SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os dados de doações e transplantes de órgãos no primeiro trimestre de 2024 no Brasil mostram uma queda em relação às projeções e ao ano anterior. Há um aumento na taxa de notificação de potenciais doadores, mas uma menor efetivação de doação 2,1% menor do que em 2023 e 8,5% abaixo da estimativa.
Foram realizados 2.104 transplantes de órgãos (excluindo medula e córnea) de janeiro a março deste ano. No mesmo período do ano passado foram 2.023 transplantes realizados.
Em 2023, o número total registrado foi de 29.261 transplantes em todo o território nacional, representando o maior número já registrado na história do país e um aumento de 11% em comparação com os procedimentos realizados em 2022.
“Após um ano extraordinário, com taxas de doação e transplante superiores às previstas, fomos surpreendidos, neste trimestre, com uma queda nesses indicadores, quando comparados com os obtidos em 2023 e, principalmente com, as taxas projetadas para 2024”, diz o médico Valter Garcia no relatório de Registro Brasileiro de Transplantes, da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos).
A taxa de doadores efetivos reduziu para 19,1 por milhão de pessoas (pmp), marcando uma queda de 4% em comparação com o ano anterior e situando-se 9% abaixo do esperado para este ano.
Há também uma diminuição nas taxas de efetivação da doação, que atingiram 27,4%, e na de doadores efetivos, com este declínio sendo evidente tanto na comparação anual quanto em relação às expectativas para 2024.
Um problema apontado pelo levantamento é que as negativas familiares e contraindicações médicas casos onde, mesmo se houver desejo do potencial doador, esse transplante é rejeitado ficaram acima das projeções, alcançando 43% (contra 40%) e 18% (contra 16%), respectivamente.
O estudo aponta ainda que a taxa de transplante renal teve uma redução de 7,7% em relação a 2023, registrando 27,5 doações pmp (-14,1% do previsto para 2024). O mesmo é observado na taxa de doadores vivos e falecidos, com declínios de 9,5% e 8% em relação a 2023, respectivamente.
A diminuição se repete em relação ao fígado, houve declínio de 7,9% em relação ao ano anterior, alcançando uma taxa de 10,5 pmp. O cenário muda em relação aos transplantes cardíacos, que aumentaram 9,5% em relação a 2023, chegando a 2,3 pmp, mas ainda 4,2% abaixo das projeções para 2024.
O transplante de pulmão, que varia muito devido ao baixo volume de casos, aumentou 66,6% em relação ao ano anterior, mas também ficou 37,5% abaixo da meta para este ano.
Os transplantes de fígado em 2024 chegaram a 535, sendo que em 2023 foram 2.379. Esse número foi o menor nos últimos 10 anos, já que em 2014, foram 1.758. Para outros órgãos, como o rim, que tem o maior índice de doações, em 2024, foram notificadas 1.396 transplantes no Brasil, contra 6.050 de 2023.
Em relação aos estados, Paraná, Rondônia e Santa Catarina possuem as maiores taxas de doação. Mas, os índices de transplantes específicos como renal e hepático mostram uma redução tanto em doadores vivos quanto falecidos em relação ao esperado para 2024.
“Portanto, os resultados deste trimestre foram decepcionantes, pois se esperava manter o crescimento obtido no passado, mas há tempo suficiente para reverter esse quadro e o objetivo passa a ser para o primeiro semestre atingir, pelo menos, as taxas de 2023, e para o 2º semestre alcançar a projeção para o ano”, diz Garcia ao finalizar sua apresentação do estudo.
O estudo mostra que a fila de espera para doação no Brasil, entre órgãos sólidos e tecidos, soma 62.347 pacientes ativos, contra 61.339 de 2023. Com base nos dados de 2023, a meta da ABTO é alcançar 30 doadores de órgãos por milhão de população em um período de seis anos.
RAÍSSA BASÍLIO / Folhapress