SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O número de acidentes com mortes em rodovias paulistas atingiu no ano passado um patamar semelhante ao de antes da pandemia de Covid-19.
Os dados constam em um anuário elaborado pelo DER (Departamento de Estradas e Rodagem), que será apresentado nesta quinta-feira (16).
Eles se referem apenas às vias administradas pelo órgão do governo estadual –não foram computadas estatísticas de rodovias concedidas à iniciativa privada.
Ao todo, a malha viária paulista soma 22 mil km de extensão, sendo que desse total, 13 mil estão sob jurisdição do DER. No documento também não entram as rodovias federais que cruzam o estado.
De acordo com o “Anuário Rodoviário de Acidentes – 2023”, no ano passado ocorreram 662 acidentes com vítimas fatais nas estradas administradas pelo DER. É o maior número desde 2019, quando foram registrados 677 sinistros de trânsito com mortes nestas estradas.
Na comparação, a quantidade de acidentes com vítimas fatais no ano passado é apenas 2,2% menor que em 2019.
Segundo o anuário, 744 pessoas morreram nas estradas sob gestão do DER no ano passado, de um total de 1.716 óbitos em toda malha rodoviária paulista.
No geral, aponta o estudo, uma pessoa morre no trânsito das estradas de São Paulo a cada cinco horas –nas vias sem concessão, é um óbito a cada 12 horas.
Por outro lado, a quantidade de acidentes fatais (apenas em estradas do DER) é 32,5% menor que em 2014, primeiro ano da comparação feita pelo relatório, quando 982 pessoas morreram.
Em geral, o documento mostra queda anual no número de acidentes desde o início da série histórica comparativa nas estradas administradas pelo DER -em 2014 foram 29.651 sinistros (com ou sem vítimas) contra 14.389, redução de 48,5%.
Ao comparar a população e a frota de veículos no Brasil, o relatório mostra que a taxa de motorização nos últimos 10 anos cresceu 37% no país.
Além de informações detalhadas sobre os acidentes nas rodovias, o anuário faz uma radiografia da malha viária em todo o território estadual, com séries históricas que apresentam sua evolução e um perfil da frota de veículos do estado de São Paulo, que fechou 2023 com 33,3 milhões de unidades.
O anuário foi produzido a partir de informações da Policiamento Rodoviário de Trânsito e do Infosiga (sistema do governo estadual de monitoramento da letalidade no trânsito). Ele cruza dados com outros órgãos, como IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito).
De acordo com Sergio Codelo, superintendente do DER, a volta do anuário, que não era produzido desde 2015, servirá para orientar a formulação do Plano de Segurança Viária do Estado de São Paulo. A meta é reduzir em ao menos 50% o número de mortos até 2030.
Com as estatísticas, afirma, é possível definir políticas públicas de segurança de trânsito em locais com maiores índices de letalidade, com investimentos em sinalização, infraestrutura e até fiscalização. A gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), por exemplo, tem um edital em andamento para a instalação de 649 radares de velocidade até o fim do ano nas estradas de São Paulo.
“Não é uma estatística por si só. Mas ela nos possibilita adotar ações efetivas, descobrir onde [acidentes] acontecem, quem são os envolvidos”, afirma.
A faixa no mapa que apresentou a maior incidência de acidentes e fatalidades é a que engloba a Região Metropolitana, com 29% do total. Composta por 39 municípios, ela abrange 6% da malha rodoviária estadual, sendo que aproximadamente 643 km estão sob a administração do DER.
O anuário traça o perfil das vítimas no trânsito rodoviário paulista. O documento mostra, por exemplo, que condutores (69%) são a maioria entre os mortos, na comparação com passageiros (17%) e pedestres (14%).
Entre os condutores, a faixa etária com maior percentual de mortes é de 18 a 24 anos, com 24% do total. No caso dos passageiros, a maior quantidade de letalidade ocupa a faixa entre 0 e 17 anos (17%).
No ranking por tipo de acidente, a principal taxa de mortalidade a cada 100 sinistros ocorre em colisões frontais (27,7), seguido por atropelamento de pedestres (24,2).
“O dado [de mortes] assusta, principalmente pela quantidade de jovens envolvidos”, afirma Codelo, que diz receber notificações de todos os acidentes fatais em seu celular.
Segundo ele, os dados devem ser usados também para uma campanha de educação no trânsito para crianças.
FÁBIO PESCARINI / Folhapress