seja feito com humanos —o que está nos planos dos pesquisadores da UCN.

“Queremos avaliar se os mesmos circuitos são ativados em pessoas, se há diferenças de gênero nessas ativações, e em quais condições elas acontecem”, afirma Scherrer. O grupo também pretende estudar como tratamentos anteriores que não deram podem influenciar as respostas destas áreas do cérebro que atuam sobre a dor.

LETÍCIA NAÍSA / Folhapress

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