RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Sob efeito de um plano de redução gradual de voos, o número de passageiros domésticos movimentados no aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio de Janeiro, caiu a 841,6 mil em outubro, de acordo com dados publicados pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
É o menor patamar registrado em um mês deste ano no terminal carioca, administrado pela estatal Infraero. O contingente diminuiu 19,7% ante setembro, quando havia sido de cerca de 1 milhão.
Também houve queda de 9,3% em relação a outubro de 2022 (928 mil). O número mais recente (841,6 mil) é o menor para o décimo mês do ano desde 2021 (674 mil), quando a aviação civil era impactada pela pandemia de Covid-19.
Os dados da Anac consideram o embarque e o desembarque de passageiros pagos -ou seja, aqueles que geram receita para as companhias aéreas.
Segundo a agência e a Infraero, a movimentação em baixa pode ser associada ao início de um plano de redução de voos no Santos Dumont, que entrou em vigor justamente em outubro.
Essa medida, confirmada pela Anac, marcou a primeira ação com o objetivo de direcionar mais operações domésticas para o aeroporto internacional do Galeão, na zona norte do Rio, que amargou esvaziamento nos últimos anos.
“As variações no número de operações aéreas coincidem com o período de implementação da mencionada política pública, que se deu a partir de 1° outubro de 2023, resultando em adaptações nas estratégias operacionais das empresas aéreas”, disse a Anac.
“Dessa forma, é possível que a variação operacional seja relacionada às modificações nas malhas aéreas decorrentes das restrições no Santos Dumont, exercendo impacto na demanda e na oferta nos aeroportos”, acrescenta.
Em meio a esse cenário, o Galeão conseguiu aumentar as suas operações, sem retomar ainda o nível pré-pandemia, indicam os dados da agência.
Em outubro, o aeroporto internacional movimentou 453 mil passageiros domésticos, entre embarques e desembarques. Trata-se do maior número mensal registrado ao longo de 2023. A alta foi de quase 49% em relação a setembro (304,1 mil).
Apesar do avanço, o patamar de outubro corresponde a somente 58,1% da movimentação doméstica verificada no Galeão em igual mês de 2019 (779,8 mil), no pré-pandemia, ainda conforme a Anac.
O aeroporto da zona norte do Rio também seguiu recebendo menos passageiros de voos nacionais do que o Santos Dumont, que opera apenas trechos dentro do Brasil.
Considerando somente as rotas internacionais, o Galeão recebeu 303,2 mil usuários pagos em outubro. O número de passageiros nesse segmento cresceu 7,4% ante setembro (282,2 mil).
A redução das operações do Santos Dumont é uma resposta do governo federal à pressão de políticos do Rio, como o prefeito Eduardo Paes (PSD) e o governador Cláudio Castro (PL). Eles entendem que o inchaço recente do Santos Dumont contribuiu para o esvaziamento do Galeão nos últimos anos.
Na visão das lideranças locais, o empreendimento da zona norte precisa de mais voos domésticos para ampliar a sua malha e, assim, atrair novas rotas internacionais.
“A coordenação dos aeroportos oficializada pelas autoridades públicas possibilita que o Rio de Janeiro explore todo o seu potencial turístico e econômico, contribuindo também com o desenvolvimento do Brasil”, disse a concessionária responsável pelo Galeão, a RIOgaleão, controlada pela Changi, de Singapura.
“Aeroportos internacionais fortes e bem conectados funcionam como verdadeiros motores da economia, trazendo turismo e negócios para suas regiões de influência. Esse é um grande passo que a cidade está dando para voltar a operar como um dos principais hubs de aviação civil do país”, acrescentou a companhia.
SANTOS DUMONT TERÁ LIMITE DE 6,5 MILHÕES DE PASSAGEIROS POR ANO
Em agosto, o Ministério de Portos e Aeroportos chegou a anunciar que o Santos Dumont operaria somente voos com distância máxima de 400 quilômetros a partir de janeiro de 2024. A ideia, contudo, acabou revogada neste mês de novembro, após críticas de especialistas e usuários.
No lugar dessa medida, haverá a fixação de um limite anual de 6,5 milhões de passageiros para o Santos Dumont, também a partir de janeiro de 2024, segundo o ministério. Ou seja, a restrição a partir do próximo ano será por número de usuários, e não por origem ou destino dos voos.
Os aeroportos cariocas são separados por aproximadamente 17 quilômetros. A contagem de passageiros feita pela Anac guarda algumas diferenças em relação aos dados da Infraero sobre o Santos Dumont. Ambas, no entanto, apontam para a mesma direção.
Em seu site, a Infraero divulgou que o Santos Dumont recebeu quase 857,3 mil passageiros em outubro, 19,7% a menos do que em setembro (1,07 milhão) -o percentual de queda é o mesmo sinalizado pelas estatísticas da Anac.
De acordo com a Infraero, o número mais recente é o menor para o décimo mês do ano desde 2021 (688,5 mil) -também é a mesma situação indicada pelos dados da Anac.
O Santos Dumont fica ao lado de negócios instalados no centro do Rio. Também está próximo de pontos turísticos como o Pão de Açúcar e as praias de Copacabana e Ipanema, na zona sul. A infraestrutura, porém, é menor do que a do Galeão.
O aeroporto internacional fica na Ilha do Governador. Com capacidade maior de operação, o Galeão também exerce papel relevante no transporte de cargas do estado.
Parte dos usuários, contudo, reclama de uma dificuldade maior de acesso ao terminal. Essas queixas voltaram a aparecer em meio ao debate sobre as restrições no Santos Dumont.
O acesso ao Galeão é feito por vias como a Linha Vermelha. Passageiros citam engarrafamentos e apontam uma sensação de insegurança devido a casos de violência urbana na região.
LEONARDO VIECELI / Folhapress