SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O número de pessoas mortas por policiais militares no estado de São Paulo praticamente dobrou no primeiro semestre deste ano na comparação com semelhante período do ano passado. Passou de 155 para 301 –alta de 94%.
Na capital paulista a situação foi ainda pior. As mortes passaram de 63 para 125, alta de 98,5%. Os novos números foram divulgados nesta terça-feira (29) pela SSP (Secretaria da Segurança Pública). A estatística leva em conta apenas mortes em confrontos com PMs em serviço.
No acumulado de seis meses, é o maior número de mortes em ações da PM no estado desde o primeiro semestre de 2020, quando 435 pessoas foram mortas em confrontos com a PM.
O primeiro trimestre já havia registrado crescimento de 138% em todo o estado de São Paulo. Foram 179 casos nos primeiros três meses de 2024, contra 75 no mesmo período do ano passado, de acordo com dados da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Entre o início de fevereiro e 1º de abril 56 pessoas foram mortas na Baixada Santista durante a Operação Verão. A ação foi desencadeada após o assassinato do soldado da Rota Samuel Wesley Cosmo em Santos.
“Além dessas explosões de letalidade [operações após morte de PMs], fenômenos que duraram dois meses, com altíssima letalidade na Baixada Santista, a gente tem visto um aumento generalizado [de violência]”, disse o coordenador de projetos do Instituto Sou da Paz, Rafael Rocha.
Em 2022, ano anterior à gestão Tarcísio, foram 123 óbitos no primeiro semestre. Em relação à capital, 181 pessoas haviam sido mortas em confrontos com policiais em serviço em 2020 e 41, em 2022.
“Na capital, teoricamente, todos os policiais usam as câmeras, a região do estado onde todos os batalhões fazem parte do programa Olho Vivo, então, o que a gente vê é uma erosão das políticas de controle de uso da força, de profissionalização da atuação da Polícia Militar de São Paulo”, acrescentou.
Para o especialista é necessário intensificar os programas de controle de letalidade policial.
“A gente entende que existem cada vez menos mecanismos de supervisão. Não adianta você gravar um vídeo e esse vídeo não ser submetido a uma supervisão aleatória, igual era feito. A gente não sabe mais se isso se mantém, não é divulgado”, afirma.
A escalada de mortes no litoral paulista resultou em uma série de críticas à atuação da polícia, entre as quais está uma queixa ao Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) apresentada no mês passado pela Conectas Direitos Humanos e a Comissão Arns.
Ao ser questionado sobre o tema, na ocasião, o governador afirmou que não estava “nem aí” para a denúncia. “Sinceramente, nós temos muita tranquilidade com o que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, pode ir na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí”, disse Tarcísio.
A Operação Verão é a segunda ação mais letal da história da polícia de São Paulo, atrás apenas do massacre do Carandiru, quando 111 homens foram mortos durante a invasão da Casa de Detenção, em 2 de outubro de 1992.
“A gente não sabe em que medida os policiais estão sendo efetivamente responsabilizados pelas mortes que eles cometem. Quando você tem, por um lado, o enfraquecimento dos controles, por outro lado, uma gestão, principalmente do secretário [Guilherme Derrite], mas também do governador, que incentiva o confronto, que minimiza as mortes, fala que pode ir na ONU, pode ir na Liga dos Justiça, isso na ponta gera um efeito”, avalia Rocha.
PAULO EDUARDO DIAS E FÁBIO PESCARINI / Folhapress